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Opinião

O que é o grau de liquidez de uma habitação?

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A preferência por liquidez é uma teoria económica que defende que os investidores preferem activos e títulos mais líquidos. Esta teoria foi desenvolvida pelo economista John Maynard Keynes.

No final do dia, no mundo financeiro habitacional, o grau de liquidez de uma habitação é determinado pelo tempo necessário para a mesma ser convertida em dinheiro. Por exemplo: o dinheiro no conta bancária e/ou no cofre é o activo mais líquido, enquanto a habitação, onde as famílias vivem de forma permanente, é um activo menos líquido, porque é muito difícil uma habitação permanente ser convertida em dinheiro.

Por exemplo, uma habitação destinada, exclusivamente, ao arrendamento a terceiro é um activo com grau de liquidez muito baixo, todavia uma habitação colocada à venda, num país onde o sistema financeiro de habitação é rápido a conceder crédito à habitação, ela torna-se um activo com um grau de liquidez elevado.

Dito de outra forma, a medida que o tempo mádio para a venda de uma habitação tende para um dia, a habitação torna-se um activo com um grau de liquidez muito elevado e a medida que o tempo médio para a venda de uma habitação tende para muitos dias infinitos, a habitação torna-se um activo com um grau de liquidez muito baixo.

Ouvido cerca de 1.000 pessoas, concluiu-se que em Angola, as principais justificações para a habitação ser um activo de baixo grau de liquidez, são:

1. As famílias têm na habitação memórias, apego e sentimentos, assim como outras afinidades que chegam a condicionar a decisão de colocar a habitação à venda, este comportamento não permite que a habitação seja vendida na velocidade ideal para a mesma ser convertida em dinheiro, pois a habitação além de ser um direito fundamental, também é um local onde se constroem lembranças, afectos e representa para as famílias um endereço de procura permanente para as pessoas próximas;

2. As questões de regularização jurídicas e as dificultardes registadas no processo de trato sucessivo;

3. As famílias esperam vender o imóvel apenas em cenários em que a venda possibilita o aumento de melhores condições de habitabilidade do que a anterior;

As informações recolhidas relativamente ao período 1975-1991, dão conta que neste períodos os angolanos que viviam nas habitações nacionalizadas ou confiscadas não tinha sentimentos de pertença das mesmas, nem tinha memórias dentro daquelas paredes, nem qualquer um sentimento ou apego que lhes pudesse manter preço a ela, fruto disto, a troca de uma habitação por outros era uma prática permanente, tem famílias que chegavam a trocar vivendas com apartamento, em geral famílias pequenas que viviam em habitações grandes trocavam mesmas com famílias grandes que viviam em habitações pequenas.

Entre 1992-2025, as famílias ganharam pelas habitações sentimento de pertença e depositaram nelas suas memorias, a tal ponte que hoje têm dificuldades de decidir sobre a venda das mesmas.

As instituições financeiras Bancárias, em processos de análise e decisão de crédito, principalmente em créditos hipotecários, têm preferência por garantias reais, aqueles activos que apresentam um grau de liquidez bastante elevado, buscando conciliar lucratividade com sua escala de preferência por activos com alto grau de liquidez.

Quando a habitação apresenta um elevado grau de liquidez, ela se torna, por si só, a garantia do crédito à habitação, para o efeito, o processo de despejo e de venda da habitação têm de ser céleres, neste contexto, a analise sobre o rendimento do tomador de crédito à habitação é dispensada.

O que o Estado deve fazer para que a habitação se torne um activo com elevado grau de liquidez? Será o tema da minha próxima reflexão.

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