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Revelações: Abel Chivukuvuku estava criar novos partidos com dinheiro da CASA-CE

Indicado recentemente pelos partidos políticos para substituir Abel Chivukuvuku na liderança da CASA-CE, nesta sua primeira entrevista concedida ao jornal O PAÍS, André Mendes de Carvalho “Miau” falou das principais razões que pesaram no afastamento do seu antecessor e aponta caminhos para levar a coligação a bom porto

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O Correio da Kianda retoma a entrevista concedida a OPAIS.

Em que circunstâncias o senhor assume a liderança da CASA-CE?

Eu assumo a liderança da CASA-CE numa circunstância um pouco problemática para a coligação. Como é do vosso conhecimento, a CASA-CE tem como membros seis partidos políticos. Cinco destes partidos realizaram uma conferência de imprensa na Terça-feira passada, onde, por razões de quebra de confiança existente entre eles e o ex-líder da CASA-CE, doutor Abel Chivukuvuku, resolveram pôr termo a vigência do mandato deste e indicaram- me para substituir o anterior presidente.

O que lhe levou a aceitar este desafio em circunstâncias problemáticas?

Bom, sendo eu conhecedor da crise profunda que a CASA-CE está a atravessar, acedi ao pedido que me foi feito pelos seis partidos. E assumi-o com o sentido de missão e com muita responsabilidade.

Sente-se premiado com este cargo, senhor deputado?

Assumir esta responsabilidade não é nenhum prémio, pois não é que eu venha ganhar mais ou ter esta ou aquela mordomia, não. Eu estou a assumir e estou consciente de que estamos a viver uma situação crítica e vai ser difícil manter a chama acesa da CASA-CE e levar este navio a bom porto. Mas me proponho a dar o máximo de mim mesmo, dar o meu saber nesta missão, e estou convencido que com a colaboração de todos os membros e militantes vamo-nos sair bem.

Abel Chivukukuvu já ligou para si para felicitá-lo neste seu novo cargo?

Não! Não trocamos telefonemas e não nos visitamos. Mas eu percebo que é um momento crítico para ele, muito difícil, por isso temos que dar tempo ao tempo para quando nos encontrarmos encararmos esta transição com normalidade, porque ele empreendeu muito esforço no levantamento desta coligação. Está à frente dela aproximadamente sete anos, e a hora do adeus ao doutor Abel não é um bom momento: então vamos deixar que os ânimos serenem e depois tudo se resolverá.

Foi fácil aceitar este desafio de dirigir esta nova CASA-CE?

Eu já vinha sendo sondado neste cargo há mais de um ano. A primeira vez deveu-se ao facto de Abel Chivukuvuku, numa actividade que teve lugar no Cine São João, no Bairro Popular, ter dito que se não houvesse a transformação da CASA-CE em partido político, ele abandonava a coligação. Esta foi a primeira vez que os partidos políticos contactaram a minha pessoa, e que se Abel abandonasse a coligação eu estaria disposto a assumir o lugar. Bom, eu lhes disse que se ele saísse os partidos políticos estavam no seu direito de arranjar o seu substituto, mas eu não disse se aceitaria ou não, pois não era o momento ideal.

Mas a partir daquele encontro do Cine São João as coisas foram se agravando?

Sim. Os partidos políticos e o presidente da coligação estiveram pelo menos três vezes no Tribunal Constitucional, para tentar dirimir diferenças, até ao ponto de chegarmos ao que se chegou. Também deixe-me dizer que participei numa reunião dos independentes convocada pelo senhor Abel Chivukuvuku, no meio desta turbulência, já tinha saído o acórdão do Tribunal Constitucional a favor dos partidos e os independentes ficaram desgostosos.

Esta sentença não foi bem acolhida pelos independentes?

Durante a reunião, o presidente tinha anunciado a fundação de um outro partido, enquanto outros diziam que iam se pagar as dívidas que se tinha e depois abandonar a CASA-CE, enfim, havia um discurso de implosão da CASA-CE.

E o senhor não disse nada nesta reunião?

Quando chegou a minha vez de falar, como gosto praticamente falar no fim, eu disse que não ia deixar que a CASA-CE fosse implodida, por todo o sacrifício que já tínhamos passado e em honra à memória dos nossos colegas que já tinham morrido, pois não era bom que a CASA-CE morresse. Eu reiterei que do que dependia de mim nunca deixaria morrer a coligação.

Isto demonstra que há uma crise profunda que vem de longe?

Sim. Mas estou a cumprir o que havia prometido, pois não deixaria morrer a CASA-CE, mas mante-la de pé e continuar com aqueles que querem ficar, tanto os filiados nos partidos como os independentes. Como sabe, eu também sou independente.

Há quem diga que, além do afastamento do senhor Abel Chivukuvuku, foram expulsos outros membros?

Nós não expulsamos ninguém, isto é um falso problema. O problema reside na mudança dos secretários provinciais executivos que deixaram os seus cargos por uma simples razão.

Qual é a razão, senhor presidente da CASA-CE?

Anteriormente, todos os secretários executivos provinciais provinham dos independentes, e os partidos políticos disseram que as coisas não podiam continuar assim e que tinham que trabalhar na base de quotas. Cada partido iria indicar em três províncias os seus secretários provinciais e os independentes iriam fazer a mesma coisa, ou seja, ficariam com duas ou três províncias. É com base neste critérios que foram exonerados os anteriores secretários.

Então, ninguém foi expulso…

A CASA-CE está num processo de reestruturação e neste processo esses quadros serão encaixados para trabalhar noutras estruturas internas da coligação. Portanto, todo o mundo é bem vindo, e ninguém está a correr com ninguém. Não se trata de uma questão em que os partidos não queiram os independentes, não. Todo o elemento que teve os valores e os princípios da CASACE pode ficar, e termos a confiança que todos juntos levaremos este barco a bom porto.

Além do acórdão do Tribunal Constitucional, o que terá pesado para o afastamento do senhor Abel Chivukuvuku?

Falta de confiança, e as razões estão espelhadas no documento lido na conferência de imprensa, e uma delas é a criação dos partidos políticos PODEMOS-JA e o DIA no seio da coligação sem autorização, e ainda por cima com os fundos da CASA-CE.

Sendo vice-presidente da coligação, o senhor não sabia nada da criação destes partidos?

Não. Eu acabei por saber de um parente meu que conduz a minha viatura. Ele era coordenador de um núcleo do Cazenga e um dia veio ter comigo e disse: avô, o secretário municipal executivo do Cazenga deu-me outras fichas para a criação destes partidos. Eu agarro uma destas fichas e acabei por saber que estava a ser criado dentro da coligação.

E não falou com o senhor Abel Chivukuvuku sobre o assunto?

Ele disse que não sabia, etc, etc. Mas acabei por saber, na ocasião, que era partido dele. E isso que se passou comigo também passou-se com os outros dirigentes e membros.

Como é que foi a sua relação de trabalho com o seu antecessor na liderança da CASA-CE?

Nos últimos tempos não foi boa, e vou dar um exemplo: Na qualidade de responsável do acompanhamento do secretariado executivo da CASA-CE de Luanda, tinha marcado uma reunião com os membros, mas para a minha surpresa só encontro três: Os restantes tinham ido a uma outra reunião paralela com o presidente Abel. Quando perguntei, a informação que obtive foi de que se todos participassem eu ía lhes fazer a cabeça.

Já não havia confiança entre os dois?

Segurei no telefone e liguei para ele, mas negou dizendo que nem sequer conhecia os secretários excutivos municipais. Bom, achei isto como uma aberração, porque ele tinha um programa que se chamava “sete sete”, que era percorrer em cada semana um município de Luanda. Agora, dizer que não conhecia os secretários municipais executivos, isto não é verdade. E isto tudo derivava do desejo de transformar a coligação em partido político.

Porquê não aconteceu esta transformação?

Só ocorreria se todos os partidos políticos estivessem de acordo, o que não aconteceu. E assim as coisas foram-se mudando, e, ultimamente, começamos a ver alguns deputados que vieram com ele da UNITA para a CASA-CE, como é o caso da esposa dele, dos deputados Carlos Candanda, Lindo Bernardo Tito e Odeth, que passaram a exercer uma espécie de revolta dentro do Grupo Parlamentar.

Mas qual é a razão desta revolta?

Acho que é ainda à volta da decisão do Tribunal Constituciional que esvaziou a função do presidente do Conselho Presidencial para um simples coordenador da coligação. E isto afrouxou o presidente Abel, sobretudo nas suas intervenções.

É verdade que o senhor Chivukuvuku queria substitui-lo do cargo do presidente do Grupo Parlamentar?

Sim. Ele tinha contactado o vice- presidente Manuel Fernandes para este cargo, mas este recusou dizendo que eu estava aí, mas insistiu que ele dissesse se o companheiro estava disposto ou não. É assim que surge esta rebeldia no Grupo Parlamentar.

Quais os desafios que tem pela frente, enquanto novo líder da CASA-CE?

Reunir todos, trabalhar com todos para atingirmos os nossos objectivos, sobretudo nas eleições gerais de 2022, onde pensámos obter mais deputados para corresponder aos anseios dos nossos eleitores, mas também temos as autarquias locais onde pensámos ganhar o maior número de municípios para administrar.




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