Opinião
Legitimidade é uma moeda cara em África
O continente africano vive um momento crucial na consolidação das suas democracias. O recente processo eleitoral em Moçambique, que culminou na eleição de Daniel Chapo como Presidente, trouxe à tona reflexões importantes sobre o papel dos líderes políticos e a necessidade de construir uma relação sólida e legítima com os eleitores. Nesse contexto, a legitimidade destaca-se como um dos activos mais valiosos de qualquer líder ou governo em democracias emergentes, uma “moeda cara”, como bem colocou Max Weber ao definir os fundamentos da autoridade.
O marketing político e eleitoral desempenha um papel essencial neste processo. No seu formato tradicional, esse campo envolve discursos, comícios, debates presenciais e a presença física dos líderes junto ao povo. Essas estratégias continuam a ser pilares importantes, especialmente em países como Moçambique, onde o contacto directo com os eleitores ainda carrega um forte valor simbólico e cultural.
Por outro lado, o avanço da tecnologia e o crescimento do acesso às plataformas digitais trouxeram um novo cenário. O marketing político digital permite aos líderes alcançar um público mais amplo, usando redes sociais, campanhas de e-mail, vídeos e conteúdos virais para transmitir mensagens e criar narrativas. A combinação dessas duas vertentes – tradicional e digital – é imprescindível para atingir diferentes públicos e reforçar a conexão entre governantes e eleitores, especialmente a juventude, que é nativa digital.
Daniel Chapo, agora à frente dos destinos de Moçambique, deve reconhecer a importância de uma estratégia integrada de comunicação, onde as abordagens tradicionais sejam reforçadas pelas dinâmicas digitais. O diálogo com a juventude, por exemplo, pode ser fortalecido através de plataformas como Facebook, Instagram e TikTok, onde os jovens partilham as suas opiniões e preocupações. Ao mesmo tempo, é essencial preservar os espaços físicos de escuta e debate comunitário, que são fundamentais para a construção de confiança e legitimidade.
A legitimidade, para além de ser conquistada nas urnas, é mantida e fortalecida no dia a dia por meio de acções que ressoem com as necessidades da população. Para isso, o Presidente Daniel Chapo deve adoptar um modelo de governação que promova a inclusão, o diálogo social e a co-criação de valores, aliando o melhor do marketing político tradicional e digital.
A “legitimidade sagrada”, como mencionada por Weber, é o pilar que sustenta as democracias em formação. Para garantir esse alicerce, os líderes africanos precisam alinhar as suas acções aos valores dos eleitores e estabelecer uma relação de confiança e reciprocidade. Esse processo não é fácil nem imediato, mas é essencial para proteger as democracias africanas de fragilidades institucionais e crises de governabilidade.
Moçambique, como outros países do continente, carrega um potencial imenso, mas também enfrenta desafios profundos. Cabe ao Presidente Daniel Chapo liderar um processo de transformação que não apenas atenda às expectativas de quem o elegeu, mas que também envolva toda a sociedade no projecto de construção nacional. Somente assim a legitimidade se consolidará como a verdadeira moeda de troca entre o governo e os cidadãos, blindando o país contra as incertezas que tantas vezes marcam os contextos pós-eleitorais em África.