Opinião
O equívoco da autossuficiência: um olhar sobre as políticas de importação em Angola
As recentes decisões do executivo angolano de cancelar licenças de importação para diversos produtos de origem animal, como carne bovina e suína, levantam preocupações sobre a capacidade do país de atender à demanda interna e manter a qualidade dos produtos consumidos pela população. Embora a intenção de fortalecer a produção nacional seja louvável, é essencial avaliar se essa medida é realmente prudente e benéfica a longo prazo.
Uma das principais razões para manter importações, mesmo em um cenário de autossuficiência, é a diversificação de fontes de abastecimento. Contar apenas com a produção interna torna o país vulnerável a falhas devido a desastres naturais, pragas ou outras crises que podem afetar a produção. Além disso, a importação serve como um seguro contra esses imprevistos, garantindo que os consumidores continuem a ter acesso aos produtos de que necessitam.
Por outro lado, empresas franquias que representam marcas internacionais seguem padrões de qualidade rigorosos que muitas vezes superam os da produção local. Ao cancelar as licenças de importação, o governo pode inadvertidamente limitar o acesso dos consumidores a produtos de alta qualidade. Além disso, a competição com produtos importados incentiva os produtores locais a melhorarem continuamente seus processos e produtos, resultando em benefícios para o consumidor final.
Decisões unilaterais de cancelar importações podem, adicionalmente, afectar as relações comerciais com outros países. Angola, como parte da comunidade global, depende de acordos comerciais e alianças estratégicas que podem ser prejudicados por tais medidas. A manutenção de boas relações comerciais é crucial para o desenvolvimento econômico e para assegurar a entrada de investimentos estrangeiros.
Permitir importações incentiva também a inovação local, pois os produtores precisam se manter competitivos com produtos estrangeiros. Isso cria um ambiente de crescimento contínuo e adaptabilidade, essencial para qualquer economia moderna que deseja prosperar.
Outro ponto importante é considerar se os consumidores estarão dispostos a aceitar apenas produtos nacionais, especialmente em termos de preço, variedade e qualidade. Uma oferta limitada pode levar a preços mais altos e menos opções para os consumidores, prejudicando aqueles que já estão em situação econômica vulnerável.
Portanto, a decisão de cancelar licenças de importação deve ser cuidadosamente avaliada, levando em consideração não apenas a capacidade de produção nacional, mas também a segurança do abastecimento, a qualidade dos produtos, as relações comerciais e o impacto nos consumidores. Manter um equilíbrio entre a promoção da produção interna e a abertura ao comércio internacional é fundamental para o crescimento sustentável de Angola. As políticas devem ser formuladas de maneira a proteger os interesses dos consumidores e a fomentar um ambiente de competição saudável e inovação contínua.
Dessa forma, Angola pode garantir um futuro próspero e resiliente para sua economia e para seu povo.
Pitágoras Ascenção
14/02/2025 em 10:10 pm
Muito bem Van, pela análise profunda e concordo plenamente contigo, umas vez restringida a importação destes produtos encarece automáticamente a cesta básica!