Economia
Queda no preço do petróleo acende alerta na economia angolana
Há dois anos, o economista chefe do Standard Bank, Fáusio Mussá, havia alertado os decisores angolanos e não só, durante a primeira edição do Economic Briefing 2024, de que o país tinha poucas chances de mobilizar investimento estrangeiro significativo visando viabilizar um aumento na produção petrolífera, tendo previsto momentos satisfatórios para a economia angolana caso não houvesse “surpresas negativas”, sobretudo no preço do ouro negro a nível internacional. Porém, os receios vieram a se concretizar, o preço do crude caiu para níveis abaixo de há 4 anos.
Os preços do petróleo continuaram em queda, e nessa segunda-feira, 07, tombou para os históricos 62,23 dólares. Os especialistas internacionais em matéria económica justificam a situação com a combinação de vários factores, como temores de uma desaceleração no crescimento global, a guerra comercial iniciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que alega estar apenas a ser recíproco, bem como o anúncio da Opep+, feito na quinta-feira passada de um aumento de produção de 411.000 barris por dia em Maio de 2025, significando o triplo dos 135.000 barris que o cartel havia anunciado inicialmente que reintroduziria naquele mês.
Donald Trump, entretanto, permanece inflexível em sua ofensiva alfandegária lançada na quarta-feira, que inclui uma tarifa mínima adicional de 10% e aumentos para determinados países, entre eles União Europeia (20%) e China (34%), o maior importador de petróleo do mundo.
Em face da presente realidade, as estruturas económicas angolanas podem estar sob stress, e não é para menos, tendo em conta que o petróleo é o mais importante produto angolano para o exterior, e com isso o segmento responsável pela entrada de maior massa monetária em divisas, e entre outros factores.
Há dois anos, por exemplo, o economista chefe do Standard Bank, Fáusio Mussá, havia alertado os decisores angolanos e não só, durante a primeira edição do Economic Briefing 2024, de que o país tinha poucas chances de mobilizar investimento estrangeiro significativo visando viabilizar um aumento na produção petrolífera, tendo previsto momentos satisfatórios para a economia angolana caso não houvesse “surpresas negativas” sobretudo no preço do ouro negro a nível internacional. Porém, os receios vieram hoje a se concretizar.
O que resta para Angola os economistas ainda não reagiram a propósito. O que é facto é que este incidente económico surge num período de igual retracção na produção petrolífera por parte de Angola, que busca, com investimentos feitos, alcançar os 2 mil barris dia.
Vale ainda recordar, entretanto, que Angola já teve dias melhores no que se refere a produção petrolífera. Registou um período de boom do petróleo, que se caracterizou pelo grande avanço na prospecção de poços, de 2000 a 2008, uma situação que teve a combinação com o preço do crude a roçar os 100 dólares, pelo menos até 2014, de acordo com os registos.
Portanto, para diferentes observadores, esse período do boom petrolífero foi mal aproveitado pelas autoridades angolanas. E a seguir veio ao de cima a hecatombe. Uma queda brusca no preço para 45 dólares em 2016, e tal como a combinação dos bons dias, também houve uma combinação nefasta para a economia angolana. Enquanto o preço do petróleo caía no mercado internacional, o país perdia igualmente a sua capacidade de produção, aumentando assim as dificuldades das famílias, o agente económico consumidor, que se viu forçado a ter mais massa monetária em posse para comprar bens e adquirir serviços.
E visando contrariar essa realidade, o país optou, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), por investir mais no sector petrolífero com a renovação de poços, tendo posto em funcionamento muitos dos poços que se encontravam estagnados, além de aprovar mais legislação com vista a atrair o empresariado estrangeiro.
Portanto, com a medida, a ANPG perspectiva alcançar uma produção que pode chegar entre os 2 milhões e 3 milhões de barris de petróleo por dia.