Mbuandja na Kianda
Luanda: Uma pluriculturalidade transformada em “Congo”
O termo “Congo”, integrante da denominação completa da República Democrática, antigo Zaíre, é, em Angola e para os angolanos, utilizado para simbolizar desordem, desonestidade, imoralidade, impunidade, fazer tudo, canalhice, falta de higiene e tudo que seja prejudicial numa convivência social que se quer salutar.
Isto mesmo é o que qualquer um de nós pode confirmar nas cidades mais populosas da República Democrático do Congo, mormente, Kinshasa, Lubumbashi, Katanga, Kisangani, Kananga, Boma, Bukavu, Likasi e outras.
Porém, à semelhança de Luanda, Kinshasa é a maior cidade da RDC, fundada em 1881, por Henry Morton Stanley, também conhecido por Leopoldo II da Bélgica. Sabe-se que ocupa uma área total de 9.965 quilómetros quadrados, uma altitude de 240 metros, com uma população (2017) de 11.855.000 habitantes.
No entanto, o factor proximidade entre Angola e a República Democrática do Congo, a confluência dos seus cidadãos, a partilha de hábitos e costumes, a existência de uma cultura mais forte, materialmente, (a do Congo) se comparada com a outra (a de Angola, no caso) tornou Luanda, essencialmente e para ser conciso na abordagem – porque Angola por dentro a presença dos congoleses altera consideravelmente a cultura e os hábitos angolanos, numa cidade que, no âmbito dos aspectos que aglutina o termo “congo”, já intimados por nós, assemelha-se ao Congo Democrático.
O ambiente festivo que estamos a viver é propício para avaliar o tipo e a forma da azáfama natalícia, bem como da transição para o ano novo. Nas estradas, ruas e avenidas de Luanda o ambiente é impróprio para a saúde mental, pois as barrocas, tendas, muitas vezes improvisadas, bancadas de madeiras, caixas térmicas, sacos cheios de água e refrigerantes, aparelhos de som sem o mínimo de recomendação em termos de produção de decibéis tomam de assalto os espaços que circundam o asfalto ou areados.
Nas ruas dos bairros, hoje, dominados por congoleses democratas, como são os casos do Palanca, da Mabor, Sapú, por exemplo, nesta fase aumentam os charcos, fruto do hábito de deitar as aguas produzidas na rua, o ruido sob de intensidade porquanto cada um tem o seu aparelho de som colocado na rua, lixo, pois não se dão sequer o trabalho de colocar o mesmo num saco ou balde para depois o levar ao contentor. Aumenta a fumaça com o preparo, na rua, do pincho, do cabrite, do peixe sem o mínimo de condições de salubridade recomendável.
Nas paragens praças de táxis a “confusão” é maior: pisam-se, sujam-se de tudo, atiram água aqui e acolá, o barulho das zungueiras, que gritam pelo peixe, pela água, pelas bolachas e muito mais atordoa inocentes!
Compra-se, vende-se, vive-se, convive-se à moda, literalmente, congolesa e se percebe que suficientemente Luanda transformou-se num autentico Congo onde tudo acontece, a qualquer momento e por qualquer um.
Destes actos deslumbram-se, claramente, muitos atropelos à Lei, ética, moral e a própria religião. O mais grave nisso tudo é o facto de tais situações ocorrerem, muitas vezes, longe das vias principais, ou seja, não estão ao alcance visual de todos e, por isso, passaram a ser uma forma de vida, um modelo a seguir pelas famílias que muito precisam para sobreviver, considerando os níveis de pobreza enfrentados sem nenhuma refutação do Estado. – só isso traduz o consentimento deste.
Passou a ser uma questão cultural, o que a torna mais grave, já que, como dissemos, não tem nada a ver com a nossa forma de vida e nem tem de ser aplaudida porque embora existam as dinâmicas culturais há que rejeitar algumas, pois deterioram o tecido social das sociedades.
De resto, não precisamos estar em festa para percebermos que, verdadeiramente,“LUANDA É UM CONGO EM FESTA E QUE CONGREGA OS SEUS LANGAS ONDE TUDO ACONTECE”