Opinião
O perigo institucional da banalização do “homem” polícia
Nos últimos tempos – há coisa de um ano e meio ou pouco mais do que isso – tem sido construída, de forma consentânea, uma narrativa que, do nosso ponto de vista, não pode ser vista como normal, antes pelo contrário!
Tal narrativa (repetimos, na nossa percepção) consubstancia-se na imputação ao “homem” Polícia de factos que, independentemente do seu valor probatório, beliscam, de que maneira, à sua imagem e dos valores prosseguidos!
Vejamos alguns casos alinhados neste sentido e que são, infelizmente, para nós, claros indicadores de que a “orquestra” existe, embora, em muitos casos, às actuações sejam por mera ignorância do seu fim!
1° Construiu-se, de forma simplista, leviana e anedótica, uma opinião pública e publicada – que já sofre de “ejaculação” precoce – que o “homem” polícia é o mais corrupto de Angola (vide estudo da Ovilongwa, apresentado a 27 de de Julho de 2020).
Um estudo ou pesquisa, como quiseram designar, que não pode ser considerado por motivos técnicos bastantes, como a imprecisão na representatividade da amostra, da população alvo, dos métodos e metodologias, indispensáveis na investigação científica básica ou aplicada.
2° Uma outra matéria que, no mesmo sentido, contribui na banalização tem que ver com o anúncio, do INAC, segundo o qual o “homem” polícia é o que mais foge à paternidade.
À semelhança do estudo relativo à corrupção, desacompanhado de métodos científicos, a tese de que “os que mais fogem à paternidade são os polícias” apresenta outras falhas técnicas. Aliás, basta prestar atenção no mesmo que se percebe que falta quase todos os elementos para uma comparação quanti-qualitativa.
Tal é assim que não expõe os critérios científicos a que se baseou, mormente, número existencial de polícias, em todo o país, (população geral) não expõe à outra população estudada (exigência do método comparativo) essencialmente. Portanto, aquilo não passou de um mero discurso empírico que, no caso, serviu apenas para banalizar, ainda mais, o “homem” polícia, mesmo que acidental!
3° A forma como alguns agentes têm sido detidos, ultimamente, independentemente dos motivos, do prejuizo causado e que pode causar, em breve, alinha, de igual forma, no mesmo sentido. O da banalização!
Porém, sobre este “item”, a discussão não pode ser, a nosso ver, sobre se o ente que promove tais detenções, em voga, tem ou não competências para o efeito.
Esta é/ou seria, do nosso humilde ponto de vista, uma análise estacionária, intrínseca à forma dos actos e desfeita da substância, na essência da hermenêutica, pelo que devemos evoluir.
Devemos porque o que torna tais actos impuros, salvo opinião contrária e bastante fundamentada, não são os flagrantes delitos como tal. É a forma como eles são detidos, mormente filmados, com direito a delírios da população – como dissemos, que já sofre de “ejaculação precoce” – expostos nas redes sociais, na mídia, no geral, enfim, actos jocosos que, mais uma vez banalizam o “homem” polícia.
Para mais, em todos estes casos, praticados por acção ou omissão, o fim último tem sido, da nossa análise e sem sombras de dúvida, à banalização, depreciação do “produto” Polícia.
Repetimos – actos praticados por acção ou omissão – pois a petulância verificada nalgumas acções não deixa margens de dúvida de que no aprendizado do combate à corrupção, certamente, alguns ão de extrapolar e colocar em causa valores gerais e institucionais que todos deveríamos defender.
Dito isto, importa, desde logo, subsumir estes casos ao conceito da “banalização institucional” que, aliás, faz parte da nossa estampa:
Para isso, recorremos ao (conceitos.com. br. – 19.02.2021) para compreendermos o que venha a ser banalização e, na sequência, depreendemos que [ela] se refere ao acto em que um assunto importante é tratado de modo trivial.
Este tipo de circunstância pode acontecer de diversas maneiras, mas em geral envolve a desvalorização de um determinado assunto, tema [empresa, organização ou mesmo um Estado, por via das suas instituições].
Assim, o assunto em questão se trivializa e é tratado de maneira desrespeitosa. Um claro exemplo desta circunstância pode ser evidenciado nos programas que focam a vida privada de pessoas públicas e que as exibem sem levar em conta suas opiniões e de seus entes queridos.
No mundo actual é evidente a desvalorização de questões [instituições, individualidades] que antes eram consideradas de grande importância.
Por outro lado, este conceito se aplicado em economia internacional o “produto” Polícia está, hoje, ao nível de um telemóvel de marca Nokia, conhecido como “Nokia de lanterna” face aos telemóveis modernos.
Portanto, é um produto que se quer reduzir a zero, sem utilidade hodiernamente e que carece de reinvenção e, por conseguinte, de criatividade para tal.
Com isso, os resultados podem ser mais graves para o próprio Estado, pois, a banalização do “produto”, da “marca” Polícia tem, nada mais nada menos, do que consequências inimagináveis para o próprio Estado.
Aliás, engana-se quem pense que tais acções prejudicam o “homem” polícia na sua individualidade. Longe disso!
Os prejuizos adjacentes a estes actos, praticados por acção ou omissão, são do Estado que, no final, poderá enfrentar situações de anomia social, na visão do sociólogo francês Émile Durkheim, como a perda de autoridade, suberania interna e o controlo de tudo!
É aqui onde falamos em “PERIGO INSTITUCIONAL NA BANALIZAÇÃO DO “HOMEM” POLÍCIA”, porquanto uma Polícia cujos agentes podem ser detidos pela população e levados à esquadra, não respeitados por ninguém, que o automobilista não aceita entregar os documentos, que o marginal se recusa a ir à esquadra, que o violador recusa-se a cumprir a ordem deste, que o organizador de festas faz onde e quando quizer, que o vendedor senta onde bem entender, tudo fruto da forma como o “homem” polícia é tratado, é uma Polícia que não serve e, por arrasto, um Estado falhado e inexistente…
Esta é a nossa opinião, susceptível de resposta viradas à ideia e não ao autor enquanto pessoa!