Análise
Nepal em ebulição: o poder jovem desafia o establishment
O que está a acontecer no Nepal não é apenas uma crise política: é uma ruptura histórica, onde a Geração Z ocupa as ruas para dizer com voz alta que a relação entre povo e política se partiu.
As faíscas da contestação
Tudo começou com o bloqueio de 26 plataformas sociais incluindo Facebook, X e YouTube no dia 4 de Setembro de 2025, sob o pretexto de obrigar empresas tecnológicas a registar-se com o governo. A verdade? Uma ruptura directa com a vida digital da juventude que, com média de 25 anos, representa metade da população e vive online.
O levante
As mobilizações começaram em Katmandu e alastraram-se ao país inteiro. Em apenas um dia, pelo menos 19 jovens morreram sob fogo da polícia, com mais de 100 feridos. Os manifestantes invadiram o Parlamento, incendiaram o complexo do Singha Durbar sede do poder executivo e até destruíram residências de líderes políticos.
Colapso do governo
Perante a escalada de violência e caos urbano incluindo o encerramento do aeroporto internacional e toque de recolher indefinido, o primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou ontem dia 9 de Setembro de 2025. É o fim formal do seu governo, instaurado em julho de 2024 e o quarto desde a abolição da monarquia em 2008.
Estrutura fracturada
Nepal nunca foi pacífico desde o fim da monarquia. Já teve 14 governos em 17 anos todos frágeis, efémeros e reaCtivos ao caos político. Este evento pode ser o ponto de viragem entre um regime enquistado e uma transição radical.
Frustração geracional
A revolta não foi apenas contra um bloqueio digital: foi contra nepotismo, má governação, falha na criação de emprego e a desigualdade simbólica dos “nepo kids”. A nova geração quer uma gestão pública mais transparente e uma economia que lhes pertença.
Interpretação geopolítica
* Estado vs juventude digital: O governo optou por controlar a mensagem em vez de responder às queixas da sociedade jovem. Isso foi o estopim de um movimento com fúria massiva.
* Vácuo institucional: O poder automático pode recuar, mas a “rua” quer tanto a dissolução do Parlamento, como um governo de transição e reforma constitucional.
* Influência externa: China e Índia observam com atenção. O equilíbrio regional pode ser sacudido se o Nepal entrar numa interregno violento.
Opinião e recomendações
O Nepal está no limiar: pode surgir um rearranjo político inclusivo ou um colapso institucional.
A solução mais eficaz envolve:
* governo de transição com tecnocratas e representantes da sociedade civil jovem,
* reformas profundas de transparência e regulação política,
* diálogo nacional estruturado para evitar um apagão institucional.
Este momento Comunica: a era digital não aceita mais governos fora do ritmo. A nova geração prefere ação direta em vez de paciência institucional.
A revolução nepalesa ainda está a montar os primeiros atos — mas já grita as futuras cenas de um país que se recusa a continuar refém da política antiga.