Opinião
Maomé e o pacto sob a árvore: no contexto dos partidos políticos
Sem um pacto, sem um juramento, os partidos políticos estarão mais combalidos, mas é imperioso reconhecerem primeiro o problema, as insatisfações.
Maomé, nasceu por volta de 570 d.C., no seio de uma família de mercadores, mas não cresceu com os seus pais. Seu pai faleceu antes do seu nascimento quando visitava Medina, e sua mãe não sobreviveu durante muito tempo após dar a luz a Maomé, portanto, como ficou órfão muito cedo, foi criado pelo seu tio Abu Talib, no centro comercial que era Meca naquela altura. Era um local sagrado para os deuses locais antes do período islâmico, que se tornara mais tarde um santuário do Islão.
Foi neste quotidiano que, por volta dos 40 anos, Maomé começou a ter visões e revelações, cuja origem veio identificar como Anjo Gabriel. Estas revelações formaram o inicio do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, a nova religião monoteísta, sendo Alá o único Deus verdadeiro, num seio onde existia judeus e cristãos. Em 613, Maomé começou a pregar a nova religião e a exortar a jurar fidelidade a Alá, largamente pela cidade, o que não foi bem recebido por toda gente. Onde há alguma luz ou quebra de padrões estabelecidos como praxe, uma pequena alteração cria repulsa, cria dúvidas, desembocando conflitos e perseguições. Contudo, os clãs comerciantes, viram outras pretensões em Maomé, receavam que quisesse aceder ao poder político em Meca que, não tinha um governo centralizado, qualquer criava a sua lei e mandava o mais forte, logo, o maior receio destes, eram os seguidores que foram aumentando cada vez mais.
A maior parte dos estados africanos e boa parte da América latina, têm ainda nos seus modus vivendis um modelo obsoleto e retrógrado, não encarando as novas estacões, algo que carece de ser refeito, modificado, acompanhando as novas dinâmicas, porque após independências e guerras civis, começou a surgir muitas universidades, houve desenvolvimento tecnológico, maior expansão da internet, a globalização, e tudo isto nos dias de hoje, concorre para haver maior fiscalidade e exigência na governação, portanto, é preciso coragem para aceitar estas novas realidades que veemente, fazendo parte do nosso seio, da actual realidade, como Medina quis em seu território e foram procurar Maomé em Meca.
Em 622 Maomé emigra para Medina, a pedido dos natos daquela terra, 75 indivíduos, foram até Meca, pedir que fosse a Medina, juraram protege-lo e a sua nova religião. Estes habitantes de Medina, acreditavam que Maomé, por ser um estrangeiro neutro, e com a sua nova religião, poderia ser um bom árbitro para as disputas e, levar a paz e ordem à cidade. Este acordo ficou conhecido como a Constituição de Medina. Em Angola, quem podemos considerar Maomé?
Todavia, a questões são, porquê Meca não viu estas valências e capacidade de Maomé, aproveitando as bonomias que o assistiam? Porquê teve de ser outro grupo a ver estas valências? Aceitamos o novo quando nos convém, quando olhamos com os nossos interesses, por isso os cidadãos de Medina foi a busca de Maomé, por haver interesses repartidos. Daí o surgimento de novos líderes partidários, novas figuras na política nos dias de hoje, é o forçar dos tempos, mas não fica somente por ai, é muito mais amplo, com tentáculos profundos. Os partidos políticos estão prontos?
Esta Hégira a Medina, é das maiores lições no momento político actual, temos de depositar o poder com leis para que todo o resto flua, uma lei de submissão, em que se encontre todos interesses comuns plasmados. Em 628, com a sua autoridade, Maomé dirigia uma grande missão de emigrantes e ajudantes de Meca, supostamente para se integrarem na peregrinação. Os habitantes de Meca com receios, obrigaram-nos a parar perto da cidade, a fim de celebrarem um acordo em que no ano seguinte desocupariam a cidade para que eles pudessem estar sós e evitar confrontos. Enquanto aguardavam sob uma árvore, Maomé aproximou todos e fez com que eles jurassem lealdade. Este juramento ficou conhecido como o Juramento sob a Árvore, um passo crucial para o Estado de Medina. Angola precisa de um juramento, mas dentro dos partidos políticos.
É importante que as pessoas submetam as suas vontades, para que não haja muitos desafios, e não fazer andar a carruagem, mas para isto, é preciso uma liderança com amor, com compaixão, não precisamente o rude, o agressivo, o mandão, mas sim deve ser aquele que transborde equilíbrio. Em 8 anos, Maomé conseguiu dar passos para a construção de um Estado, centralizando o poder, porém, conseguiu por cederem o poder a ele, porque, após o Juramento sob a Árvore, o poder de Maomé era inatacável, e cada um via de forma inequívoca o seu crescimento. É importante que cedamos às lideranças, elas devem tomar decisões que sejam tangíveis à todos, e crucial fazermos as pazes, definindo estratégias que agreguem, começando dentro dos partidos políticos.
Os políticos devem mudar os seus modos de actuação, como o modelo clássico ensina. A política é mutável, em função dos contextos, em latim se diz “Rubi Sic Stantibus”. Se, em algum momento se verificou certas decisões e noutros momentos poderemos não as ver, são casos determinados pelos contextos, e quem tem o leme das decisões terá de se basear no que ocorre no tempo, acompanhando a dinâmica mas olhar num todo. Tem de se fazer um pacto, começando pela comunicação, dialogar em todos meios, a politica migrou para as redes sociais e, com isto trouxe alguma liberdade expressão à mais. Nós consideramos um novo tipo de liberdade de expressão, por esta via, os partidos políticos, os opinion makers, devem trabalhar incisivamente na Internet, no Facebook, no Twiter, no Instagram etc., para conseguirem acompanhar a pulsação social. A internet, para a comunicação política, trouxe novas nuances, novas oportunidades. Com as inacções, nasceram dois outros grandes dilemas, o cepticismo político e o niilismo, ou seja, a descrença aos políticos e nas suas políticas, porque as decisões não são tangíveis as suas apetências.
Recomendamos que se olhe para os seis pés do marketing político tais como:
a) Produto, como está o nosso produto, como esta a ser recebido pelo mercado, como melhorar o nosso produto;
b) Preço, que preços estão a vender, será que o preço praticado em Benfica, deverá ser o mesmo em Cacuaco? Na verdade é: o argumento que uso em Quibala será o mesmo em Cambundi Catembo? Tendo em conta todas as diferentes necessidades, de terras, hábitos e costumes;
c) Ponto de venda, os pontos estão bem catalogados, a informação está a fluir, os debates estão em alta juntamente com a mensagem dos feitos? Acompanhar a dinâmica social;
d) Promoção, promover mais o produto, as suas vantagens, os seus benefícios, a sua importância em detrimento do outro produto. Em todos os meios com possíveis;
e) O Público-alvo, aquele que mede a opinião pública, que lida com o povo, fazer uma introspecção, dialogar com eles, baixar até que eles se sintam a vontade para abrirem-se;
f) A Pesquisa, que antes de fazermos sair o produto, antes de aplicarmos o preço, onde vender, e a sua promoção, a que se pesquisar o publico alvo, a que se pesquisar como será recebido, olhando para que ponto de estarás a comercializar o seu produto, percebendo os detalhes do consumidor e assim melhorar a cada falha.
São estratégias, e não podem ficar de parte, é preciso acompanhar a dinâmica da sociedade, e estas ferramentas são cruciais. Os tempos são outros, as dinâmicas a serem implementadas são outras, e exemplos de como está tudo mudado, temos de sobra. Hoje, tem de se trazer à mesa, os resultados da pesquisa, Maomé sem apercebendo-se, fez ciência. Política hoje é sair mais à rua, deixar de parte a finura, não se pode optar pelo narcisismo, em que há uns que vivem no paraíso e outros na vizinhança do paraíso. O cepticismo político é real.
Por Prof. & Escritor Moisés Kambundi