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A nomeação do Ministro – Bastidores
Por: Ernesto Samaria
Depois de ler o relatório do Gabinete da inteligência, o Presidente baixou as páginas e riu.
– Com que então vocês excluíram o candidato da Huíla porque é impotente?
O secretário de Inteligência estremeceu. Não sabia se aquilo era uma pergunta ou uma reprimenda. Falou com dificuldades:
– Si… sim Senhor Presidente. Esse era um dos segredos dele. Tivemos que exclui-lo porque achamos que as pessoas impotentes estão sujeitas a chantagens. E como o Camarada Presidente mesmo recomendou, o sujeito que vai assumir esse cargo tem que ter um grande nível de confiança.
O presidente começou a rir novamente. O secretário de inteligência sentiu-se tentado a rir também, mas travou a quatro rodas. Com o chefe nunca se sabe.
O Presidente levantou-se da cadeira, sem olhar para ele. Era uma cadeira especial, de encosto alto, com apoios lisos e bastante confortáveis. O Presidente aproximou-se da janela. Parecia divertido, pois, não parava de rir., reparou o Chefe da inteligência.
– Impotente, ah! — O Presidente tirou o relatório da mesa e começou a ler em pé. De repente, encarou o Chefe da Inteligência. O homem quase se enfiou para dentro da cadeira. O Presidente falou com seriedade — E essa impotência não tem tratamento?
– Não, chefe. Temos cópias dos exames que ele fez na Europa. Médicos especialistas tentaram de tudo e nada. Sabemos também que tentou tratamento tradicional na Ponta Negra. Também não deu certo.
O Presidente estava pensativo.
– E esses três candidatos que vocês apresentam foram todos muito bem investigados?
– Sim, Chefe. Com excepção de um deles, estão todos limpos.
– Qual deles?
– O primeiro da lista, chefe.
– E o que é que ele tem?
– É uma coisa sem importância, Excelência. Por isso, não mencionamos no relatório.
Segundo constatações da inteligência, o Candidato chegou a morrer de coléra quando tinha 11 anos. Ressuscitou milagrosamente dois dias depois, por força de uns truques de feitiço que o avô fez.
O Presidente arregalou os olhos, admirado. Olhou para o Chefe da inteligência com uma cara de quem não gostou do que ouviu e falou:
– Que história hein! Um é impotente, o outro é morto vivo. E vocês acreditam nesses dados absurdos da inteligência?
– Não, chefe. Não acreditamos que esse relato da ressurreição seja verídico.
– Mas então, aonde é que vocês vão buscar essas histórias?
– Não, chefe. Os nossos operativos nos municípios as vezes não têm nada para fazer. E quando lhes pedem para investigar determinadas informações, exageram, na tentativa de impressionar.
– Ok. Vamos lá despachar isso. Quando é que devo dar a minha decisão sobre quem vai ocupar o cargo?
– Espera-se que seja até ao final de semana Chefe. A Comissão do Partido vai trabalhar até Domingo a espera da deliberação final do Chefe.
– A Comissão… — murmurou o Presidente. — A Comissão tem alguma recomendação para este cargo?
– Não, Chefe. Deixaram tudo nas mãos do Chefe.
– Está bem. Então, anote aí a minha decisão.
– Mas já, chefe? Não vai pensar um pouco?
– Não. Se é urgente, é para despachar. Aponte aí: Vai para esse cargo o Candidato da Huíla. Eu gosto dele e acho que ele é a pessoa certa para o lugar. Liguem já para ele, quero comunicar-lhe pessoalmente e encomendar a Governadora em Cabinda uma remessa de pau de Cabinda para o rapaz. Assim não terá problemas de chantagens e nós teremos um homem competente a trabalhar.
Foi assim que me nomearam ministro em Janeiro de 2027.