Politica
Os prováveis candidatos à liderança da UNITA no XIV Congresso de 2025 (Parte II)
Na vida das organizações e na dos seus líderes, o escrutínio é permanente pois estas fazem parte de um mosaico em que interessa toda a sociedade, militantes ou não. Neste quadro, movido por um sentimento não de simples atrevimento, mas sim no intuito de levar à reflexão do que se passa nos partidos políticos, nas relações das suas lideranças, que levamos ao conhecimento e raciocínio da sociedade angolana “democrática”.
O primeiro capítulo ficou reservado para radiografar a saúde interna do “Galo Negro”, cujo resultado aparenta ser débil, por conta da alegada incapacidade da liderança da UNITA em cimentar a unidade e a coesão, tendo levado a sua luta ao exterior do partido, ou seja, as “redes sociais”. O que recomendamos na edição passada, independentemente dos motivos pessoais ou de grupo, a UNITA não terá outra saída para lograr bons resultados no pleito de 2027, que não seja fazer um exercício titânico que resulte na unidade. Só depois pode buscar em contar com as forças externas ou seja a “sociedade civil”, caso contrário pode fazer parecer que está forte externamente, mas internamente…
Para isso, a UNITA precisará de uma nova liderança. Uma nova liderança não significa necessariamente uma nova pessoa a liderar, pode até ser o actual Presidente, desde que seja adoptado um estilo de liderança mais congregador.
DUAS GERAÇÕES PODEM CONCORRER A LIDERANÇA DA UNITA?
Os possíveis candidatos à liderança da UNITA terão de apresentar o seu perfil para ser escalpelizado pelos estatutos da organização. A UNITA está numa fase em que se verifica uma transição geracional, que deve ocorrer de forma suave, para colher melhor resultados, pois o futuro desta organização não depende só de sangue jovem, como também, e principalmente, de uma liderança responsável e com experiência para unir as partes desavindas no seio do galinheiro.
Na primeira geração de líderes despontam nomes como:
1- Adalberto Costa Júnior, “Mano ACJ”, o actual Presidente da UNITA, nasceu no dia 8 de Maio de 1962 no município de Quinjenje – Província do Huambo, formado em Engenharia Electrotécnica pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto, em Portugal, concorreu e foi eleito Presidente do partido, e reeleito no conclave repetido em 2021.
AS VANTAGENS DA RECANIDATIURA DE ACJ
– A eleiçao de ACJ a frente dos destinos da UNITA desmistificou o pretenso carácter racista que foi sempre atribuído à UNITA. Hoje fruto da liderança do ACJ este estereotipo sem nexo está lançado por terra. Portanto neste quesito a UNITA sai a ganhar;
– A facilidade no verbo e o “a vontade” com que trata a sociedade permite que consiga ter alguma empatia nesta e sobretudo no meio urbano;
– O facto de ter emergido numa altura em que as liberdades são “minimamente asseguradas” dá-lhe a vantagem de comunicar-se com alguns actores da sociedade civil, descontentes por terem sido excluídos dos círculos mais próximos do poder.
AS DESVANTAGENS DE ACJ
– ACJ quando assumiu a liderança da UNITA exalava confiança para a conquista e o exercício do poder político angolano, com a sua celebre frase “não vamos engolir sapos”, mas fim ao cabo consentiu a derrota eleitoral;
– Nos meios da juventude com alguma literacia ACJ é tido como alguém cujo discurso é diametralmente oposto à sua prática quotidiana;
– Alguns alegam que ACJ tem um défice de estruturação discursiva, ou seja quando sai para comunicar, o seu discurso se não é para se vitimizar, é para atacar mas nunca para apontar soluções. Este facto faz com que muitos duvidem da sua capacidade pragmática caso um dia seja governo;
– Alguns militantes e quadros da UNITA, afirmam que Adalberto Costa Júnior, é capaz de sacrificar a imagem da UNITA para proteger a sua própria imagem. Esta mensagem tem sido presente nos órgãos internos do partido, que o Presidente precisa de ser defendido e nunca faz alusão à UNITA, confundindo a sua pessoal com a grandeza da UNITA.
– Pessoas que entendem da política e sobretudo de liderança, falam que um gestor não deve ser rancoroso e dissimulador de comportamento, como é ACJ, chegando a ser apelidado de “Narciso” em alusão ao seu suposto carácter;
– O reaparecimento do Dr. Abel Chivukuvuku que é estruturado nas suas ideias, ofusca o ACJ e como consequência disso a sua própria imagem está colocada em escrutínio permanente. A relação e a reaproximação do actual líder do PRA-JA, poderá prejudicar significativamente a candidatura de Adalberto Costa Júnior, no conclave deste ano;
2 – Isaías Samakuva, “Man-Samas, Velho Samas, Lissumbissa ou mesmo Lima Sierra Bravo”, foi o segundo presidente eleito da UNITA, seguindo o Presidente fundador Jonas Savimbi, após o período do período de transição conduzido por Lukamba Paulo Gato. “Man-Samas” foi escolhido líder da organização pela primeira vez em 2003 e reeleito em 2007, 2011 e em 2015. Em 2003 derrotou Lukamba Paulo “General Gato” e Dinho Chingunji, em 2007 o derrotado foi Abel Epalanga Chivukuvuku e no último a vítima José Pedro Cachiungo, com 85,6% contra 11% do derrotado. Isaías Samakuva, nasceu no dia 8 de Julho de 1946, na antiga em Silva Porto-Gare (actual Kunje), província do Bié. Assumiu a liderança da UNITA num momento difícil, de que os maninhos consideram “curva apertada” da sua história, Samakuva soube promover a unidade e a coesão interna, ao meio de muitas ciladas internas, ao longo dos 16 anos de gestão da organização. Licenciado em relações internacionais e Ciências Sociais, brigadeiro na reforma, fiel aos ideais de Jonas Savimbi. Com um perfil de estadista, Isaías Samakuva dirigiu a organização num ambiente em que o partido era vítima de intolerância política. O partido perdeu muitos militantes ao nível do país, mas o seu discurso sempre foi de tolerância e de paz.
O actual ambiente que o partido vive, pode lhe levar a concorrer para salvar a organização do alegado “desvio ideológico” de que alguns militantes e quadros acusam.
Numa das suas últimas aparições públicas depois de largo tempo em silêncio, o antigo líder da UNITA, dizia que “não concordava com o envolvimento do partido a Frente Patriótica Unida” e, nos últimos discursos antes de deixar o cadeirão máximo da Maianga, questionado se deixaria a vida política activa, o também diplomata respondeu “em política, nunca diga não beberei…”. O seu capital congregador e de pacificação, pode lhe valer uma boa colheita caso concorra, embora alguns sectores estejam a olhar para a idade, argumento este que é esbatido por outro seguimento que encara Isaías Samakuva, com energia bastante, para salvar o partido, deste alegado “desvio ideológico”.
3 – Alcides Sakala Simões, “Mano Sakala”, um exímio diplomata, foi por muito tempo representante da UNITA em vários países da Europa e de África. Exerceu funções de Secretário para os Assuntos Internacionais, porta-voz do partido e deputado a Assembleia Nacional. Sakala, é um político muito cauteloso, que sabe fazer leitura dos sinais dos tempos e dos factos, um homem culto e de paz. Após a morte do presidente-fundador a 22 de Fevereiro de 2022, Sakala fez parte da Comissão de Gestão liderada pelo General Gato, e integrou também a Equipe das negociações para paz de 4 de Abril do mesmo ano. De 2005 a 2008 foi Presidente do Grupo Parlamentar da UNITA. É licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Angola e Mestre em Relações Internacionais e Estudos Europeus pela Universidade de Évora. Lecionou na Universidade Lusíada de Angola,é actualmente Deputado à Assembleia Nacional de Angola e professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais (CIS). Foi o segundo candidato mais votado no último congresso, XIII, que elegeu ACJ. Alcides Sakala, poderá voltar a concorrer depois da derrota em 2019?
4 – Estevão José Pedro Kachiungo, “Mano Zé Pedro”, conhecido como um político íntegro, corajoso e perspicaz. É docente universitário, poliglota, empreendedor, consultor, filantropo e conferencista. Zé Pedro, assim tratado pelos mais próximos, é um assumido discípulo de Jonas Savimbi, natural da Missão Evangélica do Dondi, no Município do Katchiungo, província do Huambo. Estevão José Pedro Kachiungo, é Mestre em Direito Autárquico e Desenvolvimento Local, docente Universitário e Politólogo. Em 2000 terminava com sucesso a sua licenciatura em Ciência Política e Administração Pública pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia – UHLT em Lisboa – Portugal e inscreve-se no curso de Mestrado em Políticas Públicas pela Universidade Católica de Lisboa. José Pedro Kachiungo retoma as suas actividades politicas, depois da morte do líder da UNITA, mas também se engaja na vida acadêmica tornando-se docente universitário na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto – UAN, na Universidade Lusíada de Angola – ULA, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais – SIS, só para citar.
Zé Pedro, dirigiu o acto político de Jonas Savimbi em Luanda, depois de 16 anos de guerra. Entretanto, a candidatura de Zé Pedro, vai depender da engenharia política interna do galinheiro.
5 – Simão Albino António Dembo, “Mano Dembo”, nascido a 20 de Maio de 1968, natural de Kikunzo, município de Nambuangongo, província do Bengo-Angola. Antropólogo, pela Universidade Agostinho Neto, o actual Vice-Presidente da UNITA para esfera Administrativa e financeira, já exerceu funções de responsável pela área de intercepções para a cobertura do teatro Bié pelo Departamento de Operações Electrónicas – SGI), Secretário Provincial do Partido no Bengo. Simão Dembo, foi eleito deputado em de 2017 e reeleito em 2022, pelo circulo nacional. Embora nunca tenha manifestado publicamente a intenção de concorrer, enquadra-se no leque dos presidenciáveis do “Galo Negro”.
6 – Liberty Marlin de Dircéu Samuel Chiyaka, “Mano Liberty”, nasceu no dia 14 de Janeiro de 1975, natural do Huambo, município do Bailundo, já foi Secretário-Geral da JURA, braço juvenil da UNITA, docente universitário, Liberty destaca-se como uma das figuras que pode disputar a liderança no Congresso de 2025 ou no de 2030. Um político com carisma e carrega consigo uma retórica peculiar. Vozes internas, apontam que o jovem político tem sido assediado pelo então Secretário-Geral da UNITA, Lucamba Paulo Gato, a concorrer ao cadeirão máximo do partido, caso não aposte outra vez em ACJ. Vale frisar, que o General na reforma, que é um astuto político optou por ficar na sombra, depois de averbar duas derrotas nos congressos frente a Isaías Samakuva. Pessoas entendidas na matéria alegam que Gato, deu todo seu apoio como forma de realizar o seu ideal. Não é em vão que alguns dizem mesmo que, Paulo Lucamba Gato é espécie de Presidente ombra.
7 – Manuel Armando da Costa, “Nelito Ekuikui ou Man-nelas”, mais conhecido por Nelito Ekuikui, nasceu no dia 2 Agosto de 1991, na província do Huambo, licenciatura em Direito, já exerceu as funções de Secretário municipal de Belas, Secretário provincial de Luanda, já concorreu a liderança da JURA, e perdeu no pleito vencido por Agostinho Kamuango, Nelito Ekuikui viria ser eleito 4 anos depois para líder da mocidade da UNITA, a JURA, cargo que desempenha até a presente data, além de ser também deputado a Assembleia Nacional. Pessoas dizem que Nelito Ekuikui tem estado a dar sinais de ascender ao cadeirão máximo da Maianga, actualmente ocupado por Adalberto Costa Júnior, mas, avisado como é, Nelito o tem feito com muito cuidado para não beliscar a excelente relação que tem com o actual gestor do “Galo Negro”, embora alguns entendam que o jovem político ainda não tem tarimba para liderar a UNITA, e aconselham o parlamentar a trabalhar mais, muito mais e não confundir o publico das redes sociais com a liderança do partido.
8 -Adriano Abel Sapiñala, “Mano Didi”, nasceu no dia 26 de Setembro de 1977, filho de José Samuel Chiwale e de Helena Bonguela Abel, filho de um dos conjurados e único sobrevivente dos 12 discípulos de Jonas Savimbi, que foram aos treinos na China. Didi, como é também chamado pelos mais próximos, é licenciado em Direito pela Universidade Óscar Ribas. Em tão curto tempo, já desempenhou as funções de Secretário provincial do Cuando-Cubango, antes da Nova Divisão Política Administrativa, Secretário provincial de Benguela, actualmente é Secretário provincial de Luanda e Deputado a Assembleia Nacional. Adriano Sapiñala, é um excelente político, sabe estar na cidade, no campo ou seja, lida com facilidade com todos extractos sociais, pelo que, se reconhece a sua veia política mobilizadora, um cidadão residente nas redes sociais, arrasta muitos internautas, pelo que, estaria servir melhor o seu partido nas funções de Secretário-Geral do partido, ou Secretário Nacional para Mobilização, seguramente, Adriano, deixaria de se focar numa só província, movimentaria o país, mas como sonhar não é proibido, Didi tem avenida aberta no conclave deste ano ou em 2030.
9 – Álvaro Chikwamanga Daniel, “Mano Chikwamanga”, natural do Huambo, Mestre em Direito Autárquico e Desenvolvimento Local, um político aberto a imprensa, foi Secretário-Geral da JURA, Director Nacional do GEPA, Consultor Júnior de Peritos Estratégicos de Angola, Secretário Provincial da UNITA em Luanda.
Actualmente, é Secretário-Geral do partido e Deputado a Assembleia Nacional. O político é descrito como delfim do General Lucamba Paulo Gato, ou seja, uma das suas apostas, no tabuleiro do xadrez politico angolano, por isso, Gato, vai jogar com muitas peças no conclave que se aproxima.
10 – Rafael Massanga Sakaita Savimbi, “Mano Massanga”, filho do líder fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, apesar de ser formado em Gestão de Empresas preferiu seguir a carreira política. Massanga Savimbi, nasceu numa base militar, conhecida como Katapi, na antiga província do Cuando-Cubango, em 16 de Outubro de 1978. Licenciado em Relações Internacionais, e agora a frequentar o mestrado em Portugal, já exerceu as funções de Secretário para a Mobilização Urbana da UNITA, Secretário-Geral Adjunto do partido, actualmente é Secretário para as Relações Exteriores do “Galo Negro”, muito recentemente em entrevistas que concedeu à Rádio Essencial e à Ecclésia, Massanga deixou claro que está interessado em concorrer a liderança da UNITA, mas disse também que em obediência aos estatutos só poderá manifestar tal intenção, depois da Comissão Política reunir e autorizar o líder a convocar o conclave. Rafael Massanga Savimbi, deixa a sociedade e sobretudo alguns militantes do partido divididos, sem saber se ele quer mesmo concorrer ou somente simular a intenção, por alegarem que faltou convicção na sua comunicação durante a entrevista. O nome que carrega lhe oferece uma herança política, um activo que bem gerida pode lhe catapultar ao cargo máximo da organização, mas também carrega consigo algum passivo, admitido e assumido por Jonas Savimbi, durante a histórica 16ª Conferência. Será que Rafael Massanga Savimbi é só herdeiro do nome ou tem consigo algumas valências ou virtudes políticas de seu pai? Como é encarado interna e externamente, pelos militantes e pela Sociedade Civil? Conseguirá juntar estas duas franjas para conquistar bons resultados em 2027, caso venha ser eleito líder da UNITA?
Essas são algumas figuras que podem (ou não) concorrer à liderança da UNITA. A nossa redacção encontrou algumas barreiras para obter mais dados em torno dos possíveis candidatos à liderança da UNITA, por razões políticas “não poderiam partilhar mais informações por alegar que isso seria afronta ao líder”.
Este espaço volta dentro de 7 dias, quando faltam 2 anos e alguns meses para as eleições gerais de 2027, até lá, fique connosco e nós consigo.
UNITA e os seus desafios prementes rumo às eleições de 2027 (Parte 1)
Bernardino Chivucuvuco
08/04/2025 em 7:09 pm
Porque não falaram também das vantagens e desvantagens do outros nove eventuais candidatos