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Mocambique: Renamo politicamente em ruína
A insistência pelo poder por parte de Ossufo Momade à frente do histórico maior partido na oposição resultou num ‘luto’ eleitoral para a organização do já falecido Afonso Dhlakama – o maior símbolo da resistência naquele país do Índico.
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) está politicamente em ruína. Depois de largos anos na liderança da oposição no país, desde a luta militar que forçou a Frelimo, partido no poder, a aceitar a implementação da democracia, em 1992, os alicerces da organização sucumbiram, e sem antes conhecer o poder real, desceu para a módica posição de terceira maior força política do país. Ou seja, acaba de ser terceira organização mais votada, ultrapassada pelo Podemos, uma estrutura política até então sem expressão, mas que lhe valeu a audácia e perspicácia.
Há três responsáveis por este resultado devastador contra a Renamo, nas eleições do dia 09. Em primeiro lugar o Ossufo Momade e sua legião de militares, que percebem pouco sobre política, o político Venâncio Mondlane, e a seguir o povo moçambicano.
Sem uma estratégia claramente definida, Ossufo Momade, que substituiu a Afonso Dhlakama na liderança do partido, depois da morte deste, insistiu em permanecer à frente da Renamo, apesar de os indicadores lhe serem desfavoráveis.
Aquando das eleições angolanas de 24 de Agosto de 2022, jornalistas e observadores eleitorais de Moçambique, manifestavam o desejo de um dia por ter em seu país, um líder de oposição à dimensão política (desdobramento e capacidade discursiva) de Adalberto Costa Júnior, da UNITA. E lamentavam que a Renamo lhes tivesse oferecido Ossufo Momade que, para muitos, “parecia mais a dormir”…
“A diferença entre os generais da UNITA e os da Renamo é que os da UNITA estudaram”, disse um dos jornalistas na altura.
Entretanto, ao que parece, face ao resultado eleitoral de 09 de Outubro, a perspectiva destes jornalistas e observadores para as eleições angolanas espelharam um sentimento comum do povo moçambicano. É que os militantes da Renamo tinham a oportunidade de substituir Ossufo Momade por Venâncio Mondlane, quando este procurava concorrer ao congresso do partido. Mas não só foi impedido, como também ‘ostracizado’.
Tomado pelo ideário de poder, Mondlane abandonou a Renamo e juntou-se ao Podemos, uma organização política sem assento parlamentar.
Resultado: cansado com a Frelimo, mas também com a Renamo, que não consegue indicar um líder que garanta confiança, o povo votou em massa em Venâncio Mondlane e na força que o suporta, o Podemos.
Mondlane diz que venceu as eleições, e já apresentou actas que atestam a sua afirmação.
Os resultados oficiais, embora ainda parciais, apontam para uma vitória da Frelimo e de seu candidato, mas numa escala inferior às suas projecções.
Os resultados indicam que a Frelimo poderá ficar aquém da maioria de dois terços na Assembleia da República, que ganhou nas anteriores eleições gerais de 2019.
Agora que arruinou o partido é pouco provável que Momade consiga manter sua posição de líder do partido, como escreveu a Agência de Informação de Moçambique.
De acordo com o referido órgão, o MDM está numa situação ainda pior, mas ainda controla o seu tradicional reduto na cidade central da Beira.
Por exemplo, na cidade central de Quelimane, na assembleia de voto número 080001-01, o candidato do partido no poder, Daniel Chapo, ganhou com 153 votos, seguido de Mondlane com 148. Ossufo Momade teve apenas 14 votos e Lutero Simango, do MDM, apenas 5 votos – estes resultados, em especial, demonstram a fraca participação do eleitorado nas eleições.
Nas eleições legislativas, na mesma mesa de voto, a Frelimo obteve 136 votos, o Podemos 91, a Renamo 73 e o MDM apenas sete.
Na assembleia de voto 980180-08, segundo noticiou a Agência de Informação, na cidade de Nampula, no norte do país, Mondlane ganhou com 172 votos, seguido de Chapo com 147, Momade com 18 e Simango com nove.
Na cidade central de Chimoio, de acordo com uma reportagem da estação de televisão independente, “TV Sucesso”, em 130 assembleias de voto: Mondlane estava a liderar com cerca de 25.000 votos, seguido de Chapo com mais de 20.000. Houve 778 votos para Simango e 1.239 para Momade.
Contudo, para alguns observadores nacionais, o resultado eleitoral obtido pela Renamo, em Moçambique, deve servir de lição para todas as forças políticas nos PALOPs. A UNITA, por exemplo, não deve descurar que a participação individual do PRA-JA de Abel Chivukuvuku, no pleito previsto para 2027, possa representar um sério desafio para as suas hostes.
E a insistência na FPU sem a aceitação de sua transformação em coligação eleitoral, ou uma negociação mais profunda tendo em conta a realidade de cada ente, pode destruir a ‘bem sucedida’ plataforma que levou o partido fundado por Jonas Savimbi a obter o seu maior resultado eleitoral de sempre.