Sociedade
Movimento estudantil quer “minuto de silêncio” em homenagem à jovem morto
O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) informou, através de uma nota endereçada ao Ministério do Ensino Superior, que os estudantes farão, na próxima quarta-feira, 18, “um minuto de silêncio em todas as escolas do país” para homenagearem o estudante de 26 anos, Inocêncio de Matos, que morreu, vítima dos confrontos entre manifestantes e a polícia, em Luanda, no dia 11 de Novembro.
“Vimos informar que o Movimento dos Estudantes Angolanos está de luto nacional e somos a informar que os estudantes farão homenagem, em um minuto de silêncio em todas as escolas do país”, lê-se no comunicado.
No documento que o Correio da Kianda teve acesso, assinado pelo seu presidente Francisco Teixeira, “pede encarecidamente às autoridades que não proíbam este acto solene”.
Inocêncio de Matos era estudante do terceiro ano, no curso de engenharia informática, pela Universidade Agostinho Neto. No dia de 11 de Novembro do corrente ano, participou na marcha contra o elevado custo de vida, desemprego e solicitando a calendarização da eleições autárquicas no país, organizada pela sociedade civil.
O Movimento de Estudantes Angolanos convida não só os estudantes, mas toda a população de Angola a participar nesta homenagem ao estudante, que será enterrado na próxima segunda-feira, 16. Na mesma nota, o movimento estudantil lamenta o silêncio do Conselho Nacional da Juventude, do Ministério da Juventude e Desportos, do Ministério do Ensino Superior e da Universidade Agostinho Neto.
Manifestantes alegam que o estudante de engenharia de informática da Universidade Agostinho Neto foi atingido por um tiro de arma de fogo na cabeça e levado para hospital, onde veio falecer. Versão contestada oficialmente que diz que o mesmo faleceu devido pancadas na cabeça.
Processo
Os familiares do jovem morto na manifestação de quarta-feira, 11 de Novembro, prometem levar o Comandante Geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, e o Comandante Provincial de Luanda às barras dos tribunais. Juntam-se à mesma causa, os jovens do auto-denominado Movimento Revolucionário, que também manifestaram intenção de processar as chefias do Comando Provincial de Luanda, que estiveram no comando da repressão da manifestação, que culminou com a detenção de vários cidadãos e a morte de um jovem estudante universitário.
A intenção de processar a polícia foi manifestada, nesta quinta-feira, 12, durante a vigília que tem estado a se realizar na casa do malogrado, onde decorre o óbito.
A morte do jovem estudante universitário, Inocêncio Matos, protagonizada por agentes da polícia, gerou uma onda de revolta, dentro e fora de Angola, e tornou-se destaque em vários canais de televisão do mundo.
As organizações de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch (HRW), condenaram a violência policial usada nos protestos de quarta-feira e pediram ao Governo de João Lourenço, inquérito.
Depois da Polícia, na voz do Comandante Provincial de Luanda, Eduardo Cerqueira, ter negado a morte de um cidadão que nas redes sociais ja tinha sido dado como morto durante a manifestação, um dia depois, a equipa do banco de urgência do Hospital Américo Boavida, hospital onde terá sido levado o jovem, confirmou que o manifestante, de 26 anos, ferido no protesto acabou por morrer, contrariando as palavras o oficial da polícia, que em declarações à imprensa, na noite de quarta-feira, garantiu não ter havido nenhum morto.
Em declarações à Televisão Pública de Angola, o médico disse que o jovem foi atingido “com um objecto contundente”, o que lhe provocou um trauma na cabeça, “com sangramento activo e exposição da massa cerebral”.
Com António Sacuvaia