Sociedade
“Quando a mulher sofre vários tipos de violência o lar torna-se desestabilizado”
Assinala-se hoje, 25 de Novembro, o Dia Internacional para Eliminação da Violência contra a Mulher. A data foi instituída pela resolução 52/134 da ONU, com o propósito de alertar para a violência física, psicológica, sexual e social que atinge as mulheres.
A violência contra as mulheres e as raparigas, continua a ser uma das violações dos direitos humanos mais frequentes e generalizados no mundo. A nível mundial, uma em cada duas mulheres foi vítima de violência física ou sexual cometida por um parceiro íntimo, ou sem que seja seu parceiro, pelo menos uma vez na vida.
Segundo o psicólogo Amâncio Emanuel Justino, a violência contra a mulher não é apenas uma agressão contra o corpo, mas sim uma agressão também psicológica, contra as emoções e contra a vida social desta pessoa. Disse ainda que face a este assunto, muitas questões são postas de parte, e chama a reflexão de todos para um dia como hoje.
“O local onde acontece a violência na maioria deles é no seio familiar e sendo uma família não composta apenas por pai e mãe, os filhos acabam por ser muito afectados por vivenciar e assistir estes actos dentro do seio familiar”, disse.
Chamou a atenção, igualmente, para o facto de cada episódio levar a transtornos psicológicos, emocionais e sociais, fazendo com que o indivíduo jamais volte a ser o mesmo e jamais consiga voltar a conviver em sociedade da mesma forma.
“Passa a ter o transtorno pós traumático que o impede de relacionar-se de forma saudável ou opta pela repulsa, ou ainda para conduta agressiva por conta do espelhamento. No cenário onde a mulher é vítima traz-se os elementos agressor, vítima e família”, considerou.
Para o sociólogo Pedro Tati, a questão da violência contra as mulheres tem como base problemas estruturais, pois está enraizada na desigualdade de género que se manifestam em diversos âmbitos, como cultural, sexual, social, político, económico e de natureza simbólica, e também do ponto de vista da psicologia.
“Há vários tipos de violência contra a mulher, onde esta violência representa um desequilíbrio, uma expressão de poder que ainda marca as relações entre homem e mulher”, lembrou.
O sociólogo olhou para o contexto angolano e africano dizendo que os tipos de violência mais comuns são de agressão física, maus tratos, violência sexual, onde o assédio está muito assente, o estupro, a violência psicológica que incluí a humiliação com questões voltadas a chantagem, as questões de controlo emocional e a violência económica.
“Muitas mulheres são impedidas de trabalhar e a mulher acaba por tornar-se mais submissa aos homens, fazendo com que elas sofram um conjunto de violências no seu dia a dia, sem poderem reivindicar por estarem completamente dependentes dos homens”, sinalizou.
Outro tipo é a violência simbólica, que ocorre quando as normas e os valores culturais, tendem a reforçar as questões de estereótipo de género, que perpetuam a submissão da mulher.
Quanto às consequências, o sociólogo disse que são multidimensionais, pois a violência não afecta simplesmente as vítimas, mas também o tecido social comum, estende-se no âmbito familiar e psicológico e tende, consequentemente, a desestruturar lares e a saúde doméstica.
“Quando a mulher sofre vários tipos de violência o lar torna-se desestabilizado”, frisou.
Falou ainda que a violência contra a mulher afecta também no desenvolvimento económico do país, por acabar por diminuir a participação das mulheres na vida pública, pois a perpetuação da desigualdade de géneros, também limita o progresso colectivo.
Para fugir do mal, o sociólogo defendeu que é necessário que “a educação seja a porta de mudança de atitude e as questões voltadas às políticas públicas, e que haja capacidade de investir nas questões voltadas à sensibilização que possam desconstruir normas culturais que promovam a igualdade de género”.
Por Judith da Costa