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Luanda: Governo do Ruanda assinou cessar-fogo em representação do M23?

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O Ruanda de Paul Kagame tem sido acusado de apoiar com homens e material bélico o M23 na sua guerra contra o governo da RDC, mas sempre rejeitou as acusações. Entretanto, um actor de peso internacional, a ONU, disse não ter dúvidas, e enumerou as acções desestabilizadoras de Kigali num extenso relatório, ao que João Lourenço, pelo menos daquilo que vem para fora das paredes de negociações, optou por virar do lado.

Fez manchete em diversos órgãos de comunicação social, nacional e estrangeiro, o acordo de cessar-fogo entre a República Democrática do Congo (RDC) e o vizinho Ruanda, sob mediação do Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço.

O anúncio foi feito pela própria presidência angolana em comunicado, em que também fez saber que a trégua, que entra em vigor a 4 de Agosto, deverá ser supervisionada pelo Mecanismo de Verificação Ad Hoc reforçado.

E nessa quarta-feira, 31, ainda de acordo com o Palácio Presidencial, João Lourenço conversou ao telefone com o presidente da RDC, Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo, tendo a conversa se centrado no acordo de cessar-fogo alcançado.

Entretanto, o acordo gera várias interrogações, tendo em conta que o Ruanda sempre rejeitou as acusações de que estava militarmente presente na RDC.

A 22 deste mês (Julho), o Correio da Kianda publicou uma matéria intitulada: ‘O que João Lourenço deve dizer olho no olho a Kagame?’. A matéria recorda que Félix Tshisekedi acusa o vizinho Ruanda de estar a alimentar grupo rebelde Movimento 23 de Março, na obtenção de armas e treinamento, para devastar as suas populações e ocupar vasta zona rica em minerais.

Por sua vez, Kagame rejeita todas as acusações. Na matéria, fez-se igualmente referência do cansaço dos contribuintes angolanos, face aos investimentos que as mediações acarretam, mas que parecia que os esforços de João Lourenço não estivessem a ter efeitos, além da interpretação de que estivesse a ser ignorado por Paul Kagame, que insiste na desestabilização do território vizinho.

Embora Kagame rejeita as acusações feitas por Tshisekedi, a ONU, entretanto, não tem dúvidas quanto ao responsável pelo fortalecimento do M23 na RDC, tendo num relatório recente referido que cerca de 3.000 a 4.000 soldados ruandeses combatem ao lado do M23 no leste da RDC, e que Kigali tem “controlo de facto” das operações dos rebeldes.

Peremptório, o relatório da ONU diz ainda que os militares ruandeses têm o “controlo e direcção de facto sobre as operações do M23”.

Nesse rol de acusações e defesas, Angola nunca proferiu uma única abordagem, tendo mantido, pelo menos daquilo que é público, o seu papel imparcial em relação ao diferendo. E o acordo alcançado agora, rubricado pelo Ruanda, levanta questões sobre em nome de quem o Ruanda assinou o cessar-fogo, ou se foi um reconhecimento tácito sobre o seu controlo em relação ao comando do M23.

Ou seja, se não é o Ruanda que está a combater na RDC, como é que assina acordo que acaba por vincular uma organização alheia ao seu controlo? Para diferentes segmentos, a realidade é muito simples: Se o Ruanda não controla o M23, o acordo está fadado a ser rasgado, dado que o M23 não responde hierarquicamente ao Ruanda.

De referir, que não é a primeira vez que se celebra um cessar-fogo na RDC, sendo que no princípio de 2023, sob mediação do Presidente angolano, foi assinado um compromisso nesse sentido com o próprio M23, que já se encontrava fragilizado, mas que voltou à guerra pouco tempo depois de se blindar novamente.

O acordo determinava-se entre outras coisas, a retirada gradual do M23 de todas áreas ocupadas, bem como a reinserção de seus militares. Portanto, um processo que continua em aberto…

Radio Correio Kianda




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