África
Presidente da RDC convoca povo congolês para auxiliar na recuperação de Goma
“Chamo toda a nação, homens e mulheres, jovens e velhos, actores políticos, operadores económicos, membros da sociedade civil, artistas e atletas, a se mobilizar, a fazer blocos atrás das nossas valentes forças armadas e a contribuir, cada um a seu nível, ao esforço de guerra”.
Pouco depois das 23 horas desta quarta-feira, 29, (hora de Luanda), o Presidente da República Democrática do Congo falou pela primeira vez à Nação após a tomada de Goma, capital de Kivu-Norte, pelo Movimento 23 de Março, doze anos depois da cidade ter sido ocupada por dez dias pelos rebeldes do M23.
“O país, em particular as províncias de Kivu-Norte, Kivu-Sul e de Litori, enfrentam uma agravação sem precedentes da situação de segurança. As Forças de Defesa do Ruanda, em apoio da marionete do M23, continuam as suas operações terroristas em nosso território, semeando o terror e a desolação entre nossas populações. Com vocês, eu compartilho a dor e a indignação contra esses ataques bárbaros”, começou por dizer Félix Tshisekedi.
O Presidente da RDC, que esta quarta-feira reuniu-se com o seu homólogo João Lourenço, em Luanda, disse que como contrapartida, que neste momento está em curso “uma resistência vigorosa e coordenada contra esses terroristas “.
“Nossas valentes Forças de Defesa da República Democrática do Congo, símbolos de coragem e patriotismo, estão plenamente mobilizados, prontos para defender cada centímetro do nosso território. Eu, pessoalmente, convoquei e presidi reuniões de crise com uma equipa restrita do governo, o Comando Militar Alto e uma reunião inter-institucional, para avaliar o desenvolvimento recente da situação e levantar as opções para repulsar os agressores e reconquistar cada parcela do nosso território”, avançou.
Sabe-se que este fim-de-semana, Félix Tshisekedi realizou várias reuniões de urgência com o seu Governo, tendo, inclusive no sábado, cortado relações diplomáticas com o Ruanda, que entretanto, até o momento não afirma nem nega apoio ao M23.
Na sequência, Kinshasa anunciou a retirada dos seus diplomatas de Kigali, bem como deu 48 horas para que o governo de Paul Kagame fizesse o mesmo.
O que se viu, na segunda-feira, 27, foi a destruição total da Embaixada ruandesa em Kinshasa, bem como a parcial das representações diplomáticas de França, Bélgica e Uganda, por um grupo de manifestantes, na capital da República Democrática do Congo.
Em entrevista exclusiva à Rádio Correio da Kianda, o jornalista congolês Eric Izima confirmou o ataque, justificado, segundo disse, pelo apoio da França ao exército do Ruanda, que por sua vez, é acusado pelo governo de Tshisekedi de apoiar o avanço do M23 no Leste da RDC.
Aos jovens, Tshisekedi lançou o apelo: “para a juventude congolesa, pilar e esperança de nossa nação, exorto-vos a responder massivamente ao apelo da Pátria. O momento chegou para levantar-se, para colocar sua energia e sua criatividade ao serviço da nação. Nós devemos reforçar nossos ranchos, e cada jovem congolês pronto a defender seu país tem um lugar dentro das nossas forças armadas. Vocês são a ponta de lança do nosso projecto e a sua mobilização é determinante para a vitória final”.
Deixou, igualmente, uma mensagem aos cidadãos de Kivu-Norte e Kivu-Sul: “vocês são o símbolo da resistência congolesa, uma fonte de inspiração para toda a nação. Vocês não estão sozinhos nessa luta“, garantiu.
“Caiu com as armas à mão”
A tensão entre a RDC e o Ruanda teve o seu ápice com a morte do governador de Kivu-Norte, que Kinshasa atribui a responsabilidade ao Ruanda. A morte em combate do também general foi, igualmente, mencionada por Tshisekedi.
“Sinto pelo general-major Peter Cirimwami Nkuba, que caiu com as armas à mão. Eu me inclino com respeito em frente à memória de todos os nossos militares e de todos os Wazalendos que caíram no campo de honra. Eu penso também nos soldados da missão da Comunidade de Desenvolvimento de África Austral, que lutam ao nosso lado, aos capacetes azuis da Monusco, que sacrificaram as suas vidas por a paz, assim como aos inúmeros civis vítimas da barbaridade inimiga. A sua coragem e o seu sacrifício nunca serão esquecidos“.
Para substituir Peter Cirimwami Nkuba, Tshisekedi nomeou, no dia 28 de Janeiro, o General-Major Evariste Somo Kakule para o posto de Governador Militar do Kivu-Norte.
O objectivo, prosseguiu, é fortalecer a coordenação das operações militares e restaurar a autoridade do Estado naquela província do Leste.
Em paralelo, continuou, “nós nos engajamos em importantes processos diplomáticos, principalmente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, assim como no quadro do processo de paz de Luanda, ao qual nós ficamos plenamente engajados, apesar dos obstáculos.”
“Nós privilegiamos a direcção do diálogo, mas sempre com lucidez, enquanto ficamos firmemente resolvidos a defender o nosso território e nossa soberania por todos os meios necessários”, disse.
Ameaça aos Grandes Lagos
No seu discurso de quinze minutos, Tshisekedi não poupou críticas à Paul Kagame ao qual acusou de “violar abertamente e sem escândalos os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas e os Acordos Regionais”.
“A presença de milhares de soldados ruandeses no nosso chão, o seu apoio político, logístico e militar em relação ao M23, e a sua implicação na exploração ilegal de nossas recursos naturais, nos levaram directo a uma escalada com consequências imprevisíveis que está colocando em perigo toda a região dos Grandes Lagos”, sinalizou.
Contudo, assegurou que “a República Democrática do Congo não se deixará ser humilhada nem quebrada”.
“Eu nunca abandonarei vocês, faço aqui o meu juramento. O sol não parou de brilhar em nossa pátria. Juntos, mão em mão, superaremos esta tempestade e abriremos uma nova era de paz e prosperidade para as gerações futuras“, assegurou.
A chegada dos soldados ruandeses e dos combatentes do M23 à capital da província de Kivu-Norte, na fronteira com o Ruanda, e onde vivem um milhão de habitantes e outros tantos deslocados, marca o fim de várias semanas de avanços do exército democrático-congolês.
Os confrontos à volta de Goma agravaram a crise humanitária nesta região estratégica, com um subsolo rico, abalada desde há décadas pela violência de grupos armados apoiados em parte pelos vizinhos da RDCongo e agravada após o genocídio ruandês de 1994.
De acordo com a ONU, mais de meio milhão de pessoas foram deslocadas pelos combates desde o início de Janeiro.
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