Opinião
O sistema financeiro em mudança – Parte 1
O exercício da actividade bancária requer elevada sofisticação das infraestruturas do mercado financeiro, pois, constitui dever as instituições se munirem de meios técnicos e tecnológicos capazes de atender aos «peculiares» interesses dos clientes – art.º 128.º da Lei n.º 14/21, de 19 de Maio, do Regime Geral das Instituições Financeiras, “As Instituições Financeiras Bancárias devem assegurar aos clientes, em todas as actividades que exercem, elevados níveis de competência técnica, dotando a sua organização empresarial com os meios materiais e técnicos necessários…”, ao passo que, noutros sectores de actividade os meios de trabalho não são objecto de escrutínio legal.
Em nosso ver, tal «dever de conduta», esteia-se, entre outros, pela natureza dos produtos e serviços e pelo factor concorrência. O primeiro aspecto funda-se na necessidade imposta pela lei de prevenir erros por defeito, obstando submeter os clientes ao desconforto de frustração das expectativas – refira-se, aliás, em abono da verdade, que a manutenção e a garantia de manutenção da qualidade dos serviços, de lucro e de liquidez, instilam audácia; o segundo é pertinente ao estabelecimento de certo equilíbrio no mercado, acautelando grandes assimetrias entre os operadores, outrossim, por providenciar um maior leque de opções aos clientes. Um e outro, dado exigirem que as instituições ofereçam mais e mais, melhores géneros às contrapartes sob pena de serem preteridas, têm, objectivamente, subjacente, alguma índole qualitativa. Isto posto, é-nos possível afirmar, por inferência, que a sofisticação é parte integrante da actividade bancária.
A «Inteligência Artificial» é uma etapa – correntemente vista como segmento da modernização – do frenético encadeamento de mutações que acometem as sociedades e impactam dos vários sectores de actividades que o compõem; do incessante processo de sofisticação que, de tempo em tempo suscita actualização. Dá-se a profecia de Daniel 12:4 “A ciência se multiplicará”.
Ora, trata-se de um campo multidisciplinar que, portanto, abrange várias áreas do saber, a destacar: ciência da computação, estatísticas e análises de dados, engenharia de hardware e software, linguística, neurociência, ciência cognitiva, filosofia, psicologia, etc. E compreende um conjunto sensivelmente amplo de técnicas, modelos e tecnologias que propiciam moldes mais eficientes e elaborados de execução dos trabalhos, o que, de certo modo, é susceptivel de proporcionar conforto aos clientes. Por outro lado, é um bem valiosíssimo a disposição das pessoas – em particular, das instituições -, com benefícios transversais: em termos de previsões e previsão; de categorização de objetos; no processamento de linguagem natural; na recuperação inteligente de dados; melhor conhecimento dos consumidores, tendências e apetências e para investimentos seguros na simplificação do acesso a produtos e serviços; aumento da disponibilidade no atendimento aos consumidores 24/7 e do nível de informação simplificada ao consumidor; na identificação e na escolha de produtos e serviços mais convenientes, sobretudo em situações idiossincráticas; na interpretação de dados; nas vendas, etc.
São, comummente, distinguidos quatro estágios de IA:
- Máquinas reactivas: IA limitada que só reage a diferentes tipos de estímulos com base em regras pré-programadas. Não usa memória e, portanto, não pode aprender com novos dados. O Deep Blue da IBM, que superou o campeão de xadrez Garry Kasparov em 1997, foi um exemplo de máquina reactiva.
- Memória limitada: a maior parte da IA moderna é considerada memória limitada. Ele pode usar memória para melhorar ao longo do tempo sendo treinado com novos dados, normalmente por meio de uma rede neural artificial ou outro modelo de treinamento. Aprendizado profundo, um subconjunto do machine learning – aprendizagem de máquina -, é considerado inteligência artificial de memória limitada.
- Teoria da mente: a teoria da mente não existe actualmente, mas a pesquisa tem avançado em suas possibilidades. Descreve que a IA pode emular a mente humana e tem recursos de tomada de decisão iguais aos de um humano, incluindo o reconhecimento e memorização de emoções e a reacção em situações sociais como um humano.
- Autoconhecimento: um passo acima da teoria da IA de IA, descreve uma máquina mística ciente da própria existência e tem os recursos intelectuais e emocionais do ser humano. Como a teoria da IA de mente, a IA de autoconhecimento ainda não existe.
A IA pode ser vista de forma mais limitada (estreita), compreendendo a execução de acções com base na programação e no treinamento, ou mais (gera), depreendendo-se nessa, capacidade de sentir, pensar e actuar como pessoa, vislumbrando, ainda, outro nível – superinteligência -, em que as máquinas funcionaram de maneiras superiores a uma pessoa.
Denotamos algumas desvantagens e vantagens da IA:
Desvantagens
Privacidade e segurança
A grandes quantidades de dados pessoais submetidas a IA para funcionar na íntegra, levantam preocupações sobre privacidade e segurança, especialmente supondo má gestão ou posse indevida de terceiros.
Substituição de postos de trabalho
Com o boom da quarta revolução industrial, acentua-se o medo de as máquinas substituirem os tradicionais postos de trabalho humanos e desencadearem um aumento considerável de desemprego a nível mundial. Deste modo, a medida que a automação dos serviços se for expressando, crescerá igualmente a desnecessidade de manutenção de muitos postos de trabalho, embora também possam ser criados postos de trabalho, especialmente nas áreas de manutenção, melhoria de infraestrutura e garantia de operação contínua dos sistemas automatizados.
Limitações em comparação com o cérebro humano
Pese embora a capacidade de armazenamento do sistema baseado em IA seja expansiva, o acesso e a recuperação das informações provavelmente não ocorrem tal-qualmente as conexões do cérebro humano, mesmo sendo a base das redes neurais.
Além disso, a IA sem integração com o aprendizado de máquina opera apenas de forma programada (estreita), o que, igualmente, limita a sua capacidade de inovar e operar de forma criativa nos mais diversos cenários, tal como os humanos naturalmente o fazem.
É indiscutível a superioridade das máquinas quando abordamos eficiência. Entretanto, a tecnologia ainda não pode substituir as relações humanas e o modo como criadas são as conexões no trabalho, que muitas vezes favorecem os resultados obtidos.
Dependência excessiva e falta de criatividade
A dependência excessiva da IA pode reduzir a capacidade humana de pensar criticamente e resolver problemas, outrossim, não obstante a possibilidade de a IA processar grandes volumes de dados rapidamente e identificar padrões, ainda carece da criatividade e do pensamento inovador que intrínsecos aos seres humanos. Cria-se dependência emocional e física, principalmente em função da praticidade e velocidade com que as tarefas são realizadas. Esses elementos podem ser prejudiciais às interações homem-máquina, à medida que nenhum ponto poderá ser efectivamente dependente do outro.
Vantagens
Precisão
A Inteligência Artificial tem uma taxa de erro mínima ou inexistente compararadas as acções humanas. Os erros são reduzidos e as hipóteses de maior grau de precisão são consideravelmente maiores, uma vez que as decisões são tomadas com base em informações previamente colhidas e as acções são determinadas por algoritmos, sem a interferência de humanos. Logo, além de velocidade, a IA fornece perfeição — e isso é essencial para torná-la uma tecnologia realmente eficiente.
Ininterruptibilidade
Contrariamente aos humanos, as máquinas podem trabalhar 24 horas, além disso, trabalham sem distracções.
Além de serem onerosos e, muitas vezes, demorados, esses procedimentos de troca de equipes podem gerar erros, principalmente quando os profissionais estão no início ou no fim do expediente.
Segurança
Na realização de tarefas perigosas, uma infraestrutura baseada em IA pode ser extremamente vantajosa. As máquinas não são afectadas por ambientes hostis, portanto, capazes de realizar tarefas que comprometeriam a integridade e a segurança dos seres humanos.
Previsibilidade
As ferramentas de IA são usadas nas mais variadas aplicações de previsão, seja para detectar fraudes. Por mais complexas que sejam as infraestruturas baseadas em Inteligência Artificial, muitas delas formadas por algoritmos, redes neurais e enorme volume de dados integrados em um hardware, nenhuma tecnologia actual será capaz de reproduzir o bom senso e a intuição humana.
Fim da primeira parte
