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Politica

Mesmo no tempo da maior empresária angolana, “a única com competências para gerir tudo, houve falta de combustível – Víctor Silva

O país não pode continuar a seguir a política do faz de conta, de que não se passa nada. As falhas devem ser responsabilizadas, desde que as suas razões não sejam atendíveis dentro daquilo que é a nossa realidade, de grandes dificuldades a todos os níveis, mas principalmente de ordem financeira, que vem da gestão anterior”, afirmou, hoje, em Luanda, o comentarista e analista político Víctor Silva, sobre a recente mudança da gestão da Sonangol.

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O comentarista, que falava no programa Manhã Informativa, da Rádio Nacional de Angola, considerou que a primeira atitude a tomar pelo titular do poder Executivo “é o da responsabilização”, ao invés de se limitar na exoneração, ocorrida na semana passada, de Carlos Saturnino, anterior PCA do Conselho de Administração da Sonangol.

Em entrevista conduzida pelo radialista Adalberto Lourenço, Víctor Silva realçou que a distribuição de combustíveis é fundamental para qualquer sociedade.

“Angola não é diferente e tem ainda a agravante de grande parte do fornecimento de energia eléctrica ser através de sistemas térmicos, que consomem uma quantidade sem tamanho de combustível todos os dias. Como andamos num mundo globalizado e os canais internacionais de televisão entram-nos casa adentro, sem qualquer restrição, veja-se o que sucedeu recentemente em Portugal, tido sempre como o grande exemplo de comparação, quando os combustíveis faltaram pela greve dos camionistas? Ou, veja-se, a origem do movimento dos coletes amarelos em Paris, que há meses tira o sossego das autoridades francesas”, disse.

Lembrou não ter sido a primeira vez que falta combustível em Angola, ou em Luanda, “para sermos mais precisos, porque no interior do país as queixas são mais frequentes do que seria suposto, e há zonas onde o litro da gasolina é vendido livremente a 500 kwanzas”.

Comparou que, mesmo no tempo da maior empresária angolana, “a única com competências para gerir tudo, houve falta de combustível, mas não se fez tanto alarido como agora”.

“O problema é muito mais profundo, e se bem que tenha de haver responsabilização, a minha opinião é que terá havido alguma precipitação na exoneração do Carlos Saturnino. Realizaram-se aquelas duas reuniões de emergência sobre os combustíveis e sinceramente não me parece que a falta de combustíveis tenha sido apenas por falta de diálogo, como veio mencionado na nota de imprensa. Na posse dos dados, julgo que haveria eventualmente outras medidas, porque afinal, como se viu, o combustível, bem ou mal, já está aí e, sinceramente, não acredito que em dois ou três dias se faça uma operação de aquisição no exterior e de reposição de stocks de combustíveis em todo o país, como se verificou”.

Mudanças frequentes

Víctor Silva alertou que, a Sonangol, a petrolífera nacional, que embora não seja mais a concessionária, função que passou para a Agência de Petróleos e Gás, é “só” a principal empresa angolana e mexidas frequentes na sua administração passam para o exterior sinais de alguma instabilidade, sobretudo, junto dos parceiros internacionais.

Além de que o novo homem forte, Sebastião Pai Querido Martins, vinha da gestão anterior e tinha precisamente o pelouro da Distribuição e Logística.

“Quando digo que o problema é mais fundo que a aquisição e distribuição tem, também, a ver com isso… As dificuldades de tesouraria do Estado são conhecidas, a actividade económica está estagnada, a economia formal está a agoniar e, por isso, paga poucos impostos, a economia informal que ainda vai resistindo nunca pagou impostos. Portanto, as receitas são inferiores mas o Estado tem obrigações sociais de que não pode abdicar. E uma delas é garantir o abastecimento de energia eléctrica às populações, a distribuição de água, a obrigação de assegurar a defesa nacional e o funcionamento de várias instituições. Soma isso e veremos quem são os grandes devedores da Sonangol: Prodel, Epal, FAA, Polícia Nacional, Assembleia Nacional, etc. Se esses organismos não pagam o combustível que consomem é evidente que vai haver um buraco nas contas da Sonangol”.

Acrescentou que, se a isso somarmos o facto de haver uma diferença entre o preço que a Sonangol paga no exterior para adquirir o combustível e o preço que é vendido aqui nas bombas, mais facilmente conseguimos ver as dificuldades de tesouraria da petrolífera nacional.

“Não é como alguns dizem que a Sonangol anunciou lucros de três mil milhões de dólares no primeiro trimestre deste ano e esse dinheiro fica nos cofres da companhia, e faz dele o que bem quiser. O dinheiro é do Estado e vai para a Conta Única do Estado”.

 

JA

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