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Marcelo Odebrecht diz ao Juiz que colocou cerca de 12 milhões de dólares para uso orientado por Lula
O empresário Marcelo Odebrecht disse em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro no âmbito de um acordo de delação premiada na operação Lava Jato que a empreiteira disponibilizou 40 milhões de reais, cerca de 12 milhões de dólares num chamado saldo “Amigo”, para uso a ser orientado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com gravação de depoimento que teve o sigilo retirado pelo Justiça.
Odebrecht afirmou que o ex-ministro petista Antonio Palocci foi o intermediário do acerto, e que Lula nunca fez um pedido directamente por recursos, mas seria o beneficiário directo ao menos de parte do dinheiro não contabilizado pago pela empreiteira, que está no centro do escândalo de corrupção.
“Óbvio que ao longo de alguns usos ficou claro que era realmente por Lula, porque teve alguns usos que ficou evidente para mim. Teve alguns que o pedido era feito e saía via espécie. O Palocci pedia para descontar do saldo ‘Amigo'”, disse o empresário no depoimento, confirmando ainda que o codinome “Italiano” em planilhas de pagamentos da Odebrecht se referia a Palocci.
“Quando ele pedia para eu descontar do saldo ‘amigo’, eu sabia que ele estava se referindo a Lula, mas eu não tinha como comprovar”, acrescentou.
Segundo o empresário, em dois casos ficou comprovado que os pagamentos da Odebrecht teriam o conhecimento de Lula: a compra de um terreno para o Instituto Lula, que foi adquirido pela Odebrecht mas não utilizado pelo instituto, e uma doação financeira direta para o próprio instituto.
Marcelo Odebrecht afirmou ainda que a conta do PT na empreiteira foi iniciada em 2008, para abastecer as campanhas municipais, a partir de um pedido de Palocci, que foi ministro tanto de Lula como da ex-presidente Dilma Rousseff.
O empresário disse que também tratou sobre repasses ilegais com o também ex-ministro petista Guido Mantega em contrapartida pela tramitação de medida provisória sobre o chamado Refis da crise, que era do interesse da Odebrecht. Nesse caso, Mantega pediu uma contribuição de 50 milhões de reais (quase 16 milhões de dólares) para a campanha de 2010 da ex-presidente Dilma Rousseff, segundo o empresário.
Odebrecht, que está preso desde junho de 2015, prestou depoimento a Moro no âmbito de um processo em que é réu ao lado do ex-presidente Lula, entre outros. O empresário já foi condenado a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa no âmbito da operação Lava Jato.
Lula, por sua vez, prestará depoimento a Moro no dia 3 de maio pela acção penal em que o petista é acusado de receber vantagens indevidas da empreiteira OAS na forma do tríplex no Guarujá (SP) e do pagamento do armazenamento de bens pessoais.
O segundo processo de Lula que tramita junto a Moro em Curitiba é justamente o que trata do suposto pagamento de propina ao ex-presidente por meio de um terreno que seria destinado ao Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao que ele mora, em São Bernardo do Campo.
Lula é réu ainda em outra ação penal da Lava Jato, em que é acusado de tentar obstruir as investigações e que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal.
Responde também a um processo ligado à operação Zelotes, na qual o Ministério Público o acusa de tráfico de influência na edição de uma medida provisória e na escolha de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), e a um outro relacionado na operação Janus, em que também é acusado de atuar para favorecer a empreiteira Odebrecht para que obtivesse contratos em Angola.
Lula nega todas as acusações e sua defesa afirma que ele é alvo de perseguição.
Além de Marcelo Odebrecht vários outros executivos da empreiteira se tornaram delatores da Lava Jato, o que levou à abertura de inquéritos contra diversos políticos.
Na terça-feira, o gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin informou que o magistrado autorizou a abertura de 76 inquéritos contra ministros, parlamentares e outras autoridades.
Fonte: Reuters