Crónica

O monstro dentro de cada angolano

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Às vezes, os problemas que sentimos não crescem nas ruas de Luanda, nas estradas de Benguela ou nos bairros do Lubango; eles crescem dentro da nossa cabeça. O que fora parece pequeno, uma dívida, uma fila, um atraso de salários ou um trânsito infernal, aqui dentro ganha dentes, garras e voz. Não porque sejamos fracos, mas porque sentimos demais, pensamos fundo e carregamos responsabilidades que muitas vezes deveriam ser partilhadas.

Em Angola, o peso parece sempre maior. A economia que oscila, a burocracia que engole tempo, as promessas que não se concretizam; tudo contribui para que a mente, cansada, transforme pequenos obstáculos em monstros gigantes. Mas há algo que muitas vezes esquecemos: mesmo diante da pressão, mesmo com o coração apertado pelo medo do futuro ou pela insegurança do presente, continuamos de pé. E isso já é força. Isso já é coragem.

Nem todo enfrentamento exige ataque. Às vezes, em Luanda, no Lubango ou em qualquer cidade do interior, o que precisamos é pausar. Respirar. Acolher. Diminuir o problema começa quando paramos de lutar contra nós mesmos e nos permitimos reconhecer que não temos de carregar tudo sozinhos.

O que realmente assusta não é o tamanho da dificuldade, mas a solidão de carregá-la em silêncio. Por isso, seja gentil com os seus pensamentos. Nem tudo que a mente grita é verdade. Nem toda fila interminável, nem toda promessa incumprida, nem toda crise vai engolir-nos. Há caminhos que se abrem quando pedimos ajuda, quando descansamos, quando confiamos em Deus, na família, nos amigos.

Em Angola, como em qualquer lugar, não precisamos vencer tudo de uma vez. Precisamos apenas não nos abandonar. O monstro diminui quando a luz entra, a luz da esperança, do diálogo, do cuidado com a saúde mental e do olhar compassivo para nós mesmos. Escolha continuar, mesmo que devagar. Um passo de cada vez.

Porque, no fim, levantar-se apesar das dificuldades é o maior acto de coragem que podemos ter neste país onde o impossível insiste em se tornar rotina.

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