Reportagem
Mulheres no Namibe protestam contra homens que engravidam e não assumem
Foi na localidade do Camucuio onde encontramos relatos de mulheres que sentem-se agastadas com homens que só engravidam e não assumem as suas responsabilidades. Sobre o assunto, o Correio da Kianda ouviu, inclusive, o Administrador local.
A fuga à paternidade na localidade do Camucuio, Província do Namibe, é um facto relatado por um número elevado de mulheres que sentem-se desprotegidas face ao fenómeno. O Correio da Kianda ouviu mais de vinte mulheres com filhos sem pai. Procuramos delas saber as razões do elevado número do caso em apreço. Pobreza e falta de emprego, foram apontadas por algumas das mulheres por nós ouvidas, como justificações evocadas pelos homens que engravidam e não aceitam assumir as suas responsabilidades.
“Tenho quatro filhos, o meu marido é muhumbi, e como ele não trabalha, e nem tem boi, por isso não vive comigo, e não tem como sustentar os filhos, mas para além de mim, ele tem mais duas mulheres”, disse, a este jornal, uma Jovem de 28 anos, mãe de quatro filhos, de nome Flora.
“Aqui, os homens só engravidam e não assumem, e boa parte das mulheres aqui no Camucuio, nem todas, mas boa parte, têm filho que os pais não assumem”, revelou, uma outra citadina local, identificada por Joana Florença, de 24 anos.
Não apenas em mulheres que procuramos saber das causas, o Correio da Kianda conversou também no Camucuio com alguns homens, que à semelhança das mulheres ouvidas por este jornal, por receio, alguns, não aceitaram gravar entrevistas, mas falaram para nós. Bernardo Chuvica é um cidadão local, que aceitou falar para os microfones do Correio da Kianda. Diz ser um facto real a fuga à paternidade, mas justifica a ocorrência dos casos, com alguns maus comportamentos de algumas mulheres.
“É pura verdade que boa parte das mulheres aqui não são assumidas pelos homens, porque os homens as vezes engravidam e fogem para Luanda, mas nem todos, mas há também outros que não aceitam mesmo assumir, porque a tal mulher tem Facebook, já conhece outras coisas da cidade, tem mania, e os homens não aceitam essas brincadeiras, fogem”, disse.
Quem também falou sobre o assunto foi o Administrador Municipal, José Domingos Correia, que numa entrevista colectiva, admitiu ser um facto, a fuga à paternidade no Camucuio.
“Por vezes é problema da cultura. Aqui a cultura é dos nhanwkas humbis e dos hereros. Eles dizem que o filho é da mãe. E então, por isso aí no mato se alguém morre, a riqueza vai para os sobrinhos, não vai para os filhos. E, geralmente, a responsabilidade do pai em termos da cultura não é tanto notada no como no meio moderno. Os rapazes podemos dizer que praticamente abusam das meninas. Um rapaz anda com uma ou duas meninas e depois foge para Luanda, mas é um hábito que estamos a combater”, disse, o administrador.