Economia
Poderá o executivo Angolano alcançar a meta de Privatização de mais de 70 empresas públicas via Bolsa?
Texto de Neusa e Silva *
O Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou um financiamento, com um período de carência de três anos num valor de cerca de US $ 3,7 bilhões ou 361% da cota de Angola) para apoiar o programa de reforma econômica de Angola.
Espera-se que o referido programa ajude Angola a restaurar a sustentabilidade externa e fiscal bem como lançar as bases para uma diversificação económica sustentável liderada pelo sector privado.
A este respeito, o sequenciamento das reformas e a implementação de medidas de compensação serão importantes. ( devo dizer que é expectável que haja alguma dificuldade, pela constante mudança dos executores e o não sequenciamento das ações iniciadas pelos seu antecessores embora haja já um maior acompanhamento por parte do executivo aquando da implementação de novas medidas) o fortalecimento da gestão financeira pública deverá melhorar a alocação de recursos públicos escassos e fortalecerá a formulação e implementação de políticas, diz o referido relatório.
De acordo com o FMI é expectável que a depreciação cambial e o comprometimento com uma bolsa de valores possam ajudar a alavancar a economia nacional.
Ora se considerarmos que o executivo bem no início de funções apontou a Bolsa de Dívida e Valores de Angola, como um dos principais meios para revitalizar (financiar/privatizar) algumas empresas públicas e assim diminuir o seu “fardo” orçamental, e sendo está também uma das exigências do FMI, a operacionalização da Bolsa de Valores, os mais desatentos poderiam facilmente pensar que com a estreia no mercado de títulos privados do Standard Bank Angola naquela plataforma, ao emitir a primeira parcela de obrigações, no valor de 4,7 mil milhões de kwanzas (15 milhões de dólares) estivéssemos muito próximo de alcançar tal objectivo.
O que na minha opinião não corresponde propriamente a um passo nessa direcção, a não ser pelo facto da Bodiva puder estrear um segmento dos seus vários serviços no sector privado, que até ao momento só era beneficiado pelo sector público.
Sendo o Grupo Standard Bank, sedeado em Joanesburgo (África do Sul), o maior banco africano em termos de activos com uma presença única em 20 países africanos. Está cotado na bolsa de valores sul-africana ( JSE) acumula uma experiência de 153 anos na África do Sul, tendo iniciado a sua internacionalização, através do estabelecimento de agências fora deste país, no início dos anos 90. E tendo como o maior acionista nada mais nada menos que o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o maior banco do mundo, com uma participação de 20.1 %. Logo, com este historial e participações em vários mercados, está portanto a altura de cumprir com todo um exigente reporte financeiro que o processo exige.
Ao contrário das setenta e quatro empresas do sector empresarial público, que foram selecionadas pelo executivo para serem privatizadas, maioritariamente do sector industrial, incluindo as empresas do universo Sonangol.
Para escrever este artigo fui consultar a análise e avaliação dos documentos de prestação de contas das empresas do sector empresarial público exercício 2016 disponibilizado em 2017.
O referido relatório dá conta de que no universo do sector empresarial público angolano existem pelo menos noventa e duas empresas, sessenta e quatro delas pertencentes ao sector empresarial público, onze empresas de domínio público, trés Golden Share e catorze participações minoritárias.
Destas noventa e duas empresas apena setenta e cinco encontravam-se na altura operacionais ( 16% em fase de arranque, 5% em fase de desenvolvimento, 31% apresentavam actividade residual e 48% activas) o que reduz a margem para privatizações a apenas trinta e seis empresas correspondentes a 48% em actividade.
Destas trinta e seis, apenas onze tiveram as suas contas homologadas sem reservas e na minha opinião estás onze poderiam vir a ser base para as futuras privatizações em bolsa se tivermos em conta o alto nível de exigência de reporte financeiro que o processo exige.
Estou a falar de empresas como o Entreposto aduaneiro de Angola, a Angop, a Imprensa Nacional, o Grupo Ensa, a Taag, a Unicargas, a Empresa Portuária de Luanda, de Lobito e do Porto Amboim, bem como os caminhos de ferro de Luanda.
Todas as outras empresas, caso venham a ser realmente privatizadas acredito que terão de passar por algum outro processo que algumas outras empresas públicas já tiveram sido submetidas, uma vez que não será a primeira vez que o Estado privatiza algumas empresas, sem qualquer recurso a Bolsa de Divida e Valores de Angola, com sucesso.
Quando conseguirmos efectivar a privatização de alguma empresa do sector público via bolsa, aí sim penso que estaremos diante de um marco histórico no crescimento da economia Angolana e a caminho de uma diversificação económica sustentável liderada pelo sector privado
Mais sobre a Operação:
Bolsa da Dívida e Valores de Angola (BODIVA) estreou-se no mercado de títulos privados ao admitir o Standard Bank Angola naquela plataforma, com a primeira parcela de uma emissão de obrigações, no valor de 4,7 mil milhões de kwanzas (15 milhões de dólares).
Tratou-se de uma oferta em mercado primário a taxa de 17% a.a., uma maturidade de trés anos, vencendo-se no dia 11.12.2021. De acordo com informação disponibilizada pela Bodiva os atuais detentores das obrigações poderão vender as obrigações a qualquer investidor que os pretenda adquirir, desde que não sejam investidores não residentes. Sendo investidores não residentes, só poderão vender a favor de um outro investidor não residente, conforme disposto no n.º2 do artigo n.º3, do Aviso N.01/2017, do Banco Nacional de Angola.
De acordo com estabelecido e segundo a Bodiva, os investidores não residentes poderão adquirir estas obrigações através da transmissão da sua intenção de compra a um dos membros BODIVA, o qual irá inserir a ordem de compra no Mercado de Bolsa de Títulos do Tesouro, através do sistema de negociação da Bolsa de Divida e Valores de Angola (“BODIVA”). Havendo interesse por parte de algum actual detentor em vender as obrigações, a um preço igual ou inferior ao da ordem, o negócio será automaticamente efetuado pelo sistema de negociação.
* Especialista em Jornalismo Económico, Criadora, Realizadora e apresentadora do Radar Económico, Blogger e Locutora.