Politica
Não legalização do PRA-JA foi benéfica para UNITA e prejudicial para o MPLA, 2027 pode ser o inverso
O PRA-JA levou seis anos para ser legalizado pelo Tribunal Constitucional. Abel Chivukuvuku, que ao longo desses anos todos foi sendo tomado como estando fragilizado politicamente, face aos sucessivos chumbos que o seu projecto conheceu, resistiu a tudo. Teve a solidariedade de alguns sectores da sociedade civil, e, como já advertia (que mesmo que o PRA-JA não fosse legalizado, participaria das eleições) acabou por ser o candidato a vice-Presidente da República pela lista da UNITA, e tido como peça fundamental para os resultados que a UNITA obteve no pleito eleitoral de 2022.
O partido de Abel Chivukuvuku, formalizado pelo Tribunal Constitucional em 2024, é hoje, apesar do pouco tempo de legalização, uma verdadeira ameaça à marcha que a UNITA vinha tendo rumo ao poder em Angola. Em Junho de 2024, pouco antes de sua formalização, o Correio da Kianda havia produzido o texto analítico, onde referia que a manutenção do então «status quo» do PRA-JA acabava por ser benéfica para a UNITA de Adalberto Costa Júnior.
E após os novos factos fica mais evidente a certeza constante naquele texto de cariz analítico. É que, Abel Chivukuvuku é um animal político de reconhecida capacidade entre os angolanos, e o seu sonho de vir a ser Presidente de Angola é bastante antigo, sendo que o mesmo faz questão de o dizer por onde quer que vá.
Tudo visto e ponderado, facilmente se percebe que a agregação pouco complexa do seu projecto político à UNITA, sob capa de plataforma Frente Patriótica Unida (FPU), resultou do facto de o PRA-JA não ter sido legalizado à data dos factos, o que não oferecia outra opção aos mentores do projecto, que se manifestavam ávidos por participar no pleito eleitoral passado (2022), depois do «desenlace» com a CASA-CE.
Portanto, a não legalização do PRA-JA na altura acabou evidentemente por ser benéfica para a UNITA, tendo em conta que o partido fundado por Jonas Savimbi conseguiu resultados nunca antes visto ao longo de toda a história da democracia angolana.
Em 1992, por exemplo, a UNITA, sob liderança de Jonas Savimbi, elegeu 70 deputados, e em 2008, período em que se realizou as primeiras eleições legislativas depois da assinatura de paz entre o Governo e a UNITA, em 2002, já sob presidência de Isaías Samakuva, elegeu 16 parlamentares.
Entretanto, em 2012, igualmente sob liderança de Isaías Samakuva, a UNITA conseguiu eleger 32 deputados, e em 2017 conseguiu 51 assentos.
Foi com a liderança de Adalberto Costa Júnior, o mentor da estratégia que juntou à UNITA o PRA-JA e o Bloco Democrático, que o maior partido na oposição elegeu 90 deputados, tendo o MPLA perdido a sua constante maioria qualificada na Assembleia Nacional, com a eleição de apenas 124 deputados.
E o PRA-JA de Abel Chivukuvuku é tido como sendo, a par da UNITA, um dos principais responsáveis por esse resultado, sobretudo quando se olha para a queda que a CASA-CE registou, ao ter perdido todos os 16 deputados eleitos em 2017, altura em que a referida coligação era liderada por Abel Chivukuvuku.
Observando os factos, não há dúvida do papel positivo de Abel Chivukuvuku nos resultados da UNITA, bem como o prejuízo que o político causou ao MPLA, sendo que hoje os ‘camaradas’ não conseguem por si só aprovar uma alteração constitucional.
Entretanto, com a saída do PRA-JA da FPU, plataforma revestida juridicamente na UNITA, o MPLA pode conhecer um melhor fôlego no pleito eleitoral em 2027, tendo em conta o potencial de Abel Chivukuvuku que, como preveem analistas, poderá dispersar o voto no sector da oposição.