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Nicolás Maduro rejeita convocar eleições ou abandonar o poder
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, rejeitou a possibilidade de abandonar o poder ou de convocar novas eleições presidenciais no país, porque não aceita “ultimatos de ninguém”, numa entrevista televisiva divulgada no domingo.
Falando ao canal televisivo espanhol La Sexta, Maduro sustentou que “[o Presidente dos Estados Unidos] Donald Trump impôs ao Ocidente uma política equivocada” sobre a Venezuela e declarou: “Não vamos submeter-nos”.
Inquirido pelo jornalista Jordi Évole sobre se em algum momento pensou em ir-se embora, depois de o presidente do parlamento, Juan Guaidó, se ter autoproclamado a 23 de janeiro Presidente interino da Venezuela, Maduro respondeu que não tem razões para tal.
“Mas porquê, se o povo me elegeu por seis anos?”, declarou, acrescentando: “Creio que o que é bom para o meu país é que se respeite a Constituição. Eu sou o primeiro a fazê-lo, eu jurei respeitar e fazer respeitar a Constituição e é esse o meu dever”.
O jornalista iniciou a entrevista em exclusivo com Nicolás Maduro falando da situação que muitos jornalistas vivem atualmente na Venezuela: “Sinto-me um privilegiado, mais que companheiros que, nestes dias, foram detidos ou deportados do seu país”.
O líder chavista declarou que “na Venezuela há pleno exercício da liberdade de expressão” e negou qualquer detenção de jornalistas.
O problema, explicou, é a existência de “uma campanha” para fazer “a Venezuela parecer um monstro numa ditadura”.
“Qualquer facto que suceda é magnificado para se ir somando à campanha permanente de desgaste e justificar qualquer coisa que possa acontecer contra o nosso Governo e país”, indicou.
Quando o entrevistador lhe perguntou se se sentirá responsável se a crise institucional na Venezuela acabar mal, Maduro assegurou: “Não vai acabar mal”.
“Temos experiência de 20 anos de luta, nós somos realmente uma força popular com carácter histórico, com um projeto e com a liderança do país”, insistiu.
De qualquer forma, o dirigente chavista fez saber que “para o bem ou para o mal”, assume “toda a responsabilidade”, razão pela qual tenta sempre “agir de boa-fé”.
Sobre a hipótese de eclodir uma guerra civil na Venezuela, o Presidente do país observou que “nesta altura, ninguém pode responder com certeza, tudo depende do nível de loucura e de agressividade do império do norte”.
Confrontado pelo entrevistador com uma frase de Hugo Chávez, proferida depois de subir ao poder — “Nunca mais as armas, nunca mais a violência” -, Maduro argumentou que a situação mudou, porque agora a Venezuela está a ser “ameaçada pelas maiores potências do mundo”.
“A opção militar está em cima da mesa de Donald Trump, temos que preparar-nos para defender o direito à paz”, disse o líder chavista.
O jornalista contrapôs que “milhares de venezuelanos inocentes podem acabar pagando com a vida” e Maduro insistiu que isso só acontecerá “se o império norte-americano atacar o país”.
A propósito do prazo de alguns dias estabelecido pela União Europeia (UE) para o Presidente venezuelano convocar eleições no país, Nicolás Maduro disse: “Não aceitamos ultimatos de ninguém”.
“É como se eu dissesse à União Europeia que lhe dou uns dias para reconhecer a República da Catalunha”, declarou.
Além disso, acrescentou, “porque é que a União Europeia há de dizer a um país do mundo que já realizou, no devido momento, as suas eleições presidenciais, que as repita?”.
A mensagem que Maduro deixou à UE sobre o ultimato para convocar novas eleições foi: “Não darei o braço a torcer, não voltem a subestimar a Venezuela”.
Sobre os dados das presidenciais que o Presidente venezuelano ganhou em maio de 2018 – um escrutínio que, aliás, teve o mais elevado nível de abstenção -, o jornalista perguntou-lhe se foram umas eleições válidas, depois das numerosas análises internacionais que puseram em causa essa validade, e também se não quer convocar outras por medo de as perder.
“Não me nego a convocá-las, há eleições em 2024. Não nos interessa para nada o que a Europa diga da Venezuela, a Europa que se encarregue dos seus problemas, como o desemprego ou a migração”, retorquiu.
Apesar de dados da ONU indicarem que mais de 2,3 milhões de venezuelanos abandonaram o país desde 2015, fugindo à pobreza e à instabilidade, Maduro nega que haja uma crise humanitária na Venezuela, defendendo que o que existe é “uma guerra económica brutal”.
“A Venezuela não tem uma crise humanitária, tem uma política de atenção social, mas não lhe permitem paliar as feridas da guerra económica”, disse o dirigente, acrescentando que “muita gente que deixa a Venezuela vai ao engano, vai com uma esperança que é um falso horizonte”.