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Ocidente vê seu desejo realizar-se no Médio Oriente, mas ‘patina’ na Ucrânia. Irão é o maior perdedor
Os países ocidentais desenharam a queda de Bashar al-Assad em 2011, mas, naquela altura, viram a Rússia frustrar seus intentos com desafios claros aos EUA na era Barack Obama.
Há abertura de champanhe entre os líderes ocidentais. Caiu Bashar al-Assad, da Síria. A notícia já ecoa o mundo, e os líderes ocidentais não escondem a satisfação, embora a queda tenha sido desencadeada por grupos terroristas.
Assad entrara na lista de Chefes de Estado tomados por “ditadores” que deviam cair na véspera da Primavera Árabe, em 2011. Vale referir que a Primavera Árabe foi uma série de protestos de rua que aconteceram nos países árabes do norte da África e no Oriente Médio, a partir de 2010. O contexto político era caracterizado pela repressão, insatisfação popular, perda de direitos fundamentais, altos níveis de desemprego, corrupção e pobreza.
Como nunca acontecera no presente século, os povos levantaram e, enfrentando canhões, fizeram ouvir a sua voz. No âmbito dessa revolta popular caíram Hosni Mubarak, do Egipto; Muammar al-Gaddafi, da Líbia; Zine el-Abdine, da Tunísia; além de Ali Abdullah Saleh, então presidente Iémen.
Nesse período, os países ocidentais foram ao socorro das populações que estavam a ser executadas pelas autoridades nas manifestações.
Na Líbia, por exemplo, a NATO interveio militarmente em cumprimento da Resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que visou a criação de uma zona de exclusão aérea no país.
Entretanto, diferente de seus homólogos no Egipto, Líbia, Iémen e Tunísia, o sírio Bashar al-Assad, com o apoio político e militar russo, resistiu à fúria popular e governou mais 13 anos desde 2011.
Porém, a estratégia e necessidade de sua derrocada não parou, dado que Assad não só é tido como ditador, mas também como um empecilho gravoso para o Estado de Israel, tendo em conta que é daquele solo que o Irão tem armado e rearmado os seus proxy contra Israel, nomeadamente o Hamas, na Palestina; o Hezbollah, no Líbano; os Houthis, no Iémen; e diferentes grupos terroristas no Iraque.
Assad, que administrou a Síria por 24 anos com uma mão de ferro, cedeu às forças opositoras sem oferecer significativa resistência. Carregando a família, partiu para Moscovo, a capital da Rússia, deixando para trás fiéis conselheiros, e significativas infra-estruturas pessoais, desde habitacionais a empresariais.
No Ocidente, há abertura de champanhe entre os líderes políticos, sendo que o assunto é tema em discussão nos bares e restaurantes europeus.
A queda de Bashar al-Assad foi desenhada em 2011, mas o Ocidente Alargado foi incapaz de realizar o seu desejo na altura face a intervenção diplomática, mas também clara presença militar russa.
Assad continuou. Repeliu fortemente os opositores, e imbuído no espírito contra Israel e tudo que cheira a judeu, abriu as portas de suas fronteiras para o Irão, que, com dinheiro e material militar que chegue, reforçou diferentes grupos terroristas como o Hamas, Hezbollah, Houthis e outros, visando a eliminação do Estado de Israel.
E no momento em que o mundo tinha os olhos focados sobre a situação na Ucrânia, por conta da guerra de invasão que a Rússia iniciou contra aquele país, o Hamas infringiu um golpe duro contra Israel que, possivelmente, jamais será esquecido.
De forma inédita, o Hamas entrou em solo israelita e matou 1.200 pessoas, e fez mais de duas centenas de reféns.
Parecia a queda de Israel como nação poderosa. O Hezbollah, os Houthis e outros grupos no Iraque atacaram Israel em diferentes frentes. E como se não bastasse a agressão vinda de vários pontos geográficos, o Irão, que tem apenas usado os seus proxy, decidiu entrar directamente no conflito, tendo lançado pouco mais de três centenas de mísseis e drones contra o território israelita.
O país dos aiatolas considerou o ataque ao Estado hebreu como resposta a um ataque atribuído a Israel, realizado contra uma representação diplomática iraniana na Síria, em morreu importantes cérebros iranianos.
Entretanto, Israel conseguiu interceptar mais de 90% dos engenhos. Houve mais uma outra vaga de ataque iraniano sobre Israel.
Com estes ataque realizados em diferentes frentes sobre Israel, o mundo virou os olhos para o Médio Oriente, relegando assim para o terceiro plano o conflito militar travado pela Ucrânia. Houve inclusive queda no fornecimento de armamento muito solicitado por Volodymyr Zelensky.
Tudo isso junto – a perda de poder da Ucrânia, no controlo de suas fronteiras e a escassez de soldados, os ataques constantes contra Israel a partir de diferentes pontos, dava a sensação ao mundo de que os EUA e os seus parceiros estavam a perder de todo. Ledo engano.
Balanço de especialistas indica que o Irão “pagou um preço alto”
Contrariamente às ameaças de Khamenei, líder supremo do Irão, Teerão acabou por acumular frustrações. Em Abril último, um ataque atribuído a Israel contra um consulado do Irão em Damasco, na Síria, matou o comandante sénior da Guarda Revolucionária do Irão, Mohammad Zahedi.
Em Julho, o então líder do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto na centro da capital iraniana, Teerão, por um ataque subtil de forças israelitas, sendo que um engenho explodiu por baixo da cama onde Haniyeh descansava, num apartamento no interior de um complexo controlado pelas forças militares iranianas.
O Hamas e o Hezbollah, sobretudo este último, que tinham as suas forças bem alimentadas do ponto de vista bélico, viram as suas capacidades militares serem desmembradas pelas forças de Israel.
E toda a hierarquia dos grupos foi destruída com a morte de importantes quadros, como a de Fuad Shukr; Ibrahim Aqil; Hassan Nasrallah; e Hashem Safieddine , todos do Hezbollah; bem como Mohhamed Deif; Yahya Sinwar; e Ismail Haniyeh, do Hamas.
Foi um duro golpe no coração destes grupos e do Irão.
A queda de Bashar al-Assad deixa destronada inclusive a Rússia, que perde importantes bases militares e reduz a sua presença no Médio Oriente, mas o facto causa maiores estragos ao Irão, que além de ter bases militares destruídas em seu próprio solo pela aviação israelense, perde um importante canal de destruição de armas para os seus proxy contra Israel.
Importa também sublinhar que a derrota de Assad e a entrada em cena de novos players na governação síria não significa necessariamente o fim das hostilidades entre Damasco e Televiv.
O grupo rebelde por uns e terrorista por outros, que pôs termo aos anos de reinado da família Assad é apoiado política, financeira e militarmente pela Turquia, este que, embora membro da NATO e aliada dos EUA, já manifestou o desejo de se juntar aos BRICS, e anda de costas viradas com Israel, tendo mesmo ameaçado Telaviv de uma intervenção militar.