Crónica ideal ao Domingo
Legitimidade Académica: estar de pé por mérito, não apenas por certificação!
A célebre máxima de Marco Aurélio: “O teu dever é ficares de pé, não seres mantido de pé”, carrega consigo um princípio profundamente estoico que pode ser aplicado, com vigor, ao campo académico: a distinção entre a legitimidade académica e a mera certificação formal.
Num mundo cada vez mais inclinado a valorizar títulos, selos e diplomas, corre-se o risco de acreditar que é a certificação que “mantém de pé” um académico, como se o papel validasse, por si só, o saber, a competência ou a autoridade intelectual. No entanto, o verdadeiro espírito académico, à semelhança do espírito estoico, exige que cada académico fique de pé por sua consistência, mérito, dedicação e produção de valor científico e social, e não apenas por um carimbo institucional.
A legitimidade académica, nesse contexto, é fruto de um percurso sólido, marcado pela reflexão crítica, pelo compromisso com o conhecimento e pela aplicação ética daquilo que se aprende e ensina. Trata-se de um tipo de “estar de pé” que não depende de elogios, favores ou palcos, mas da consciência de que se está a cumprir um dever consigo mesmo, com a sociedade e com a verdade.
Já a certificação académica, embora importante como reconhecimento formal, não pode ser confundida com competência real. Muitos são os que possuem diplomas, mas carecem de estofo académico, assim como há mentes brilhantes que ainda não foram certificadas, mas que já estão legitimadas pelo seu impacto e coerência de pensamento.
É aqui que a frase de Marco Aurélio encontra a sua força: se o teu valor enquanto académico depende apenas do título, então estás a ser mantido de pé por algo que é externo e frágil. Mas se a tua força advém do que sabes, da tua prática, da tua integridade e do teu contributo intelectual, então estás de pé por ti mesmo, com legitimidade que não pode ser retirada, nem por contextos adversos, nem por convenções temporárias.
Reflexão prática:
A tua autoridade enquanto académico vem mais do diploma que tens ou do conhecimento que praticas?
Estás a cultivar uma reputação que te sustenta mesmo quando a certificação é posta à prova?
Que tipo de académico estás a formar dentro de ti: um que se apoia no papel ou um que se sustenta pela essência?
Ser legítimo é mais do que ser certificado. É ser verdadeiro, constante e comprometido com a excelência, mesmo quando ninguém está a aplaudir.
