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Liderança da Catalunha determinada a organizar referendo
“Temos toda a força do Estado contra nós”, assinalou o independentista Carlos Puigdemont durante uma reunião do seu partido, três semanas antes do referendo de autodeterminação que pretende organizar nesta região do nordeste de Espanha.
Puigdemont exprimia-se um dia após ter sido confrontado com um processo judicial por possível delitos de “desobediência”, “prevaricação” e “má gestão de dinheiros públicos”.
Por sua vez, o presidente do Governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, assegurou hoje que os separatistas catalães estão isolados na União Europeia.
“Não irão integrar-se na Europa”, disse, durante uma reunião do seu Partido Popular (PP, conservador).
Os separatistas catalães “não têm o apoio, mas [suscitam] a rejeição e estupefação”.
A decisão que tomaram “é ilegal e antidemocrática”, acrescentou Rajoy, ao evocar a adoção esta semana de diversas leis regionais destinadas a organizar o referendo e o anúncio da “República catalã”, caso o ‘sim’ vença na consulta.
“Não haverá referendo (…) a minha obrigação é preservar a unidade nacional”, insistiu Rajoy.
Apelou ainda aos seus promotores para “fazerem marcha atrás”. “Evitaríamos males maiores”, assegurou.
O PP é a primeira formação política do país, com 33% dos votos nas legislativas de 2016. No entanto, na Catalunha, apenas garantiu 13% dos votos.
Os separatistas acusam-no de terem imposto “anos de humilhação” à região, designadamente após o PP ter obtido do Tribunal Constitucional, em 2010, uma redução das largas competências atribuídas à Catalunha pelo parlamento espanhol.
O Tribunal, que declarou inconstitucional qualquer referendo de autodeterminação de uma região, suspendeu esta semana os textos adotados pelo parlamento catalão para organizar a consulta.
Hoje, guardas civis promoveram uma busca na sede de um jornal de uma localidade catalã, suspeito de ter impresso boletins de voto. De imediato, manifestantes concentraram-se nesta pequena localidade de Vals, que aderiu à Associação dos Municípios Independentistas (AMI), lançando as palavras de ordem “Votaremos” e “Independência!”, referiu a agência noticiosa France-Presse.
A AMI assegura que “674 câmaras municipais apoiam o referendo”, num total de 948.
No entanto, Barcelona (1,6 milhões de habitantes) recusou indicar se vai disponibilizar locais para o voto e pediu mais esclarecimentos ao governo regional.
Ada Colau, a presidente de esquerda que dirige a câmara municipal da capital catalã, criticou na sexta-feira a “incapacidade ou ausência de vontade” de Rajoy para encontrar “uma solução política para um conflito político”, mas também apelou indiretamente aos separatistas para não “privilegiarem o fim sobre os meios” ao “deixarem de lado metade da Catalunha”.
A coligação de esquerda que Ada Colau integra decidiu hoje que os seus militantes vão ser consultados para decidir sobre se devem “participar na mobilização do 01 de outubro”.
A Catalunha, com 7,5 milhões de habitantes, uma superfície semelhante à da Bélgica e que produz 20% do PIB espanhol, permanece dividida.
À pergunta “Pretende que a Catalunha se torne num Estado independente?”, 41,1% dos catalães consultados responderam ‘sim’ em junho, e 49,9% ‘não’, segundo um centro de estudos de opinião catalão.
Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.
O conflito entre Madrid e a região mais rica de Espanha, com cerca de 7,5 milhões de habitantes, uma dimensão de um terço da área de Portugal, uma língua e culturas próprias, arrasta-se há várias décadas.