Opinião
O “Xeque Mate” e os três grandes adversários de João Lourenço
Na segunda entrevista colectiva dada pelo Presidente da República, João Lourenço, lhe foi questionado sobre o “Xeque Mate” que o mesmo numa anterior entrevista ao jornal português Expresso. JLO ironicamente assumiu não ter adversários. Interpretando o actual cenário político, destaco aqui três grandes adversários: O Tempo, o MPLA e a Degradação Económica e social.
Volvidos 15 meses desde que foi eleito Presidente da República, JLO conquistou dois grandes poderes. O poder político (máquina política) e o popular (simpatia dos cidadãos), num mundo que há 60 anos é gerido mais do ponto de vista económico financeiro do que político partidário, e com um clima visivelmente antagônico, ter o poder popular e o político só não basta. Com um ano e meio há menos dos cinco constitucionalmente consagrados o tempo, é o capital político que precisa ser melhor aproveitado (recurso não renovável) sob pena de pôr em causa as aspirações dos angolanos que muito esperam daquele que asume ser o reformador de Angola e do MPLA. Os sinais de luta/de discórdia no seio do “glorioso” transpiram, e nos levam a pensar que o partido ou alguns poucos poderosos não se preparam para as grandes mudanças. Ou seja, a luta contra “OS PODEROSOS INTERESSES INSTALADOS”. A bombástica entrevista dada pelo actual Secretágio do MPLA, Álvaro de Boavida Neto, ao jornal Expansão, sem esquecer a intervenção do Vice-presidente da República Bornito de Sousa Baltazar Diógo aquando da mensagem de cerimónia de apresentação de cumprimentos de fim de ano, diante das mais altas figuras do Estado (Analise feita pelo portal Maka Angola jdo Jornalista Rafael Marques), fica claro que, os principais adversários do novo Presidente estão no seio do seu Partido, e representa a elite com maior poder político e económico do país. Aqui se observa as desvantagens das elites criadas por decreto e não pela genialidade. A inconsistência e falta de compromisso das mesmas com o Estado que as empoderou são algumas destas desvantagens, que só são reduzidas a longo prazo.
Primeiro esvaziar a actual elite política e económica, promover uma outra leva tempo. O risco reside da segunda opção, pelo facto de a mesma ter sido empoderada por meio da acumulação primitiva do capital feita entre 1994, 2004 e 2013. Portanto, estaria JLO a cometer os mesmos erros que JES? A solução mais consistente, segura e duradoura seria por meio da Endogeneização Económica (Zeca Branco Dias). Tornar o pequeno agricultor em fazendeiro, o pescador em grande armador, o vendedor de comida na barraca em dono de grande restaurante). Enfim, criar e/ agragar valor econômico endógeno, teorias de desevolvimento econômico regional, medida que pode quebrar o lobby da importação que, por essa via exporta o capital ilícito… Por outro lado estimular o surgimento de uma sociedade civil activa, com capacidades de realizar o escrutínio da vida pública, visando influenciar positivamente a classe detentora do poder executivo do Estado, a melhorar as acções que efectivamente vão ter impacto na vida dos cidadãos. O MPLA está visivelmente fragilizado, mas é o mais dificil dos adversários do Presidente. Contornar o partido é uma manobra que exige muito tempo (novamente o tempo), para operar as reformas necessárias ou será um record políticomundial caso consiga fragilizar os “PODEROSOS INTERESSES INSTALADOS”. Para a consolidação do seu poder, o Presidente precisa fragilizar mais os seus adversários. Foi assim que Vladmir Putim agiu quando foi eleito presidente da tão fragilizada Rússia (derrotada da guerra fria pela globalização capitalista). Teve que de impor-se diante da toda poderosa oligarquia criada a partir da nomenclatura partidária criou o Partido Rússia Unida, com o propósito não só de elevar o país ao patamar mundial, mas também combater a corrupção. Hoje a Rússia é novamente forte e respeitada no Mundo, transformando Putim num dos cinco homens mais poderosos e influentes dos último 18 anos. Refundar o partido não é uma missão impossível, pode ser a única forma de restabelecer a confiança e o“prestígio” de um dos partidos mais influentes de África e do Mundo. É aindauma das melhores maneiras de abafar os males (corrupção, má governação, nepotismo, roubo desmesurado, enfim) para que as futuras gerações possam entender o MPLA e amenizar os incalculáveis danos causados no país. Levar os fortes a negociar um pacto de regime é ainda outra hipótese. JLO não pode permitir que o MPLA se reorganize contra si, precisa construir uma estratégica para fazer perceber que o partido precisa de uma cartase para estar a altura dos novos desafios e que sacrifícios deverão ser consentidos em nome dessas dinâmicas. O partido deve sair fortalecido com as reformas que estão a ser implementadas pela nova gestão e levar as forças contrárias (que não se preparam para o actual momento) a entender que, o actual estado do partido periga a sua sobrevivência.
A degradação social e económica dos angolanos é outro grande adversário. A desigualdade como principal ingrediente da instabilidade deve ser urgentemente debelada, com políticas públicas direcciondas para sectores chaves, capazes de produzir resultados palpáveis na vida do cidadão. Se o país crescer segundo as estimativas do FMI, melhoram as expectativas do investimento externo directo, acrescentando a transparência e boa governação, agregadas as políticas de prestação de contas exigidas pelo fundo, será possível vislumbrar sinais de crescimento económico e, desta forma, ir mitigando a grave degradação económica e social que vivemos. Criar crescimento econômico, e com ele o aumento do emprego, a melhoria dos salários, dos serviços públicos básicos tal como previstos no plano nacional de desenvolvimento – PND (2017 – 2022) referente à educação (20%) e à saúde (15%), estaremos diante dos cumprimentos das exigências dos protocolos internacionais, dos quais Angola é signatária…
Ultrapassadas estas três peças do tabuleiro de xadrez, entendo que estará dado o Xeque Mate.