Politica
Os factores de sobrevivência política e a sangria que o PRS pode viver até 2027 (Parte I)
O Partido de Renovação Social, fundado na génese do multipartidarismo em Angola, em 1990, à semelhança de outras formações políticas, não tem conseguido manter a unidade e a coesão da sua elite, sobretudo dos co-fundadores do partido que defende a institucionalização do Federalismo em Angola, como um sistema que pode diminuir as assimetrias socioeconómicas e acabar com a centralização do poder.
Os estatutos deveriam ser o único elemento catalisador da unidade e coesão dos partidos políticos, cada membro ou dirigente teria de se submeter a estes. O que cria finalmente as divergências e dissidências nas formações políticas?
Das figuras carismáticas que hoje estariam ao serviço de Angola através do PRS, uns decidiram “despir-se” do fato político remetendo-se ao silêncio, como são os casos do Dr. João Baptista Ngandagina, antigo Secretário-Geral daquela formação política, que em Outubro de 2017 viria pôr fim à sua militância, 27 anos depois, por não se rever mais na direcção do partido, após ter concorrido a liderança da organização e averbar uma derrota no IV Congresso, frente ao actual líder Benedito Daniel.
O também ex-Ministro da Ciência e Tecnologia no Governo de Unidade e Reconciliação (GURN) alegou que “não poderia continuar numa agremiação política onde os estatutos são violados regularmente” , a insatisfação do político foi revelada pelos magros resultados obtidos no conclave.
Outro “peso-pesado” que o PRS perdeu para UNITA, é o actual deputado do “Galo Negro” e antigo porta-voz dos renovadores sociais, Joaquim Nafoia, que em 2014, na cidade do Huambo, durante um acto político dirigido pelo seu então Presidente, Isaías Samakuva, viria a anunciar publicamente a renúncia da militância do PRS em sã consciência.
Muito cauteloso, disse ter saído do PRS sem conflito com a direcção do partido. O também antigo assessor do Grupo Parlamentar do PRS, avançou na ocasião, que abdicou de um salário melhor para se juntar a UNITA com vista a operar mudança. Um político muito avisado, que sabe fazer leitura dos tempos, sabe quando falar e calar, no complexo mosaico político. Por isso, tem sabido lidar com os vendavais e sossegos no seio do galinheiro. Joaquim Nafoia, para além de ser deputado é um dos pensólogos com quem Adalberto Costa Júnior conta.
Neste mesmo dia, em 2014, o PRS perderia também um brilhante quadro, o jovem político, polido pela Igreja Católica e “antigo seminarista”, Mateus Figueiredo. Muito mais técnico, por isso a sua aparição é rara e sabe-se que actualmente é um dos quadros mais valiosos do Gabinete de Estudo e Pesquisa (GEPA) da UNITA, que também na cidade do Huambo, renunciaria a militância do PRS tendo aderido de seguida ao “Galo Negro”, juntando ao comedido e estratega Tiago Bernardo Chingui.
Por desentendimentos, um dos co-fundadores viria abandonar também o partido, depois da tentativa de realizar um Congresso nas instalações da antiga Assembleia Nacional, trata-se do senhor António Muachicungo, que já ocupou o cargo de Vice-Presidente do PRS.
Ainda muito jovem, Lindo Bernardo Tito, actualmente Mestre em Direito, Advogado e Professor, abraçou o projecto político, PRS, onde viria a exercer o cargo de Secretário para Informação. Por alegadas crispações internas, aderiu a Coligação Eleitoral CASA-CE, onde foi membro do Colégio Presidencial, um dos seus Vice-Presidentes e deputado da plataforma política a Assembleia Nacional, liderada por Abel Epalanga Chivukuvuku. Actualmente, o académico é conselheiro do Presidente do PRA-JA Servir Angola.
Com a realização do último Congresso que reelegeu Benedito Daniel para Presidente daquela agremiação política, depois de tantas clivagens e processos movidos pelo antigo concorrente directo, Sapalo António, junto do Tribunal Constitucional, o líder do PRS teria vencido esta batalha depois do Tribunal ter anotado o conclave, e agora com a renúncia de militância de Sapalo António, há quem defenda que a política consiste em aumentar o número de militantes e quadros para fazer face aos desafios, mas o que se pode constatar é que se faz muita pesca contudo há também “muita falta de capacidade de conservação desse pescado”…
Sapalo António, antigo deputado do PRS, e ex-Vice-Ministro de Ciência e Tecnologia, no Governo de Unidade e Reconciliação (GURN), abandonou as fileiras do PRS, durante uma conferência de imprensa, pediu desculpas e compressão aos seus antigos correligionários pela decisão necessária e oportuna que tomou, todavia o político não deixou de agradecer o apoio que recebeu de todos.
O momento serviu para o político anunciar o seu novo projecto político denominado Partido pela Verdade e Estabilidade para o Desenvolvimento (PVED). Sapalo António, assegurou que a decisão é racionalmente necessária devido as circunstâncias contextuais e estruturais que o levaram a optar por uma nova trajectória política. A saída de Sapalo do PRS poderá causar alguns danos nas hostes dos Renovadores Sociais, tendo em consideração o número de militantes que se reveem nele e, alguns de descontentes com a actual gestão da organização.
Apesar das suspensões acima levantadas, Benedito Daniel está diante de um maior dilema e desafio que é trabalhar afincadamente para promover a unidade e coesão interna, depois elevar o nome e a bandeira do partido em todo canto do país, para tirar boa safra nas eleições de 2027, aumentando assim o seu número de representação parlamentar. Essa seria a melhoria forma de se redimir dos seus detratores.
Convém reconhecer as habilidades de Benedito Daniel, assentes na frieza e ponderação, por ter sabido gerir a crise despoletada pelo antigo militante e concorrente, com impacto ao nível interno e extensão para o Tribunal Constitucional, Mesmo assim, o líder do PRS conseguiu dar volta a tempestade.
O PRS não tem conseguido alcançar os resultados obtidos nas primeiras eleições de 1992, o que tem deixado alguns quadros insatisfeitos por alegada letargia da parte da direção do partido. No primeiro pleito em Angola, o PRS estreou-se com seis assentos na Assembleia Nacional, em 2008, subiu a fasquia para oito lugares no hemiciclo. Já nas eleições de 2012 amealhou três deputados, em 2017 e 2022, o PRS não foi para além de duas representações parlamentares.
Esses são alguns motivos que deixam alguns quadros preocupados com o futuro do partido fundado por Eduardo Kuangana.
A próxima edição volta nesse espaço dentro de 7 dias, no seu segundo capítulo sobre o PRS.
Pingback: Os possíveis candidatos no VI Congresso Ordinário do PRS de 2028 (Parte II) - Correio da Kianda - Notícias de Angola