Opinião
O Mundo Mudou…
“O mundo mudou, posso senti-lo na água, posso senti-lo na terra, posso senti-lo no ar”, dizia Galadriel na abertura do filme “O Senhor dos Anéis”. Essa é uma verdade que precisa ser encarada com muita seriedade, sempre que nos empreendermos na jornada de reflexão sobre a situação actual da nova Angola.
Saber que o mundo mudou, nos ajudará a compreender que nunca existiu um tempo como esse em nosso país e que talvez não exista outro. O tempo chamado hoje é um tempo de transição para um novo mundo aberto à velocidade da luz. Embora estejamos “atrasados” em relação à outros lugares do mundo, não podemos nos esquecer de que os ventos invasores dos países do primeiro mundo, estão chegando também em Angola; podemos senti-los no ar e não há como negar que a mudança chegou. Um grande exemplo desses ventos é a chegada do COVID-19 em nossas terras. Ora este é de facto o maior exemplo de que estamos em um mundo globalizado, onde partilhamos tanto informações como pandemias à velocidade da luz.
No campo da tecnologia, essa mudança é tão visível que agora, podemos nos comunicar pelo Whatsaap, podemos navegar pelo Facebook Zero, já sabemos o que significa giga e megas; Outrossim, não estamos mais tão alheios aos acontecimentos no mundo; Na diáspora algumas pessoas, já sabem apontar no mapa e mostrar onde fica à África; algumas vão mais longe, evidenciando o conhecimento que em Angola se fala português; ou seja, de certa forma, estamos nos tornando “visíveis” aos olhos do mundo. Isso é bom!
É certo que, essas mudanças se caracterizam em novas oportunidades e portas abertas para atração de novos investimentos. Precisamos acordar e despertar para vida, não somos mais aquele país que estava mergulhado em guerra, onde seus habitantes lutavam pela sobrevivência diária, fugindo dos desafios diários impostos pelo ronco das armas. Esse cenário de se foi; depois desta pandemia nosso maior desafio será o de reerguer nossa economia, para evitar outra pandemia que pode ser agudizada pela fome e pelo desemprego.
Para tal, precisaremos nos livrar de alguns fantasmas que ainda assombram nossas portas e insistem em manter-nos reféns de um padrão econômico que não faz jus à essa nova realidade; Dentre eles, podemos destacar o fantasma da burocracia. Segundo o ranking do World Bank ( ver aqui ), Angola encontra-se na posição de número 177 ( numa comparação de 190 países ) em relação a abertura econômica e viabilidade de fazer negócios, o que mostra quão distante estamos de atingir os patamares de liberdade econômica aceitáveis e atractivos para grandes investimentos. Nesse quesito, não podemos deixar de aplaudir a recente iniciativa do executivo angolano na redução dos ministérios, isso sinaliza que de facto estamos preocupados com a redução do tamanho do estado, embora que à passos de camelão.
Um dos pilares deste atraso, deve-se ao excesso de burocracia por parte das nossas políticas de incentivos ao investimento e não só. É preciso entender que ”Com tantas regulamentações, vem a corrupção. A burocracia alimenta a corrupção. Uma coisa está ligada a outra”, dizia Robert Rotberg, em entrevista ao jornal o globo.
Isso significa que, quanto mais burocracia, mais controle e mais corrupção; Ou seja, torna-se praticamente custosa a atração de investimentos para alavancar a economia do país e consequentemente o desenvolvimento do bem estar social. Nas palavras de Murray N. Rothebard, “ a abertura do mercado também dá a maior liberdade de ação possível aos empreendedores, que arriscam capital para alocar recursos de maneira a satisfazer os desejos futuros da massa de consumidores da maneira mais eficiente possível. O mercado livre e competitivo também recompensa e estimula a inovação tecnológica, o que permite ao inovador ter uma pequena vantagem na corrida para satisfazer os desejos do consumidor de maneiras novas e criativas”
Na atual conjuntura do País é necessário nos desfazermos das burocracias e abrir o mercado, com finalidade de torná-lo atractivo à novos investimentos, pois serão eles os responsáveis pela geração de novos empregos e melhoramento da qualidade de vida dos angolanos. Não conseguiremos avançar à passos largos, nem competir com as economias vizinhas, se não combatermos com veemência essa patologia chamada burocracia e abrirmos o mercado.
*Tomás Camba, é especialista em Economia, professor de Filosofia, Escritor e Ensaísta.