África
M23 apoiado por força estrangeira conquista mais uma cidade na RDC. Antigo líder militar da ONU pede intervenção já
Oficial militar brasileiro, Carlos Alberto dos Santos Cruz, liderou as forças de paz da ONU na RDC entre 2013 e 2015, um período que ficou marcado por forte recuo do M23, face às investidas das tropas de paz. O militar, aparentemente atónito com os avanços dos últimos tempos do movimento rebelde congolês, apela ao Conselho de Segurança da maior tribuna política mundial para que actue já, antes que seja tarde.
Depois de na semana passada ter tomado o controlo de Goma, a capital da província do Kivu Norte, na República Democrática do Congo (RDC), o Movimento 23 de Março (M23) assaltou com sucesso, nessa quarta-feira, 05, a cidade de Nyabibwe, sita no leste do país. A localidade é rica em minerais.
O ataque, entretanto, expõe claramente a fraqueza do Governo de Félix Tshisekedi, que além de lamentar pelas sucessivas violações do acordo de cessar-fogo por parte do grupo rebelde, pouco faz para manter suas populações em segurança.
À semelhança dos ataques anteriores, acusa-se que as tropas do Ruanda estiveram envolvidas no assalto.
Face aos factos, o general brasileiro, Santos Cruz, que liderou o exército de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) entre 2013 e 2015, defende uma intervenção urgente do Conselho de Segurança dessa maior tribuna política planetária.
“Qualquer justificativa que se tenha nos comunicados daqueles interessados é para encobrir o interesse principal que é a ocupação da região extremamente rica do leste do Congo, de onde são extraídos e contrabandeados quase 100% do ouro, do coltan e de outros minerais. E são exportados depois de fazer a falsificação e a lavagem da documentação para exportação internacional”, disse o general em entrevista à ONU News, de Brasília.
O coltan ou tântalo é usado na manufatura de dispositivos electrónicos como aparelhos celulares. De acordo com o site da ONU, a representante especial do secretário-geral na RD Congo, Bintou Keita, disse que o M23 factura uma quantia estimada de US$ 300 mil mensais com a comercialização do mineral.
De referir que o Ruanda tem rejeitado participação nos ataques do M23 à RDC, mas as evidências apontam a sua presença, não só como financeiro, mas também como líder militar.
Segundo as Nações Unidas, o Ruanda tem presente na RDC entre 3 mil e 4 mil militares, que também coordenam as ofensivas do grupo rebelde, cujo líder Corneille Nangaa advertiu Angola a não enviar tropas para apoiar Félix Tshisekedi, e caso venha a fazer, há-de enviar os corpos dos operativos das Forças Armadas Angolanas a Luanda, uma advertência directa e inequívoca.
Entretanto, Angola não se pronunciou sobre a ameaça, e mantém o focado na mediação do conflito.
Já a África do Sul encontra-se em guerra de retórica com o Ruanda, cujo Presidente Paul Kagame disse estar pronto para um enfrentamento directo militar. Entretanto, já mereceu resposta da parte da ministra da Defesa da África do Sul, Matsie Angelina “Angie” Motshekga, que avisou que mais mortes de soldados sul-africanos às mãos do Ruanda, Pretória chegará a Kigali em três tempos.
“Se vão disparar, vamos tomar isso como uma declaração de guerra e temos de defender a nossa gente”, disse ela.