África
Ruanda vs RDC: antes do envio militar a Kinshasa deve-se saber com quem se vai lutar
De modo oficial, algumas capitais ocidentais, com destaque para Berlim e Londres, manifestam-se contra o apoio já comprovado pela ONU, que Kigali está a estender ao grupo rebelde M23 na RDC. Apesar das ameaças públicas ocidentais, Paul Kagame, que administra um país sem capacidade de autossustento, finge não ouvir, o que denuncia haver uma garantia poderosa por baixo da mesa.
Os equipamentos técnico, tecnológico, bélico e até parte significativa do alimento de uso no Ruanda provêm do exterior, o que torna o Ruanda, à semelhança de outras Nações africanas, de mãos atadas quando a intenção é agir verdadeiramente de modo independente.
Em face dessa realidade, parece que a opção do Ruanda em manter o apoio ao Movimento 23 de Março (M23), que combate o Governo da República Democrática do Congo (RDC), é desavisada. Mas isso é somente uma percepção.
O Ruanda tem um Serviço de Inteligência com capacidade reconhecida de colecta de informações que não lhe permite cometer este tipo de falha, que acabaria por colapsar o país.
A Organização das Nações Unidas (ONU) já não tem dúvidas sobre quem financia o M23, e denunciou-o em extenso relatório em 2024. No documento, peritos da ONU concluíram que o Ruanda não só fornece equipamento militar, como também orienta, e possui homens no teatro das operações que variam entre três e quatro mil militares.
Países ocidentais também denunciam Paul Kagame e o Ruanda, e ameaçam com sanções.
Em resposta, Kigali não treme, pelo contrário, alegadamente mantém o apoio ao M23, grupo que já ocupa vasta zona mineira na RDC, e avisa ainda a África do Sul de que está disposto a uma confrontação militar entre os dois países, caso seja este o objectivo do Governo sul-africano.
Entretanto, está claro o objectivo e foco da Administração de Paul Kagame. E em diversos países da região, como em Angola, por exemplo, vários cidadãos sugerem o envio das Forças Armadas, visando ajudar a RDC a repelir o M23 e por extensão o Ruanda.
Em relação a essas reacções a quente, vale referir que, não seria avisado que algum país africano enviasse um contingente militar para derrotar o Ruanda e o M23 na RDC, sem apurar realmente com quem estará a lutar.
Não é e nem pode ser real que o Ruanda, caso esteja mesmo a apoiar o M23, mantenha as suas fichas apostadas ao referido grupo rebelde, sem a chancela informal, no mínimo, de alguns Estados ocidentais.
De modo público, países ricos e poderosos, europeus e americanos, criticam e ameaçam o Ruanda, o que aparentemente os exonera de qualquer suspeita, mas é preciso que os Serviços de Inteligência africanos façam o trabalho de casa antes de se enviar um contingente militar com orientação específica.
A sugestão, entretanto, defendida por alguns sectores de África, não significa que países africanos não possam participar de uma briga em que do lado oposto estejam forças ocidentais, significa apenas que se deve claramente saber com quem de facto está-se a lutar, visando evitar surpresas desagradáveis, que podem ser económicas, de terrorismo interno, e entre outras…