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Opinião

O pai que não achei no meu pai – Edson Kassanga

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Qualquer ser humano nasce com as mesmas características psicológicas dos seus progenitores, mas quando ele entra em contacto com outras pessoas, seu carácter molda-se, podendo vir a desenvolver um carácter mais parecido com o dessas  pessoas do que com o das primeiras, demostrando que nem sempre “filho de peixe é peixe”. 

Recebi um telefonema pela manhã de alguém que jamais esquecerei. Nem mesmo quando o pó dos meus ossos forem espalhados, dissipados pelo vento seco da minha terra, sob o olhar imóvel; protector e atento do Cristo Rei, lá do alto da verde montanha, não hei-de esquecê-lo; porque  o seu afecto por mim determina mais o meu carácter, do que os laços sanguíneos que por ventura ainda tenha com o meu pai biológico, felizmente.

E foi a partir desse gesto estimulante de procurar saber da minha saúde, precisamente quando o sol começa a afastar a escuridão,  que confirma, mais uma vez, a ligação invulgar, muito profícua e profunda existente entre eu e essa entidade preenchida de ternura que eu não gostaria de tratar por padrasto; dado que, além deste, temos inúmeros hábitos em comum.

Neste exacto momento procuro esforçar o meu sistema nervoso central para que ele traga-me a recordação mais antiga que tenho do meu mentor e vislumbro apenas um objeto. Uma máscara pequena feita de um plástico leve pintado em verde alface, vermelho e  azul carregado, ambas de tom brilhante. Foi o primeiro presente que ele deu-me, obviamente numa época de carnaval; há mais de duas décadas.

Meu padrasto, muito comunicativo, afável, paciente, persistente, solidário, visionário… alguém que creio ter compreendido bem , assim como  aplicado a frase ” quando as palavras convencem, o exemplo arrasta”, pelo o facto de  ter-me dado uma educação baseada em exemplos decorrentes do seu próprio comportamento. Acredito que está sempre repensando nas suas acções com objectivo de evitar que dessas venham maus exemplos para mim. É como se me levasse consigo pra todos os lugares que tem ido ou pensasse  ininterruptamente em mim.

Entretanto, o que mais marcar-me de modo indelével tem sido a sua preocupação em preparar-me para vida. Houve  ocasiões em que tive problemas para os quais nem o mínimo de capacidade para resolvê-los tinha, e ele podia muito bem resolver por mim, mas como sabia que mais vale ensinar a pescar ao invés de dar peixe,  apenas dizia-me como solucionar. Fruto disso, hoje consigo dirimir problemas, inclusivamente mais complexos e o faço sem pre-recomendação. 

Portanto, as relações centradas na afeição são mais relevantes em comparação com as centradas nos laços sanguíneos, por isso o termo progenitor não é similar ao de pai, pois nem sempre “filho de peixe é peixe”. Um pai, dá carinho, faz dos seus actos um bom exemplo para educar, mostra o caminho ideial e prepara seu filho para os desafios que a vida impõe. Por estes e outros motivos tenho muito orgulho de chamar pai ao meu padrasto, agradeço-o por ser a pessoa com quem mais me pareço e espero que continuemos tão pancos um do outro por toda eternidade.

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