Opinião
O Futuro é África
* Por Tomas Camba e Davi Lago
Dezenove das vinte nações com população mais jovem do mundo estão na África, segundo dados da Organização das Nações Unidas apresentados no documento “World Population Prospects 2019”.
Angola, por exemplo, é o sétimo país mais jovem do mundo, com a média de idade de 16,7 anos. Os números são realmente impressionantes: em 2035 o número de jovens em idade de trabalho no continente será maior que a soma do resto do planeta. A força da juventude e os novos horizontes de integração industrial e econômica gerados pela área de livre comércio continental estabelecida em 2018 podem impulsionar grandes benefícios para as nações africanas. Contudo, dois aspectos estruturais não podem ser negligenciados pelas lideranças políticas: educação e tecnologia. Neste 25 de maio, Dia da África, é apropriado refletir sobre esses pontos centrais para o futuro.
A educação da juventude é uma peça-chave. Como afirmou Kofi Annan, “o conhecimento é poder. A informação é libertadora. A educação é a premissa do progresso, em cada sociedade, em cada família”. No entanto, o sistema educacional que existe hoje treina os estudantes a pensar e a reagir sempre da mesma maneira. Ademais, não é necessário enviar sempre os nossos melhores cérebros para fora do continente com intuito de receber melhor formação, podemos fazer isso aqui (em África), basta vontade política e investimentos sérios em nossos sistemas educacionais.
Grande parte dos países Africanos tem o que precisa para treinar e preparar seus jovens para torna-los grandes líderes — só é preciso estar disposto a investir o tempo para criar as bases, e começar a construir a partir disso. Em entrevista ao jornal Época Negócios, Patrick Awuah (fundador e CEO da Universidade Ashesi, em Gana) afirmou: “Quando penso no futuro da educação, vejo a África no centro. A população jovem está dobrando no nosso continente, e nossa força de trabalho será tão grande em 2050 que o continente estará puxando grande parte da economia mundial. É um momento animador para construirmos modelos que podem servir não apenas como soluções para a África, mas como faróis para o resto do mundo”.
Paralelo ao desenvolvimento educacional está a tarefa da reestruturação e inovação tecnológica. O investimento e atenção aos setores tecnológicos abrem inúmeras oportunidades de desenvolvimento cívico e social. Simbarache Moyo, acadêmico da Universidade de Witwatersrand na África do Sul, propôs quatro ações práticas: (1) estabelecer uma educação responsiva com currículos dinâmicos e atentos às demandas tecnológicas; (2) formular políticas claras para a economia digital com os devidos marcos legais; (3) expansão da infraestrutura digital para o aumento da conectividade africana; e (4) optimização das parcerias entre o setor público e privado para integração da juventude ao novo mercado de trabalho.
A tecnologia é uma das grandes oportunidades que os jovens africanos precisavam. Hoje é possível ver grandes startups lideradas por jovens africanos competindo com outros gigantes da tecnologia mundial. Não há dúvidas que isto trará grandes prosperidades para o continente e o colocará em destaque nos próximos anos. A tecnologia vai mudar a África (já está a mudar). No âmbito político, muitas nações fechadas, onde os jovens não podiam ecoar suas vozes em liberdade, hoje já o fazem; ora, isto tem sido possível através do avanço da tecnologia. Com ela também se inaugurou um novo paradigma político, facilitando a cobrança de transparência aos governantes e demais líderes políticos. É de grande importância que os países africanos na pessoa de seus líderes e representantes criem incentivos para encorajar os jovens a investirem e produzirem mais tecnologia.
Para a nigeriana Amina Sambo, a tecnologia desempenhará um papel importante no processo de unidade e desenvolvimento dos povos Africanos. Sambo afirma que “a tecnologia não tem cultura, género, idade, não tem religião. A tecnologia é algo que pode colmatar todas as falhas e unir-nos a todos”.
A África não é apenas a origem de toda a raça humana, mas seu destino.
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* Tomas Camba é Professor de Filosofia, Ensaísta e Escritor
** Davi Lago é ensaísta e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo
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