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Quando nada te preocupa
Tudo começou quando estávamos a “coca colar” no Cantinho da Juventude em Menongue, um espaço adjacente a Livraria Kimabambu que promete ser um lugar de sucesso, quando questionei ao meu interlocutor o que lhe preocupava, tendo obtido uma resposta inesperada. Ele afirmou que nada o preocupava. Mas como assim nada te preocupa?!
Há tempos escrevi uns “rabiscos” intitulado “Estou Preocupado”, durante o qual manifestei a minha preocupação cuja leitura remeto-vos se quiserdes saber o que ainda me preocupa. Agora confesso-vos que fiquei muito angustiado com o meu interlocutor devido a resposta que me dera.
Tal como sabemos que não estamos a viver no paraíso, como pode nada preocupar alguém? Não, não pode… ou estou a sonhar ou então as coisas mudaram sem que eu me apercebesse.
Mas será que as injustiças acabaram? Os problemas sociais de várias ordem como desemprego, prostituição, delinquência etc., desapareceram ou ficaram para o passado?
Digo-vos que quando ficamos indiferente com o sofrimento do outro ou dito de outro modo, quando a fome, a seca, a corrupção… não constituem uma preocupação em nós, então somos uns miseráveis mesmo com a acumulação de milhões em dinheiro ou outros bens materiais.
O que vos disse no parágrafo anterior, Augusto Cury in “Inteligência Multifocal”, diz de uma forma mais aturada e desenvolvida que “se acharmos que o problema do outro é de responsabilidade apenas da Sociedade, das instituições políticas e das instituições sociais em que ele está inserido, estando negando o fantástico salto da memória instintivo-genético para a memória histórico-existencial que financia a construção de pensamentos e a formação da consciência existencial, capazes de nos levar a compreender que, independemente das distâncias geográficas, culturais, raciais, políticas, somos uma única espécie.”
Na mesma obra referenciada, o autor Cury defende que “devemos cultivar a tolerância, a preocupação com o outro, o prazer de viver, aprender a se doar psicossocialmente sem esperar contrapartida do retorno”, indica claramente que o exercício mais nobre da cidadania acaba por ser aquele que se faz no silêncio, sem alardes, ou ainda o que se faz sem esperar a contrapartida do retorno.
Enriquecer apenas para si mesmo, excluindo toda e qualquer meta social, é uma mediocridade a todos os níveis mais sublimes da humanidade.
Mergulhando nos escritos de um outro autor, desta vez com Daniel Goleman in “Inteligência Emocional” que propõe-nos a ideia de que “quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então a nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível.”
Diz ainda este autor na mesma obra acima mencionada que “vivemos momentos em que o egoísmo, a violência e a mesquinhez de espírito parecem estar a fazer apodrecer a bondade de nossas relações com o outro”.
Preocupado com a falta de preocupação do meu interlocutor, comecei logo a meditar e a procurar fórmulas de como despertar a preocupação nas coisas por ele e não deixar a vida lhe levar como é dito numa canção brasileira, então apresentei-lhe aos mestres mudos, depois de um processo do hábito e gosto pela leitura, assim, se hoje o perguntares qual é sua preocupação duvido que a resposta será a mesma que de tanto estar preocupado hoje esquece-se de fazer a barba, vivendo como os filósofos clássicos.
Ora, com os fundamentos acima apresentados e baseando-me na escola filosófica helenista, nas minhas orações tenho pedido a Deus que me conceda serenidade suficiente para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem necessária para mudar as coisas que posso e sabedoria para distinguir uma da outra.
Mudando de direcção, agora o autor Renato Alves in “Faça Seu Cérebro trabalhar para você”, alerta-nos a abandonar a “Lei do mínimo esforço” cuja premissa reza que é melhor economizar enérgia que desperdiçá-la porque afirma o autor que estamos a ficar sedentários mentais, pois trocamos os exercícios pelas felicidades da vida moderna, da mesma maneira que trocamos exercícios físicos por elevadores, carros, escadas rolantes etc., diminuindo em medida a quantidade de movimentos em relação ao que fazíamos no passado.
Passe por todas as experiências possíveis, faça todos os cursos que desejar, viaje para todos os lugares, leia centenas de livros e ainda assim nem um terço da sua verdadeira capacidade você terá.
Mudada que está a direcção, a paragem é com o autor Donald Robertson in “Resiliência”, legando-nos que tudo o que interessa na vida é tentar ao máximo fazer o que você considera importante, independentemente de ter êxito ou não.
“Ouse ser sábio”, almeja a coragem e a resiliência para viver segundo os seus ideias”. E com a frase acima, despedimo-nos com a promessa de brevemente voltarmos para outras temáticas.
Que assim seja!
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Marcolino Manuel Baptista, jurista, licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola, na especialidade Jurídico-forense e Jurídico-económico. Actualmente é oficial do quadro permanente das FAA, exercendo a função de Fiscal para a Prevenção Criminal da Procuradoria Militar da 5ª Divisão Região Militar Sul (Menongue/Cuando Cubango).