Crónica

Os [perigosos] triângulos dos 50 anos de Independência

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Triângulo é uma figura geométrica que ocupa o espaço interno limitado por três segmentos de reta de três pontos diferentes formando três lados iguais. Uma pesquisa básica na internet apurou que o número três está ligado à espiritualidade, pois é visto por muitos como um número sagrado. Além de sua importância na Santíssima Trindade, para os cristão o número três está relacionado à comunicação com a espiritualidade e a união entre corpo, mente e espírito.

Falando nisso, a história económica de Angola está ligada a um triângulo comercial, durante a fase da escravatura, um processo que esvaziou não só o país, mas a África, das suas forças de trabalho e riquezas naturais que, que como era óbvio, favoreceu a América e a Europa.

A história de luta para a conquista da Independência Nacional que em 2025 completa 50 anos, teve três figuras importantes: Holden Roberto com a sua FNLA, Agostinho Neto do MPLA e Jonas Savimbi da UNITA. Três actores que quer queiramos ou não, marcam o país e o povo, também pela falta de entendimento nos acordos, que os três firmaram.

Essa falta de entendimento fez com que cada um dos então movimentos de libertação proclamasse a sua Independência. Ou seja, Holden Roberto no norte, Savimbi no centro Sul e Agostinho Neto no litoral.

O caminho para a Independência também teve três momentos históricos conhecidos como acordos: de Lusaka, de Alvor e de Bicesse.

Para Angola conhecer a paz efectiva, que os angolanos vivem houveram três momentos: o 11 de Setembro de 2001, quando as torres gémeas de Nova York foram atacadas, o que obrigou os Estados Unidos da América a decretar as guerras como acto de terrorismo no mundo; a morte de Jonas Savimbi, no Moxico a 22 de Fevereiro de 2002 e o 4 de Abril daquele mesmo ano, na cidade do Luena, quando a UNITA e o governo conseguiram finalmente sentar-se de facto a mesma mesa, apertar sinceramente a mão um do outro, com o olhar firme nos olhos um do outro e disseram: “Vamos à paz!…”.

50 anos depois da conquista da independência, Angola regista na sua história política três inquilinos palacianos: Agostinho Neto por quatro anos; José Eduardo dos Santos (JES) por 37 e João Lourenço (JLO) que já soma oito anos como o presidente de todos os angolanos (o terceiro ano do seu segundo mandato).

Os pleitos eleitorais no actual modelo de cabeça de lista de partido também estão contabilizados três: em 2012 com JES; e 2017 e 2022 com JLO.

Até aqui o MPLA e o ente com maior peso entre os presentes de todos esses momentos da nossa história existencial enquanto nação.

Agora que falo de política, no que a gestão do país diz respeito, aponto mais um triângulo: o lado da política, da economia e da sociedade. Dito de outra forma, a Política, através dos seus actores, representantes e/ou designados, gere a Economia do país, conforme se convém na pirâmide das prioridades, e a sociedade – o povo – vive nos lamentos e reclamações da vida cada vez mais difícil, que obriga a todos a apertar o cinto. Aliás, pelo andar das coisas muitos furos já foram acrescentados e alguns mais precisam-se para as calças se manterem com alguma firmeza no corpo.

Falando em apertar o cinto, quando mais novos, nos idos anos 90 e até mesmo já na década de 2000, sempre que os meus pais agendassem a compra de um bem valioso para a família diziam-nos: “este mês vamos ter que apertar o cinto”.

Era uma espécie de jejum, com propósitos e timings bem definidos, como recomenda a própria biblia sagrada (livro de Isaías, capítulo 58).

Entretanto, essa timing hoje não se vê, pois o jejum que os políticos, nas vestes de gestores nos submetem, parece não ter fim. E isso faz com que algumas mulheres, esposas, vêm enfrentando uma frustração interminável, a ponto de perderem o encanto e abdicarem das obrigações matrimoniais com os seus esposos visto que as promessas por dias melhores nunca chegam. Algumas cansadas começam dar atenção a outros homens.

Alguns destes maridos ou esposos recorrem, por razões diversas, às amiguinhas do bairro ou do serviço, que a troco de uns Kwanzas ou simples possíveis promessas vão desempenhando, nas suas vidas, e com alguma mestria, aquelas obrigações e papeis reservados às esposas. Até já ouvi que é graças à existência da figura de amantes que muitos casamentos se mantêm firmes (?).

Portanto, essas são algumas das formas que estão a nascer, a se popularizar e a normalizar as relações amorosas envolvendo três ou mais pessoas, no que a sociedade chama de triângulo amoroso.

Entretanto, muitos são os relatos que, de diversas formas nos chegam, da existência de triângulos amorosos, alguns dos quais terminam de forma trágica. E não são poucos!..

Há algumas semanas fomos bombardeados com notícias que envolvem amorosamente três pessoas.

Todos vimos pela tv e massificado pelas redes sociais, as lutas em Benguela, em que dois homens adultos, responsáveis e com aparente idoneidade protagonizaram nas ruas da cidade das Acácias, na disputa pela paternidade de uma criança entre um militar e professor do ensino público. O mais caricato mesmo foram os festejos nas redes sociais, quando foi divulgado o resultado do DNA, a favor do homem das Forças Armadas Angolanas.

Quem disse um professor já compete connosco de fazer filhos”, ouve-se no vídeo festejante que rolou nas redes sociais.

Aqui a honra, o orgulho, e talvez o amor próprio foram pontapeados tanto pelo professor que tem a missão de transformar as mentes, como pelo militar, cujo papel é proteger a dignidade e a integridade.

Há algumas semanas, cá mesmo em Luanda, um jovem animador de festas, vulgo DJ, foi gravemente atingido a tiro, pelo namorado da sua namorada, tendo morrido vários dias depois já no hospital. O caricato? Era casado e pai de família.

Agora lembrei-me de um episódio em que um jovem também casado e pai de filhos, engravidou a empregada da casa da sua amante.

Éh pah, aqui deixa de ser triângulo amoroso e evoluímos para quadrilha amorosa.

No Bengo, um jovem, por sinal profissional da comunicação social morreu com golpes de facas no abdômen, perpetrados pelo amante da sua amante, que tal como o malogrado, é casada de um militar que se encontra em missão de serviço numa província do interior.

Se no caso anterior definimos como quadrilha amorosa, aqui podemos caracterizar como amor em comunidade ou partilha de amores, visto que quem matou o jornalista nem foi o ‘dono da esposa’, e sim outro amante da senhora que também tem a sua esposa.

Mas como é que uma pessoa que tem esposo/a, filhos, pais, irmãos, sogros, cunhados, sobrinhos e vizinhos, vai morrer numa situação destas? Já pensou no quão é humilhante ir ao óbito de alguém ou do próprio parceiro que morre numa brincadeira estúpida?

Portanto, permita-me, prezado internauta, que eu termine esta crónica parafraseando o criminalista angolano Alcântara Costa: “meus amigos homens, não sejamos infantis, ao ponto de fazer com que os perigos da carne nos levem a estes lugares. Em Angola, mulher solteira e a procura de homem para lhes ser marido, tem bueeeerere”…

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