Ligar-se a nós

Politica

RDC: o que João Lourenço deve dizer olho no olho a Kagame?

Publicado

em

A ONU já não tem dúvidas, o Ruanda de Paul Kagame tem apoiado os rebeldes do M23 com homens no terreno e material militar. Entretanto, pelo menos daquilo que é público, Luanda, a capital líder dos Grandes Lagos, procura mediar o conflito sem impelir directamente Kigali a parar com o cinismo e sair do território vizinho. Ao Correio da Kianda, fonte junto da representação diplomática do Ruanda em Angola sublinha que o único responsável da instabilidade da RDC é a sua “fraqueza de inteligência”.

Há muito que o Presidente João Lourenço procura parar com a crise de segurança e as divergências com potencial de conflito militar aberto entre a República Democrática o Congo e o Ruanda. O Chefe de Estado angolano tem se dedicado a mediação dessa divergência com o mesmo afinco que se dedica as questões nacionais, como construção de infra-estruturas, educação e saúde, bem como outras crises ligadas à inflação, desvalorização da moeda, desemprego e outras.

Entretanto, talvez seja hora de os angolanos, os contribuintes dos gastos feitos pelo Executivo para todas as frentes, ter alguma palavra a dizer, dada a sensação de que os esforços do principal gestor dos bens públicos angolanos não estejam a ser levados a sério por parte de alguns dos envolvidos.

A República Democrática do Congo (RDC) está atolada com o grupo rebelde Movimento 23 Março (M23), que já controla parte significativa do norte daquele país que partilha uma vasta fronteira terrestre e marítima com Angola.

Félix Tshisekedi, o presidente da RDC, acusa o vizinho Ruanda de estar a alimentar o referido grupo rebelde, na obtenção de armas e treinamento. Paul Kagame, presidente do Ruanda, que a semana passada voltou a ser reeleito num processo eleitoral em que obteve 99,18% dos votos validamente expressos, nega as acusações de seu homólogo congolês.

E lá está Angola sempre na linha da frente visando mediar o conflito. A 06 de Julho de 2022, foi aprovado na capital angolana, o Roteiro de Luanda, durante a Cimeira Tripartida da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos. O Roteiro de Luanda é um documento que aponta, entre outros objectivos, caminhos para a normalização da relação entre a RDC e o Ruanda, bem como o fim das hostilidades.

A referida Cimeira já foi antecedida por outras reuniões igualmente relevantes, sempre organizadas por Angola, e João Lourenço a encabeçar como mediador.

Apesar de todo este esforço, que para diferentes segmentos em Angola, acaba por desgastar a imagem do país e de seu Chefe de Estado, face ao tempo que se arrasta, o conflito não para, pelo contrário, tem potencial para agravar-se ainda mais.

Diferente de Angola, a Organização das Nações Unidas (ONU) já não tem dúvidas quanto ao responsável pelo fortalecimento do M23 na RDC. Num relatório recente, os peritos da ONU concluíram que cerca de 3.000 a 4.000 soldados ruandeses combatem ao lado do M23 no leste da RDC, e que Kigali tem “controlo de facto” das operações dos rebeldes.

De referir que a província do Kivu Norte está sob o domínio do M23 desde o final de 2021, com o grupo a apoderar-se de áreas do território da região e a instalar um regime paralelo nas zonas actualmente sob o seu controlo.

O relatório da ONU diz que o “controlo e direcção de facto do exército ruandês sobre as operações do M23” torna o país “responsável pelas acções do M23”.

De acordo com o documento, as intervenções e operações militares das Forças de Defesa do Ruanda (RDF) em áreas do Kivu do Norte, “foram fundamentais para a impressionante expansão territorial alcançada entre Janeiro e Março de 2024” pelo M23, tendo ainda referido que o número de tropas ruandesas “igualava, se não ultrapassava”, o número de soldados do M23, que se pensa ser de cerca de 3.000.

Uma fonte da representação diplomática do Ruanda em Angola acusa o governo da RDC de ser o responsável pela insegurança do país, pelo facto de, no seu entender, investe pouco na segurança, inteligência e boa governação.

Entretanto, a 15 de Julho, o Governo angolano, através de Téte António, ministro das Relações Exteriores, voltou a apontar a reactivação e o cumprimento do Roteiro de Luanda para o alcance da paz na RDC. E uma pergunta continua por se responder: o que João Lourenço deve dizer olho no olho a Kagame?




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD