Sociedade
Lavar as mãos nunca foi tão importante na história da humanidade
Poucas vezes, na história da humanidade, o mundo celebrou o Dia Mundial da Lavagem das Mãos (15 de Outubro) com tanta necessidade de recurso à água e ao sabão.
A efeméride, instituída em 2008, como meio de reduzir o impacto da mortalidade infantil, ganha, este ano, contornos diferentes, ante a ameaça global da pandemia da covid-19.
Se lavar as mãos já era uma prática recomendável por especialistas em medicina, agora, com o quadro desta doença silenciosa e letal, este gesto torna-se uma “regra de ouro” para salvar a humanidade.
Desde Novembro de 2019, a lavagem das mãos passou a ser, por conta da doença viral que assola o mundo, em geral, e Angola, em particular, prática constante, à qual ninguém poderá mais estar alheio.
Não é por acaso que, diariamente e de forma sistemática e regular, a mensagem da higienização das mãos com água e sabão, ou álcool em gel passou a constar dos vários serviços de informação das empresas de comunicação social e de outras plataformas digitais de todo o mundo.
A lavagem das mãos é, na verdade, uma das medidas mais antigas, baratas, simples e eficazes na prevenção de infecções virais, bacterianas, fúngicas ou outras.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se, pois, de uma prática que deverá constar do dia-a-dia dos cidadãos, até mesmo depois da erradicação da pandemia da covid-19.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a lavagem correta das mãos pode reduzir em até 41 por cento a possibilidade de mortes em recém-nascidos.
Segundo o médico e docente universitário angolano Euclides Sacamboio, doenças como a pólio, diarreicas agudas, respiratórias, gastrointestinal e até do foro neurológico podem ser causadas pelo não exercício deste pequeno gesto: a higienização das mãos.
Explica, por exemplo, que as doenças diarreicas agudas, causadas pela não higienização das mãos, estão entre as cinco de maior morbidade e mortalidade em Angola.
A propósito, a OMS recomenda que, para a higienização correcta, podem ser usados água e sabão por 40 ou 60 segundos, ou produto alcoólico, entre 20 e 30 segundos.
A lavagem das mãos, conforme Euclides Sacamboio, deve ser feita com detergente (sabão em barra ou em pó ou sabonete), sem os quais fica difícil a eliminação de vírus, bactérias, fungos ou outros microrganismos.
Cidadãos ignoram medidas
Entretanto, em Angola ainda nem todos os cidadãos cumprem à risca a recomendação, expondo-se a riscos de saúde facilmente evitados, que muitas vezes resultam em óbito.
É o caso de Alberto Figueira, de 26 anos, vendedor ambulante na província de Luanda.
De acordo com o cidadão, o seu trabalho não dá espaço para lavar as mãos várias vezes ao dia, com água e sabão. Por isso, usa, quando tem, o álcool em gel, algumas vezes.
Com esta prática, deixa, muitas vezes, a saúde em risco, embora afirme que seja Deus o seu refúgio.
“Se fosse o contrário, já teria contraído a Covid-19 ou outras doenças provocadas pela falta da higienização das mãos”, expressa.
Manuela Macaia, de 53 anos, moradora do município de Cacuaco e mãe de cinco filhos, também ignora a recomendação da lavagem constante das mãos.
“Nunca apanhei doença por causa de não lavar as mãos. Por isso, estou aqui e os meus filhos também estão bem”, afirma a escamadora de peixe no Mercado do Peixe, erguido em Cacuaco, Luanda.
No entanto, ao contrário destes cidadãos que falavam a propósito do 15 de Outubro, Dia da Lavagem das Mãos, os profissionais de saúde intensificam as campanhas de sensibilização da população, para a necessidade de higienização constante das mãos.
O médico Euclides Sacamboio destaca a necessidade de se reforçar as medidas assepsia e antisséptia, entre as quais a limpeza dos objectos e materiais, em especial os lugares de uso comum, sem descurar, jamais, a higienização das mãos.
No âmbito das celebrações de mais um 15 de Outubro, o especialista aconselha os cidadãos a transformarem a lavagem das mãos num vício constante, em especial antes de comer, depois de fazer necessidades e antes de entrar em contacto com alimentos.
“Façam-no sempre que for necessário, porque a vida não tem preço”, remata o médico.
Por Francisca Augusto, jornalista da Angop