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“Não se pode admitir que ainda tenhamos países africanos com sérios problemas de base”

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Pedro Moreira é especialista em Relações Internacionais e Política Africana. A conversa com ele começou com a recente participação do Presidente João Lourenço no Fórum França/África. O académico entende que a juventude africana deve ser valorizada para permitir o desenvolvimento do continente africano.

Leia abaixo:

Como olhou para a recente a participação do Presidente João Lourenço no Fórum França/África?

A participação do Presidente João Lourenço, no fórum para o investimento em África, por iniciativa do presidente francês, Emanuel Macron, vem demonstrar que a França, vem se sentindo ultrapassada pelas outras potências mundiais no que tange o investimento em África em diversas áreas,  que não seja no ramo  Petrolífero, neste caso em particular em Angola. Angola  precisa de  atrair investidores  nas diversas áreas para ajudar o grande déficit do desemprego que Angola tem enfrentado  desde o início da pandemia que se vem  agravando “dia após dia”. De salientar que não é, não é o  primeiro fórum, em que Presidente da República  participou todos eles no  âmbito de  atrair investidores.

É preciso continuar atrair investidores mas também precisamos  diminuir a burocracia nas instituições  que tratam deste assunto para que os investidores, não desistam de cá virem investir. Sabemos que a burocracia ainda é um grande problema que temos visto nas nossas instituições e isso desencoraja qualquer um investidor, porque a mesma é um  motivo para o incentivo à  corrupção, que é um mal que o governo do presidente João Lourenço vem combatendo desde a sua tomada de posse.

Que desafios e oportunidades o continente africano oferece?

O continente Africano é o berço da humanidade considerado um continente virgem em recursos humanos e mineiras. Os desafios que o continente africano tem para enfrentar são enormes, desde o combate a corrupção que é um mal que afecta todos os países de África uns, com maior relevância e,  outros com  menos, as políticas de integração social na sua maioria dos governos africanos, tem  falhado muito por causa da corrupção e faz com  que  aumente os níveis de pobreza na maioria dos países. 

O que a África tem a oferecer aos seus filhos e ao mundo?

O que os governos dos países africano devem oferecer para os seus governados é uma governação virada para os interesses da população apostando a cada vez mais Educação, Saúde e projectos de investigação científica para fazer com a África se torna uma potência e deixar de depender de ajuda dos outros continentes. Porque não é normal numa altura destas que o mundo vive uma pandemia nenhum país do continente Africano conseguiu desenvolver uma vacina da Covid-19. Tudo porque as políticas públicas dos governos têm  fracassado por causa da falta de investimentos nas áreas principais como já referi, na Educação e Saúde, que são consideradas uma das principais chaves para o desenvolvimento de um país.

Quando é que África vai deixar de ser visto como um continente de pedintes?

A África só deixará  de ser visto como um continente pedinte quando os governantes passarem a colocar em prática o pensamento dos panafricanistas, que tinham como lema: ‘Uma África independente a todos os níveis virada para os seus filhos’, devemos fazer uma auto-reflexão o porquê continuamos pedir quando na verdade uma parte dos recursos humanos ao nível mundial está em África? A resposta de Tudo isso é visível na Má governação, corrupção e o clientelismo. Estes factores continuam a fazer com que os africanos continuem a ser pedintes e comprometendo o futuro da nova geração, porque muitas vezes os empréstimos feito não são alocados em  projectos sociais, como a aposta nos recursos humanos, para a criação do homem do futuro.

África é, do ponto de vista territorial, o maior de todos.  Tem também o maior número de países, comparativamente a Ásia, Europa, e América. 77% da sua população é jovem com menos de 35 anos. Tem as    maiores terras aráveis, mas continuamos a ter uma região continental subdesenvolvida.  Afinal, qual é o problema de África?

Meu caro, o problema é sempre o mesmo: a má governação. A aposta nos  recursos humanos e a boa práticas da governação. Não se pode admitir que em pleno século 21 ainda tenhamos países africanos, até ricos em recursos minerais, mas com sérios problemas de base. Tudo por causa das más políticas implementadas pelos governos destes países, isso não tem como deixar de ser um continente subdesenvolvido porque alguns dirigentes africanos continuam teimosamente com as más práticas e levam o dinheiro, que as vezes lhe são concedido por empréstimo em nome do Estado, para o Ocidente comprando mansões e as vezes até investindo nestes países que são os seus próprios credores. Isso até  parece uma piada mas infelizmente é essa a realidade de muitos países africanos.

Vejamos o seguinte:  temos  terras aráveis mas não conseguimos transformar uma agricultura sustentável quando temos uma população jovem rondando os 77%. Ou seja, se os governos adoptassem uma política de Estado e nação, como vemos na sua maioria, muitos países africanos em que não  pensam   em  construir um projecto de nação para que as gerações vindouras possam usufruir do mesmo e dar a continuidade deste mesmo projecto.

Como travar a onde de emigração de cérebros?

A melhor maneira de travar a onda de emigração e a fuga de cérebros  africanos  é a aposta na juventude, dando oportunidade e condições básicas para que o mesmo não se sinta na necessidade de abandonar o seu pais de origem, valorizando o seu potencial e criando condições para que o mesmo se sinta integrado na sociedade, seja qual for a sua crença religiosa ou sua ideologia política. Apostar sempre no homem novo para fazer com o mesmo se sinta inserido nas políticas adoptada pelo governo.

A maioria dos africanos, principalmente jovens, sonha em sair do continente, ao mesmo tempo que vemos muitos europeus, asiáticos e americanos a vir para os nossos países, porque dizem que há aqui muitas oportunidades. Que oportunidade são essas que os próprios filhos não veem?

A África é um continente virgem e com recursos mineiras em quase todo seu solo, então é normal que várias pessoas do universo global vêm a África com o seu ” El dourado”. Por incrível que pareça mas muitas vezes chegam à ter mais oportunidades do que o próprio africano, isso infelizmente é um facto que faz com que muitos dos jovens africanos se sintam na vontade de emigrar por ser sentirem excluídos no seu próprio país, como na verdade deveria ser diferente. Quando deveria se juntar o “Know-how” para potenciar os jovens nativos, para depois darem a continuidade daquilo o que aprenderam. Mas infelizmente muitas tem sido ao contrário não vêm outra saída a não ser a emigração em busca de melhores oportunidades na Europa,  as vezes emigram em condições totalmente difíceis colocando em risco as suas vidas no mar mediterrâneo e não só.

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1 Comentário

1 Comentário

  1. António Daniel Libermann

    26/05/2021 em 8:39 am

    Angola vive grande défice de empregos, ou de desemprego?

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