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MPLA/Governo e UNITA devem juntar-se face à ameaça crescente na região

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A ameaça espreita as fronteiras angolanas com a multiplicação de grupos rebeldes, terrorismo e operações de golpes de Estado na SADC e região dos Grandes Lagos. Luanda não pode deixar-se levar pela tentação de que o mal corrói apenas os vizinhos, mas juntar sinergias internas para prever e prevenir.

As forças de defesa e segurança e as agências de inteligência angolanas estão entre as melhores que existem no continente africano, sobretudo nas sub-regiões a que o país pertence. Entretanto, tal facto não é sinónimo de impenetrabilidade.

O título apelativo do presente texto pode gerar indagações sobre a utilidade da UNITA tendo em conta as ameaças crescentes, mas é importante percepcionar que a UNITA, à semelhança do MPLA (para lá de ser Governo) não é uma organização política numa perspectiva clássica como o são o PS ou o PSD em Portugal. A UNITA fez-se partido político, mas é antes de tudo, como sublinhou Jú Martins, citando Jonas Savimbi: “uma força armada de expressão política”.

Os ‘maninhos’ ainda têm no seu seio muitos quadros formados em inteligência, defesa e segurança.

Por exemplo, em Junho de 2023, dez meses após as eleições-gerais de 2022, o Governo Sombra do partido liderado por Adalberto Costa Júnior juntou os antigos militares e operacionais em inteligência da organização, visando analisar os riscos crescentes na região, tendo identificado fronteiras porosas, quer terrestre, quer marítimas em Angola, que podem levam o país a alguma vulnerabilidade.

E de acordo com uma publicação do Novo Jornal, na sequência, os generais Kamalata Numa, ex-chefe Estado-Maior das FALA (então braço armado da UNITA) e co-fundador (com João de Matos) das Forças Armadas Angolanas (FAA), bem como Isidro Wambo, antigo chefe do então Serviço de Inteligência Militar da UNITA, chamaram atenção sobre as alegadas “falhas técnicas e procedimentais” nas actuações dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE) e no Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), tendo apelado para uma maior integração.

O entendimento entre o MPLA e a UNITA torna-se ainda mais necessário tendo em conta a bipolarização existente e a dimensão que o maior partido na oposição alcançou nas últimas eleições, em comparação a 2008, 2012 e 2017.

Adalberto Costa Júnior fez saber, dias depois dos resultados eleitorais de 2022, ter resistido a tentação de adoptar opções nada pacíficas tendo em conta as garantias de apoio que recebia por parte de relevantes quadros da classe castrense, não se sabendo, portanto, se estes quadros militares eram igualmente incentivados por forças externas.

De referir que a maioria dos conflitos desencadeados em diferentes geografias africanas têm beneficiários estrangeiros, e esses grupos beneficiadores das instabilidades das regiões ricas em petróleo, gás e minerais, como é o caso de Angola, aproveitam-se das divergências políticas para convencer os grupos de oposição mais representativos com a narrativa de que o poder em países com fraca prática democrática não se alcança com eleições. Por outro lado, podem também aproveitar-se das dificuldades económicas e financeiras das famílias para convencer os jovens civis de que a solução para alterar o quadro seja rebelar-se contra o Estado de armas na mão, como ocorre na Pública Centro Africana, e mais recentemente a tentativa de golpe de Estado na República Democrática do Congo.

Além dessa perspectiva que pode ser interna, o MPLA/Governo e a UNITA, bem como outras forças políticas e cívicas, devem ainda entender-se encontrar um denominador comum sobre a política, eleições e justiça, visando concentrar todas as atenções e energia na política de defesa das fronteiras angolanas.

Por exemplo, no XIII Congresso Ordinário da UNITA, em 2019, que foi vencido por Adalberto Costa Júnior, o então presidente do partido, Isaías Samakuva, num discurso proferido no conclave, deu indicadores de ter havido algum tipo de entendimento com o Governo, visando encostar os chamados ‘marimbondos’ à parede. Numa perspectiva em que o combate contra o referido “ninho”, como o classificou João Lourenço, viria dos dois grandes partidos do país.

Isaías Samakuva chegou mesmo a apelar a um alinhamento do partido contra os ditos “marimbondos” que haviam rebentado com a economia do país.

Entretanto, é algo semelhante que o contexto geopolítico aconselha para Angola. Não haver ilhas internas. Deve haver entendimento, sinergias visando contornar o vento de terrorismo, rebelião e golpes de Estado que, muito rapidamente chegou às portas da SADC, vindo do Sahel.




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