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“O cinema bem feito dá muito dinheiro” – Entrevista com Henrique Sungo
Henrique Sungo Lussuekama, mais conhecido por Kito, nasceu a 27 de Março de 1980, na cidade do Huambo, onde viveu apenas dois anos, mas de origem étnica Bakongo, devido a origem dos seus pais. Posteriormente foi para Luanda.
Após sua participação no concurso mister Angola em 2002, obtendo o segundo lugar, começou a carreira de actor como coadjuvante em programas televisivos como; O “Janela aberta” e a novela “Vidas ocultas”. Após concluir o seu curso no Instituto Pré Universitário de Luanda (Puniv), no curso de Ciências Exactas, Henrique entrou nos meandros cinematográficos da cidade de Luanda, participando de programas televisivos e novela nacional com figurino.
Em 2003, viajou para Portugal à procura de mais oportunidades, tendo ficado um tempo em Lisboa, depois rumou para Londres onde começou a sua vida.
Henrique encontrou oportunidades na moda, visto que em Luanda já era modelo agenciado e a experiência anterior o ajudou a conseguir uma agência em Londres.
Em 2016, estreou-se como escritor e publicou o seu primeiro livro com muito sucesso. Quatro anos depois estreou-se afincadamente como realizador, guionista e produtor de filme, realizando um documentário de curta metragem sobre a Covid-19 na comunidade Palop em Londres, sagrando-se vencedor do melhor documentário de curta metragem do festival de filme denominado LAHFF.
Hoje, em 2024, conta com quatro obras literárias publicadas. Henrique é psicólogo desportivo, escritor, contador de história, consultor de nutrição desportiva e filantrópico por devoção e amor.
Leia abaixo a entrevista exclusiva ao Correio da Kianda
Sendo alguém que tem uma trajectória longa pelo cinema Angolano, que análise faz sobre o estado actual desta indústria?
O estado actual não é dos melhores, mas olhando para 10 anos atrás houve uma pequena melhoria, com mais produção de filmes, alguns com boa qualidade, muitos sem qualidade, poucos com boa qualidade, mas aos ventos de esperança e de avanço na área do cinema cresceu um pouco, tanto que já há uma faculdade de arte e cinema, ainda há muito trabalho por se fazer, precisa-se de mais apoio e mais direcção, e acrescenta que se fossem feitos investimentos a 10 ou 20 anos atrás estaríamos a colher os frutos, na sua visão ainda esta tudo muito lento mas é o que temos, e aponta que já há algumas jovens a fazerem formação no exterior referente a área.
Os actores angolanos estão prontos para altos voos?
Na minha opinião, os aatores angolanos ainda não estão prontos para grandes voos pois falta muito trabalho, podemos encontrar bons actores que podem conseguir fazer bons papeis internacionais, mas na minha visão podem ser 2 ou 4 actores. Tudo isso deve-se a falta de investimento no sector.
Já pensou em fazer algum filme ou documentário totalmente produzido em Angola e com actores angolanos?
Há doi anos gravei três documentários de curta metragem em Angola, com actores angolanos, peso embora ainda não tenham sido estreados em Angola, e ainda pretendo fazer mais documentários e mais filmes. Tenho vários projectos para Angola, Cabo Verde e outros países Africanos de Língua Portuguesa.
Hoje não temos novelas de produção local a serem exibidas em horários nobres, o que acha que falta?
Isso demonstra a necessidade de um esforço conjunto entre o Ministério da Comunicação, do Ministério da Cultura e das pessoas que têm a incumbência de organizar esta área. É inadmissível, pois o que não falta são pessoas com capacidade de fazer acontecer, e para se fazer acontecer é necessário que haja produção, e os angolanos já mostraram que estão dispostos a fazer.
Por aquilo que conhece do trabalho angolano na área do cinema, o que falta para que tenhamos mais divulgação e consumo?
Para que haja mais divulgação e mais consumo, o que falta por parte dos angolanos é cultura, pois os angolanos mostram que não têm cultura de cinema nem de leitura, a falta desses hábitos pesa bastante, aqui acabamos por ter dois elos que não se ligam, falta de hábito e pouca produção, e há falta de empatia dos órgãos de comunicação do estado em receber o trabalho feito por angolanos.
Acha que o público angolano também dificulta?
Não é propriamente que o público dificulte, mas sim a falta de cultura, pois cinema também é Educação e se temos uma educação débil automaticamente o consumo também será debilitado, e lembra que a falta de qualidade de alguns trabalhos desestimula o público, logo é necessário que se faça um trabalho rígido nas bases.
Em modo comparativo, conseguiria ter o crescimento que tem sendo o Henrique Sungo se não tivesse emigrado?
Se não tivesse emigrado não teria a evolução que tenho, pois as formações com qualidade são de extrema importância.
Qual a sua referência do cinema angolano?
São Raul Rosário e Fernando Mailoje, que é um grande actor e que se fosse bem investido estaria muito mais longe.
Se lhe dessem a oportunidade de liderar a área cinematográfica, o que mudaria?
Seria estimular o Estado a construir mais instituições para cursos de actores por toda Angola, sabendo que a formação é a chave.
Que projectos têm em carteira?
Neste momento estou em fase de divulgação de documentários que são cerca de seis, que já foram exibidos em Londres, em Janeiro, e em Angola, e pretendo levar para França e para Portugal, e tenho outros projectos em carteira que ainda não posso divulgar.
Está satisfeito com a sua trajectória?
Sim, pois constam prémios, nomeações, filmes e documentários realizados, livros lançados, mas ainda assim continuo a trabalhar arduamente para continuar a crescer.
Que conselhos deixa para qualquer jovem que pretende migrar para o mundo do cinema?
É estudar, treinar, encenar em casa com os amigos, ler muito sobre o cinema para que tenha um conhecimento básico, pois a teoria e a prática quando andam juntas dão uma coisa boa, e de lembrar que o cinema bem feito dá muito dinheiro.
Por Judith da Costa