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Proposta de Trump faz lembrar golpe que palestinos tentaram realizar na Jordânia na década de 70

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Donald Trump sugeriu ao Egipto e à Jordânia para acolherem os palestinos em seus países, o povo que, desde 1947, continua sem um Estado reconhecido pela maioria dos países do mundo. Entretanto, a proposta do novo presidente dos EUA reabre uma ferida profunda aos líderes e povos jordanianos, que, na década de 1970, quase perderam o seu território pelos palestinos então acolhidos como refugiados em seu solo.

Os países árabes manifestam solidariedade para os palestinos, face ao que têm vivenciado às mãos dos israelitas. Mas, para lá da solidariedade e dó, muitos países árabes não querem ouvir falar em acolher palestinos em seus territórios, face ao período de terror que os palestinos, sob liderança de Yasser Arafat e da Organização de Libertação da Palestina (OLP), impuseram aos jordanianos há já cinco décadas.

E a mais recente proposta de Donald Trump para que a Jordânia ou o Egipto acolham “temporariamente ou a longo prazo”, cerca de um milhão e meio de palestinianos, parece ser uma sugestão de quem ignora a história e ou a desconhece.

De acordo com o Jornal Expresso português, a Jordânia tem no seu território tantos palestinianos como tem a Faixa de Gaza, e vir a receber 1,5 milhões levanta preocupações históricas. É que em 1970, cerca de dois terços da população jordaniana era palestina, e após a derrota dos árabes na Guerra Árabe-Israelense de 1967, ou Guerra dos Seis Dias, militantes palestinos participaram da Guerra de Atrito contra Israel. A guerra foi travada principalmente no Sinai entre as forças egípcias e israelenses. Mas a OLP também lançou ataques do Egito, Jordânia e Líbano.

Mas, aparentemente cansado da confusão em que se tornara o Médio Oriente, o então Rei jordaniano Hussein bin Talal, tido como um hábil diplomata, manifestou-se contrário ao uso de seu território pelos palestinos para ataque a alvos israelitas, além de ter apoiado a decisão do Egipto, então liderado por Gamal Abdel Nasser, de firmar um acordo de cessar-fogo com Israel.

Por três vezes, entre 9 de Junho e 1º de Setembro de 1970, Hussein escapou de tentativas de assassinato, a terceira vez que pretensos assassinos abriram fogo contra o Rei, enquanto este se dirigia ao aeroporto de Amã para encontrar sua filha Alia, que estava a regressar ao país, depois de uma viagem ao Cairo.

E entre 6 e 9 de Setembro, palestinos sequestraram cinco aviões, explodiram um e desviaram outros três para uma faixa deserta na Jordânia chamada Dawson Field, onde explodiram os aviões em 12 de Setembro. Entretanto, os sequestradores palestinos foram cercados por unidades do exército jordaniano. Embora Arafat tenha trabalhado para a libertação dos reféns, ele também soltou seus militantes da OLP contra a monarquia jordaniana. Seguiu-se um banho de sangue.

Dados indicam que até 15.000 militantes e civis palestinos foram mortos; faixas de cidades palestinas e campos de refugiados, onde a OLP havia acumulado armas, foram arrasados. A liderança da OLP foi dizimada e entre 50.000 e 100.000 pessoas ficaram desabrigadas. Os regimes árabes criticaram Hussein pelo que chamaram de “exagero”.

De referir que antes da guerra, os palestinos administravam uma espécie de Estado dentro de um Estado na Jordânia, com sede em Amã. Suas milícias dominaram as ruas.

Mas em 25 de Setembro de 1970, o Rei Hussein e a OLP assinaram um cessar-fogo mediado por nações árabes. A OLP manteve temporariamente o controle sobre três cidades – Irbid, Ramtha e Jarash – bem como o Campo Dawson (ou Campo da Revolução, como a OLP o denominou), onde os aviões sequestrados foram explodidos.

Mas os últimos suspiros da OLP foram de curta duração. Arafat e a OLP foram expulsos da Jordânia no início de 1971.

O Líbano também sofreu por acolher

Depois de expulsos da Jordânia, grupos palestinos foram para o Líbano, onde também criaram um Estado dentro de um Estado, armando uma dúzia de campos de refugiados palestinos ao redor de Beirute e no sul do Líbano , e acabaram por desestabilizar o Governo libanês, assim como fizeram com o Governo jordaniano, além de terem protagonizado duas guerras: a guerra de 1973 entre o exército libanês e a OLP, e a guerra civil de 1975-1990 , na qual a OLP lutou ao lado de milícias muçulmanas de esquerda contra milícias cristãs.

Entretanto, a OLP acabou igualmente expulsa do Líbano após a invasão de Israel em 1982. Além de semear a guerra civil e a desintegração do Líbano, a guerra jordaniano-palestina de 1970 levou à criação do movimento Palestino Setembro Negro, uma facção de comando que se separou da OLP e dirigiu vários planos terroristas para vingar as perdas dos palestinos na Jordânia, incluindo sequestros, o assassinato do primeiro-ministro jordaniano Wasif al-Tel no Cairo em 28 de Novembro de 1971 e, mais notoriamente, o assassinato de 11 atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique de 1972.

Reacção do Governo jordaniano à proposta de Trump

Em conferência de imprensa, em Amã, o ministro Ayman al Safadi, da Jordânia, defendeu a criação de um estado palestiniano, com base na solução de dois estados, e rejeitou a proposta de Donald Trump, que no sábado disse aos jornalistas, a bordo do avião presidencial, que as nações árabes deveriam receber mais refugiados da Faixa de Gaza, retirando potencialmente uma parte suficiente da população para “simplesmente limpar” o território.

No sábado, Trump disse aos jornalistas que mencionou o plano num telefonema com o rei Abdullah II da Jordânia e que falaria com o Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sissi.

“A nossa posição sobre a solução de dois Estados é firme, nunca muda. A nossa rejeição da expulsão (dos palestinianos) é firme, nunca muda”, afirmou o ministro jordano dos Negócios Estrangeiros.

O chefe da diplomacia da Jordânia referiu que o país “nunca se desviará” desta posição, que considera necessária para “alcançar a estabilidade, a segurança e a Paz” naquela região.

“Esperamos trabalhar com a governação norte-americana. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou com clareza que procura alcançar a paz na região. Estamos de acordo com ele nisso”, disse, sobre o fim do conflito.

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