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Opinião

Nossa Memória Colectiva: 15 de Março foi a 56 anos

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Pode-se reparar que o objectivo principal para os participantes ou protagonistas da odisseia de 4 de Fevereiro era a conquista da liberdade e livrar a pátria do jugo colonial português. Para efectivação desta acção era necessário obtenção de armas de fogo e munições para luta pela independência de Angola, ou dito de outra forma, para mostrar ao Governo da Metrópole o desejo de independência inspirada por parte do povo angolano.

É sob está acção ardente e desejo de liberdade que muitos angolanos na época abraçavam os movimentos nacionalistas e mergulhavam nas actividades subversivas. Há nacionalistas entre nós que sustentam que a luta nacionalista preconizada por angolanos era para conquista de melhores condições de vida e, também, da guerra aos brancos, isto é, de lutar contra os brancos e expulsá-los da “terra natal”. É a luz deste próposito que no dia 15 de Março de 1961, os dirigentes da UPA que haviam infiltrado a partir da fronteira do Congo Leopoldville (actual Congo Democrático), grupos de activistas promoveram o levantamento geral em duas vastas áreas do saliente Noroeste de Angola.

Este levantamento cingia-se, um junto à fronteira norte da província do Zaire e outra numa das chamadas regiões do café, englobando parte da província do Uíge, Luanda e Kwanza Norte. Estas acções segundo Pezarat Correia, prosseguiram e se alastraram até aos finais de Maio em todas as províncias que iam sendo afectados e envolvia ainda o Norte de Malange, onde assumiu-se características clássicas de uma vaga de terrorismo sistemático, destacando-se pela sua violência e barbarismo e traduziu-se na época num autêntico massacre indiscriminado, indiferente a idades, sexos ou raças, de todos os indivíduos, desde que vivessem ou trabalhassem nas pequenas povoações ou nas fazendas controladas por brancos.

O 15 de Março, em relação a 4 de Fevereiro, muitos autores como Luís Manuel Brás Bernadino, Dalila Cabrita Mateus, Georg Wright, Douglas wheeler & René Pélissier, René, Álvaro da Silva Tavares, David Deutschmann, sustentam que, em termos de caracterização concreta do inicio da luta armada em Angola, foi em 15 de Março e não o 4 de Fevereiro. Porque? Por que, o 4 de Fevereiro não teve influência directa dos movimentos independentistas nos seus acontecimentos. Ela, tratava-se de pequenos grupos armados clandestinos não organizados e alguns sem filiação ideológica ou político-partidária, que a Polícia Internacional e de Defesa de Estado (PIDE) já tinha identificado, considerando-os de desorganizados e sem táctica combativa em 1959 e 1960 (Entre estes pequenos grupos estava o Movimento para a Independência Nacional de Angola (MINA), o Partido Unido para a Luta de Angola (PULA), o Movimento Independentista Africano (MIA) e o Movimento Anti-Colonialista (MAC) entre outros, orientados pelo Cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves, em coordenação com a Direcção da UPA (a partir de Kinshasa) com o qual mantinha contactos secretos desde 1954).

Contudo, o aproveitamento político foi imediato e as acções de guerrilha iniciaram-se com os massacres da designada «Campanha da UPA», iniciada em 15 de Março de 1961 (o armamento fora fornecido pela Tunísia na líderança do Presidente Habib Bourguiba, tendo sido enviados através da Embaixada em Leopoldville, num total de cerca de 500 fuzis) recorrendo a um recrutamento forçado, que chegou a ter 25 000 homens (embora deficientemente armados) na província do Kwanza-Norte, Uíge e Zaire, o que levou à morte de cerca de 300 brancos e 6.000 negros.

Para Professor Arsène Mbah, os dirigentes da UPA, sobretudo Holden Roberto, tinham dado as suas palavras de ordem, incitando as populações angolanas à rebelião armada contra a autoridade colonial. E ao invés do que se tinha passado no 4 de Fevereiro em Luanda, as insurreições do Norte desenrolaram-se de maneira anárquica, demonstrando assim a ausência duma verdadeira estratégia de libertação nacional. Portanto, os assaltantes que de facto não tinham nenhum projecto político consequente, nem uma prévia formação ideológica, não fizeram nenhuma distinção entre os objectivos militares, símbolos de domínio colonial português e a população civil portuguesa – além disso, os manifestantes armados levados pela sua exaltação, executaram alguns compatriotas cuja única culpa era serem mestiços, negros assimilados, ou ainda, terem nascido na região do Sul de Angola.

Este ataque anti-português executados por nacionalistas angolanos militantes da UPA, iria mais tarde fazer a sua entrada na história de Angola e do nacionalismo angolano contemporâneo, para estigmatizar o início da libertação nacional, levada avante desta feita sob a conduta da UPA. Esta acção mereceu o seu destaque como também a condenação, dada a natureza brutal ou selvajária das mortes.

Para Basil Davidson, não há dúvidas sobre a paternidade das acções de 15 de Março – elas pertencem a UPA. Portanto, muitos nacionalistas não pertecentes à UPA, receberam em 14 de Março um comunicado, informando-os que a guerra começaria «amanhã». Por isso, não foi uma explosão espontânea como muitos pensaram então, incluindo algumas testemunhas como o Punza, que estava no local quando toda a acção começou. Embora da demora da assunção dos actos pela UPA, parece certo, é que a mola real da revolta tinha sido obra ou trabalho do dirigente da UPA, o Álvaro Holden Roberto, que segundo os seus depoimentos prestados mais tarde, competia-lhes (militantes e simpatizantes da UPA), deviam destruir pontes, incendiar searas e casas, interromper as linhas portuguesas de comunicação e por último atacar os campos de aviação.

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