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Mbuandja na Kianda

O video erótico do momento e a nossa limitação analítica

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Como é habitual entre nós o curto vídeo em que aparece um suposto casal em momento que à Rádio Nacional de Angola chama de “íntimo” tornou-se viral nas redes sociais e, com isso, romperam-se às fronteiras entre estas – as redes sociais – e a mídia tradicional, porquanto até os que não utilizam a internet, a maioria da população angolana, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, (INE) ouviram falar do mesmo por via da rádio, na universalidade.

Sobre o vídeo nada temos a acrescentar, aliás, a Rádio Nacional de Angola, por exemplo, já fez o trabalho de explicar, embora não concordemos com a forma de veiculação!

Compete a nós e agora, enquanto produtores de opinião, olhar com os “olhos de ver” – porque é isso que todos não podem fazer – o vídeo, a atitude do suposto casal, do agente da Polícia que acusam ser o promotor da circulação do mesmo e, por fim, a responsabilização deste por parte da entidade patronal.

O vídeo mostra uma senhora que segura o pénis do senhor, ambos fazendo-se transportar de um veículo de Marca Toyota, modelo Rav4, de cor preta (segundo a imagem do vídeo) e com movimentos suaves e próprios a um casal que esteja prestes copular. Tudo isto, em plena via pública, no largo do primeiro de maio enquanto paravam para dar lugar a outros veículos, fruto do sinal luminoso (semáforo) ali colocado.

Logo que o vídeo chegou aos telemóveis, fruto da sua veiculação nas redes sociais a comoção inocente, os emocionados de sempre, entre jornalistas e, no caso, polícias, saíram imediatamente em defesa do casal. A Rádio Luanda, levando consigo a nacional, começaram o coro e, lamentavelmente, como era de esperar os mesmos emocionados de sempre cantaram e dançaram a música mesmo com melodia tortuosa para os ouvidos limpos e selectivos.

Entre os seguidores da referida música sem rimas nem melodia destaca-se a entidade patronal do jovem que vazou o vídeo. Com cobras e lagartos, alguém – que não sabemos se falou em nome próprio ou da instituição – fez saber que o mesmo jovem seria demitido da corporação, sem que antes fosse ouvido, fosse instaurado o competente procedimento disciplinar.

Aliás, mesmo que fosse, ao falar para os seus “amigos” – daí que não foi em conferencia de imprensa e não se identificou aquando da entrevista a RNA – teria deixado o desfecho do caso à entidade instrutora do mesmo, já que se está/va, no momento da entrevista, diante de um processo administrativo.

Porém, com o trabalho de Gabriel Veloso e seu chefe imediato, Paulo Miranda, inclinado, como é comum nestes casos, lamentavelmente, a nossa frágil opinião pública (que se constrói, maioritariamente com o trabalho da comunicação social) passou a condenar, exclusivamente, a atitude do jovem.

Construtores desta opinião pública, entre jornalistas, políticos e membros da sociedade cívil juntaram-se, infelizmente e como é habitual, ao coro da RNA com tudo contra o jovem. E, todas as análises que seguimos tendem para este sentido.

Para nós, é normal que se condene a atitude do agente da polícia que vazou o vídeo e concordamos com todos que assim fizeram, incluindo a RNA. Porém, não concordamos que os mesmos tenham visto apenas um ângulo de análise no problema.

Dito de outro modo, criticar durante setenta e duas horas o jovem por vazar imagens que chamam por íntimas, privadas, solicitando inclusivamente o afastamento do mesmo da corporação e nunca olhar com “olhos de ver” se a atitude do casal é aceitável de todo, é uma limitação da capacidade analítica, de interpretação que deve preocupar a todos nos mesmos níveis que preocupa a publicação do vídeo.

É uma limitação que se vai revelando normal na nossa sociedade e, infelizmente, constrói mentes “vazias” formatadas no sentido de que a parede apresentada como branca deve ser aceite como tal e nunca questionada.

Ora vejamos: porquê não se criticou, logo a seguir ou juntamente o facto de aquele casal ter praticado aquele acto. Ou seja, andar em “chupadelas, em fricções ou outra modalidade qualquer com o órgão sexual do parceiro (a), em plena via pública, no trânsito, parado por um sinal luminoso, com o risco de ser visto, assistido pelos condutores que o circundam é uma atitude inquestionável socialmente?

É recomendável? Aconselha-se aos mais novos? A polícia aplaude? A Rádio Luanda e por essa via a nacional defende isso que não se dignou em olhar para isso e formar uma opinião elástica?

Em fim, a limitação nacional em termos de análise, interpretação é gritante e por isso chegou, hoje, neste estágio. O estágio em que um comportamento provavelmente subsumível a um tipo legal de crime seja visto como normal só porque a rádio tal, o jornal tal , a televisão tal ou mesmo o jornalista tal tenha defendido que o mesmo comportamento é socialmente aceitável.

É o que ocorreu com o vídeo em análise. “Prendeu-se” sumariamente o jovem, concordamos, mas, infelizmente, e fruto dessa limitação, não se olhou para o casal que pode ser qualificado como um tipo legal de crime. Aliás, mesmo que não fosse feita essa qualificação esperava-se, muito sinceramente, que houvesse condenações do vídeo no âmbito da moral, da religião e da ética. Ramos que desde já têm a mesma força do direito.

Não o fizeram porque, entendemos, a nossa formação em bom número não atende o factor elasticidade mental. É o mesmo do que dizer que muitos de nós, chamados fazedores de opinião e figuras públicas vivemos no “mito da caverna de Platão”.

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