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RDC e M23 reunidos em Doha – estará João Lourenço sozinho na dignificação africana?

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Analistas anteviram os desafios para João Lourenço tão logo assumiu a presidência da União Africana. Mas há um desafio que não foi previsto na altura, o menosprezo do mundo exterior à África em relação ao continente. No seu discurso diante da presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, que esteve de visita a Angola, João Lourenço sublinhou que a União Africana é a única “entidade competente para indicar, acompanhar e apoiar a mediação” dos conflitos em África. Porém, a RDC, o M23 e o Ruanda continuam a negociar cessação das hostilidades sob mediação do Qatar, uma Nação do sudoeste asiático, que não teve mandato da maior organização política do continente.

De acordo com uma publicação da Reuters, equipas de negociação da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) estiveram outra vez em Doha, no Qatar, para negociação a paz, sob mediação daquele país anfitrião.

Já antes, o presidente da RDC, Félix Tshisekedi; e o seu homólogo do Ruanda, Paul Kagame, estiveram reunidos em Março, no Qatar, sob mediação do emir Tamim bin Hamad Al Thani.

Da referida reunião, sabe-se que os dois líderes africanos reafirmaram o empenho num cessar-fogo “imediato e incondicional”.

“Os chefes de Estado concordaram então com a necessidade de prosseguir as conversações iniciadas em Doha, a fim de estabelecer bases sólidas para uma paz duradoura”, disseram os três líderes no comunicado final do encontro.

Importa referir que Félix Tshisekedi e Paul Kagame deviam ter-se encontrado numa cimeira de paz em Dezembro, em Luanda, depois de um acordo de cessar-fogo assinado na capital angolana em Julho último.

Portanto, o encontro entre os dois presidentes em Doha, ocorreu no mesmo dia em que estava previsto o início de um diálogo de paz directo entre a RDC e o M23, em Angola. Ou seja, estava em Luanda uma missão da RDC, a aguardar pela vinda do M23, enquanto Tshisekedi estava reunido com Kagame, no Qatar, sem o conhecimento do Presidente angolano, o medianeiro do referido conflito militar.

Entretanto, essa opção de se recorrer a líderes de fora do continente para a solução dos problemas internos, contrastam com a posição manifestada por João Lourenço, igualmente presidente da União Africana, que, nesta semana, diante da presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, que esteve de visita a Angola por dois dias, sublinhou que competia apenas à União Africana “indicar, acompanhar e apoiar a mediação” dos conflitos em África, em estreita colaboração com o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Entre outras coisas, apesar de ter em atenção de que o Qatar iniciou uma mediação do conflito que opõe a RDC, o M23 e o Ruanda, o Chefe de Estado angolano fez saber que tudo fará, com a nova mediação do conflito a nível do continente, para que o processo de “pacificação do leste da RDC e o restabelecimento das relações entre a RDC e o Ruanda continuem no quadro da União Africana”.

E dirigindo-se aos líderes e povos do continente, João Lourenço sublinhou que a África “deve estar atenta” aos “processos tumultuosos de reconfiguração geopolítica” onde a razão da força, segundo observou o Presidente angolano, está a se sobrepor e a prevalecer “sobre a força da razão e do Direito Internacional”, e pediu para que o continente assuma uma “uma postura que possa funcionar como um factor de equilíbrio e de defesa dos grandes interesses e objectivos” locais.




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