Politica
“Principal desafio do MPLA é garantir a unidade”
A historiadora e antiga ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, defendeu que os principais desafios internos do MPLA são “a manutenção da unidade e também o aprofundar da relação entre os ideais que defende a sua aplicação prática no dia-a-dia da organização”.
Rosa Cruz e Silva, fez essas condenações quando falava sobre a trajectória do maior e partido no poder há mais de 40 anos, ao longo dos seus 64 anos desde a sua fundação.
“Os principais desafios do MPLA, quer para a vida interna, quer no que se refere à matriz ideológica, passam por garantir a unidade do partido em torno do seu líder e dos ideais que sempre defendeu”, acredita a antiga governante, em declarações enviadas, por escrito, ao Jornal de Angola.
Rosa Cruz e Silva disse, também, que o MPLA tem necessidade de “aprofundar a teorização da sua política com a actuação prática, numa adaptação que já se está a assistir na actualidade”.
Em termos de análise histórica, diz, já é possível olhar com uma perspectiva crítica sobre a transformação ou evolução de movimento de libertação (naturalmente alargado e sem grandes bases ideológicas, com o objectivo, não de conquistar o poder, mas garantir o fim do regime colonial) para o partido político (ou partido-Estado) no pós-independência. Essa trajectória, sublinha, também foi vivida pela UNITA e FNLA.
“A evolução de movimento de libertação para um partido-Estado corresponde a um contexto específico, o de Angola. A transição teve em conta a ideologia que seguiu durante a luta de libertação nacional, fundada nas teorias do socialismo”, explica Rosa Cruz e Silva.
Este processo foi acompanhado por um conflito interno, nomeadamente com FNLA e a UNITA, sobretudo porque a “influência exercida no processo angolano pelas duas potências mundiais (EUA e a URSS), que se batiam para garantir uma posição hegemónica nesta região do continente africano, prolongou deste modo a guerra que se viveu no país”.
Ainda assim, acrescenta Rosa Cruz e Silva, foi possível garantir a integridade do território, “não obstante a ameaça permanente do país do apartheid, a África do Sul, que não hesitou em invadir Angola”.
A política seguida pelo novo Estado independente “contrariava em absoluto” a manutenção do apartheid na região austral, daí que se tenha forçado uma solução militar e política, mercê de acções conjugadas de “reacção militar aos ataques da África do Sul, e de negociações com a UNITA, um processo em que participaram todos os protagonistas do conflito angolano, internos e externos (EUA, Cuba, URSS) e a antiga potência colonial”.
“O desfecho deste processo findou o sistema do apartheid na África do Sul e foi possível iniciar um processo de pacificação e reconciliação nacional em Angola, lançando-se as bases para o início da democratização do país e da sua recuperação socio-económica”, conclui a historiadora angolana.