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África

Quantos mais devem morrer, Frelimo?

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Em Moçambique, cerca de três dezenas de pessoas já morreram em consequência das acções policiais nos protestos de rua que visam um único objectivo: a verdade eleitoral.

Diferente do que ocorreu com as eleições de 30 de Outubro em Gaborone, em que Duma Boko foi empossado Chefe de Estado em menos de 20 dias da eleição, bem como as eleições de Novembro em Washington, em que Donald Trump foi declarado vencedor, sendo que será investido em Janeiro de 2025, o processo eleitoral moçambicano continua em indefinição após mais de um mês de sua realização.

Quer Duma Boko (Botswana), quer Donald Trump (EUA), concorreram nos pleitos de seus países na condição de opositores, venceram, e os poderosos à frente das instituições do Estado os parabenizaram pela eleição.

O impasse que se verifica nas eleições de Moçambique resulta do facto de ter havido, propositadamente ou por falha humana, vários actos que sugerem fraude eleitoral a favor de Daniel Chapo, candidato presidencial pela Frelimo, o partido que governa o país desde a independência em 1975.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) não consegue, desde as eleições de 9 de Outubro, esclarecer as irregularidades constatadas.

O Conselho Constitucional, aonde deram entrada acções de contencioso eleitoral, chegou a dar, por exemplo, uma moratória de 72 horas à CNE, para explicar a discrepância do número de votantes entre as três eleições (presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais), mas o órgão foi incapaz de dar o devido esclarecimento.

Entretanto, por conta das falhas da CNE, que deram uma vitória demolidora a Daniel Chapo, com 70% dos votos, a população saiu à rua como nunca antes visto. Os níveis de protestos contínuos são uma clara demonstração da insatisfação popular.

Apesar da agressão policial feita através de tiros reais, de borracha e de granadas de gás lacrimogéneo, os jovens mantêm os protestos.

Venâncio Mondlane, o candidato presidencial pelo partido Podemos, que nas contas da CNE foi o segundo mais votado com 20% dos votos, insiste que venceu as eleições, e os jovens parece estarem mais de acordo com ele.

E juntos pedem uma única coisa: “verdade eleitoral”. Uma verdade que a Frelimo e a CNE demonstram não querer que seja alcançada, a julgar pelas suas recusa em tornar públicas as actas eleitorais que ambos têm em posse.

Persistentes, os jovens não arredam o pé dos protestos, e mais de três dezenas de manifestantes já perderam a vida.

O saldo de mortes seria um assunto que dominaria a agenda mundial, caso a situação ocorresse num país europeu, lugar onde é respeitada e valorizada até a vida animal.

Da parte da Frelimo esperava-se mais, diz-se nalguns sectores de África. Para diferentes segmentos, a Frelimo está a demonstrar ser uma organização pouco civilizada, que pouco ou nada se importa com a vida de seus concidadãos, senão pelo poder.

Mais de 30 pessoas morreram, e o que faz a Frelimo para travar essa sessão de raiva? Travar as mortes?

Pelo que diz Mondlane e seus seguidores, há um só caminho: o da verdade eleitoral.

Essa verdade é encontrada com a recontagem dos votos, comparação das actas ou, no pior das hipóteses, como já sugerem várias forças na oposição, a repetição das eleições, sem engenharias que viessem outra vez a macular o processo.

A Igreja Católica pediu a Frelimo para travar essa instabilidade com acções nada agressivas.

“Será difícil reprimir a vontade do povo que quer ser livre”, disse a Igreja Católica ao Governo moçambicano.

Como escreveu a Euronews, os bispos católicos da África Austral pedem ao executivo moçambicano que “aborde as causas da insatisfação” da população.

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), de que é membro também Angola, resolveu convocar uma reunião de emergência para o dia 16 para analisar a situação em Moçambique, enquanto a Conferência dos Bispos Católicos da África Austral (SACBC) enviou uma carta aos bispos moçambicanos a solidarizar-se com o seu pedido para que “as autoridades abordem as causas de insatisfação” dos manifestantes e “respeitem a vontade do povo moçambicano” – escreveu o órgão de comunicação europeu.

Enquanto os jovens continuam nas ruas, e a polícia a reprimir com força, com mortes à mistura, os líderes da Frelimo fazem gestão de tempo para ver se a situação se altere, quando deviam, por amor à patria e a seus governados, travar o caos que se encontra nas ruas.

E há uma pergunta que não se quer calar: quantos mais têm de morrer, Frelimo?




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