Educação Financeira
Saia do sinal vermelho das dívidas
Se há um assunto que poucos ou ninguém gosta é de falar quando o assunto é ter dívidas com alguém ou com uma empresa. O chamado “kilapi”, da nossa língua regional Kimbundo. Geralmente, provoca constrangimentos, doenças e crises nervosas e no limite até a cometer suicídios. Por outro lado, pela vergonha social, muita gente considera um problema pessoal e confidencial, que não precisa ser compartilhado com ninguém.
Por onde devemos começar?
– Primeiro que tudo é não chegar ao ponto de incumprimento ou inadimplência. Quando se chega a este estágio, muitas das vezes, a causa é a acumulação de dívida e a formação de dívida sobre dívida.
– Segundo, perante um facto de “kilapi”, é reconhecer que se é devedor(a). Entrar em estado de negação, gera os problemas do ponto acima. Reflitca sobre a situação e assuma uma postura firme em relação ao que está a acontecer. De seguida, faça contas do que ganha, dos custos fixos e os variáveis (em média) por mês. Além disso, não se esqueça das despesas fortuitas, eventuais, que quase sempre são de pequeno valor: dinheiro de ofertas no estacionamento, lavagem do carro, pequenos favores de transporte de sacos plástico com compras de supermercado, etc. Se o puder fazer numa folha A4 em branco, para primeiro borrão, é excelente e depois passar para uma folha de cálculo/planilha de “Excel”.
– Com tudo isso registado, é hora de apontar as dívidas que estão fora de controlo, aquelas que estão inadimplentes. As que já estão atrasadas no pagamento. Separe uma categoria na planilha somente para elas e não se esqueça de anotar nada.
– E agora, como vai resolver a situação? Pode e deve começar por verificar, se existe algum dinheiro guardado. Essa é uma boa hora, por exemplo, para usar aquela reserva feita para imprevistos. Depois, é só começar de novo. Se for necessário, pare de guardar essa quantia durante o pagamento das dívidas, mas não se acostume. Assim que tudo estiver sob controlo, retome esse hábito.
– Outra atitude é ir lá nas despesas esporádicas e ver o que é possível cortar. Digamos que você costuma ir ao cinema duas vezes por mês, com direito a uma refeição depois do filme, e que também faz um «happy hour» por semana com os colegas de trabalho. No momento do aperto, esses são alguns programas que devem ser cortados. Para não sofrer muito, lembre-se que é temporário.
– Também é possível ver se nos gastos básicos não dá para economizar. É claro que não estamos dizendo para você parar de tomar banho ou deixar de comer, não é isso. Estamos apenas a pedir para rever algumas acções, como reduzir o tempo no chuveiro, apagar as luzes quando não estiver no ambiente e, até mesmo, trocar a marca de um produto no supermercado por uma mais barata. Essas atitudes, inclusive, podem se tornar hábitos e gerar economia o ano todo.
– Não podemos esquecer que nesse primeiro momento também é imprescindível não fazer novas dívidas. Assim como você assumiu uma postura firme e resolveu encará-las de frente, também é preciso mentalizar que agora não é o momento de comprar, de fazer novos boletos e estourar o cartão de crédito.
– E, quando são dívidas em montante alto, como aos bancos? Quando a situação é pior do que imaginamos, é hora de pedir ajuda externa. Há várias formas de auxílio, vale até bater na porta dos pais e pedir esse socorro momentâneo. Porém, nem sempre a família pode nos amparar. Então, destacamos três maneiras de sair do sufoco por conta própria: venda de um bem, renegociação e empréstimo.
1 – Venda de um bem
À primeira vista pode parecer algo mau ter que vender algo que você lutou tanto para comprar. No entanto, essa é a forma mais eficaz de resolver um problema de inadimplência, pois é possível quitar toda a dívida e, melhor ainda, não ficar devendo nada para ninguém. Daí você me pergunta: o que eu posso vender? A resposta é simples: depende do tamanho da sua dívida.
Se for uma dívida maior, como as prestações de uma casa ou uma emergência médica, você pode optar por vender o carro ou a moto ou, caso tiver, algum joia de valor. O importante é colocar na balança o que vale mais e o que vai deixá-lo com menos dor de cabeça.
2 – Renegociação
Essa modalidade de crédito é interessante tanto para o devedor quanto para o credor. Para quem deve, a vantagem é não criar uma segunda dívida para pagar a primeira, ou seja, a dívida continua ali, mas agora com termos e valores diferentes. Para quem precisa receber, o benefício está em finalmente ter o dinheiro do que foi vendido em mãos.
Normalmente, ouvimos falar em renegociação quando uma dívida existe há alguns anos e o credor, para reaver aquilo que dava por perdido, oferece algumas conveniências para o devedor, como desconto para pagamento à vista e parcelamento no valor inicial sem juros. Há casos em que o abatimento pode chegar a 60% ou 70%. A regra é: mais vale algum dinheiro do que dinheiro nenhum.
3 – Empréstimo
Não há muito segredo em relação ao empréstimo, mas há situações em que ele é mais recomendável que outras. Se você tiver várias dívidas e cada uma delas com juros diferentes e elevados, emprestar dinheiro para quitá-las de modo integral (todas as parcelas) a juros mais baixos é uma alternativa interessante, desde que o valor único caiba no seu orçamento. Por isso, antes de finalizar o empréstimo, veja se ele está de acordo com os seus rendimentos.
Agora, se a ideia é usar o dinheiro para pagar prestações de apenas um mês, comprar algum produto não essencial ou simplesmente ter algum no bolso, não vale a pena. Além dos juros, que estão no mesmo patamar da renegociação, você vai acrescentar uma nova dívida na sua planilha. E é justamente isso que não queremos, certo?
Mas se for realmente necessário pegar um empréstimo, precisamos fazer um alerta: preste atenção na oferta de dinheiro fácil. Há muita dessas financeiras e empresas que «acenam» com juros mais baixos que a média do mercado, mas exigem inúmeras garantias. No fim pode haver a possibilidade de ficar com uma dívida maior e, pior, por vários anos. Procure o seu banco, que geralmente terá um juro menor, ou alguma instituição idónea, com uma reputação respeitada no mercado e lhe garanta uma prestação que pode pagar, de preferência com taxa de juro fixa.
Daniel Sapateiro
Economista e docente universitário