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Kuduristas decepcionados com o MPLA

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Os músicos kuduristas mostram-se decepcionados com o MPLA por deixá-los ao abandono, contrariando as promessas feitas em 2017, como contrapartida e reconhecimento destes em actuar nos comícios do partido, aquando da campanha eleitoral daquele ano. O descontentamento foi demonstrado durante o primeiro encontro nacional de reflexão, que visou abordar o papel do kuduro na educação cívica e patriótica dos jovens angolanos, realizado nesta quarta-feira, 11, no Centro de Conferências de Belas. Houve quem se emocionou.

A principal reclamação dos jovens fazedores do estilo kuduro é a falta de oportunidade para a realização do sonho da casa própria, por estes estarem a residir em bairros considerados melindrosos, no que a segurança pública diz respeito. Tuga Agressiva disse que viu-se obrigada a arrendar uma residência num bairro mais seguro, porque no anterior bairro, sofria assaltos constantes.

Dabeleza sugeriu que o Estado, através do Ministério da Cultura cadastre os músicos mais influentes em cada município, para com eles trabalhar e assim “teremos o controlo da cultura”. A seu jeito, pediu que se respeite os kuduristas “malucos, porque o mundo em si precisa de malucos”.

Os músicos disseram que o partido não pode se lembrar deles apenas em épocas eleitorais, altura em que viajam para as 18 províncias para actuação em comícios políticos, com promessas de resolver as suas preocupações.

Na sua intervenção, Pacing Toloba disse que ainda se mantém fiel ao MPLA por ser o partido em que cresceu, mas que não tem sido fácil para si e seus colegas de profissão rejeitar as propostas lhes tem chegado, vindo de outras formações partidárias.

“Nagrelha é o cantor com mais popularidade em Angola. Noite e Dia também é uma das cantoras com mais popularidade. Já imaginaram se nós sairmos do MPLA para irmos noutro partido?”, questionou em jeito de chamada de reflexão aos camaradas. “o MPLA não pode só nos precisar no tempo das eleições, mas tem que nos tratar bem todos os anos porque nós somos filhos”.

“Nós somos obrigados a fingir a boa aparência para que o povo nos respeite”.

A classe feminina do Kuduro também esteve presente e fez ouvir a sua voz, através das maiores referências no mercado, Fofandó e Noite e Dia, que além da falta de oportunidade reclamaram também de dificuldades para acesso a diversos projectos. Para Fofandó, nos projectos habitacionais que são construídas no país devia ser reservado 300 a 400 habitações para os kuduristas disputarem entre si.

Fofandó, a rainha do kuduro disse estarem a sofrer ameaças à sua integridade física por terem feito um vídeo que vazou às redes sociais, a desencorajar os jovens a sair às ruas em manifestação. “Nós fizemos vídeos a falar do MPLA e a desincentivar a manifestação e agora estamos a sofrer ameaça. Não posso sair à rua e dizem que vão me violar”.

Kuduristas

Agora estão a nos chamar de bajuladores, se nós fazemos sacrifícios pelo MPLA porquê que o MPLA não pode fazer por nós”, questionou a autora do sucesso Abre o Livro, que entretanto reclamou da falta de oportunidade à classe para voltar aos estudos e ter capacidade de compor música com mensagens mais construtivas. A artista revelou também que o abandono pelo MPLA leva muitos a optar por uma vida de ostentação para preservar imagem diante dos fãs. “As vezes nos criticam porque aparecemos em grandes carros, com telemóveis caros, que não são nossos. Mas nós somos obrigados a fingir a boa aparência para que o povo nos respeite”, desabafou a Noite e Dia.

As artistas mostraram igualmente preocupação em relação a saúde da kudurista Nayocrazy, que sofre de perturbações mentais e problemas de visão a carecer de ajuda.

Quem também advogou melhor tratamento à classe é o músico K2, que segundo fez saber, “os kuduristas têm ajudado muito o Estado, porque há sítios onde a polícia não consegue penetrar e chamam os kuduristas.

Já o músico Tony Amado começou por realçar o contributo que o estilo musical kuduro, criado por si, tem dado à sociedade, com destaque para o empreendedorismo na área da cultura, através da realização e eventos e produção musical.

“Somos um grande parceiro do Estado porque ajudamos os nossos irmãos e tiramos muitos jovens da má vida”, disse. Entretanto o fundador do estilo musical angolano e que já se internacionalizou, reclamou da falta de oportunidade aos fazedores de kuduro, por parte das instituições do Estado. “Se o Semba é a nossa bandeira, o kuduro é o nosso hino”, referiu.

O ‘Rei do Kuduro’, que inspirou todos os kuduristas a entrar para o estilo, aproveitou a ocasião para reclamar do facto de os fazedores serem rejeitados junto de instituições bancárias na concepção de crédito, desabafando junto dos presentes que está há cinco anos a ver negado o seu pedido de crédito para constituição de sua produtora musical, avaliada, segundo disse, em 9.600.000 (nove milhões e seiscentos mil) kwanzas.

O músico KAPA 2 criticou o estado e abandono e a marginalização de que é vitima o estilo, por parte do Estado angolano. O artista criticou, entre outras coisas, o facto de os kuduristas serem chamados nos eventos que são realizados, para fecharem os shows, onde os músicos de outros estilos recebem o cachê com grande disparidade, tendo exemplificado que “num mesmo show Matias Damásio e Anselmo Ralph podem recebem cinco milhões, ao passo que um kudurista pagam 150 mil.

Pai Banana apelou aos seus colegas do estilo a partilhar os bens, na eventualidade de serem atendidas as reivindicações apresentadas no encontro.

Gata Agressiva disse lhe foi prometida uma residência, a quando da campanha eleitoral de 2017, mas que nunca viu. Tendo dito mesmo que viu-se obrigada a arrendar uma casa num bairro que oferece maior segurança, em virtude dos constantes assaltos de que tem sido vítima.

Já Nené baila disse que foi graças ao kuduro que deixou a “má vida” que levava, mas que o as instituições que deviam ajudar os jovens, estão e a abandoná-los, e a não se importarem com os seus problemas. “eu sou do MPLA desde pequeno. Se não resolverem o meu problema vão me ver com uma camisola do MPLA e uma arma na mão”.

O empresário Ti Show, que trabalha na recuperação de jovens delinquentes e inseri-los na música, como é o caso do grupo Elenco da Paz, pediu à Ministra da Juventude e Desportos, a Secretária de Estado da Cultura e ao primeiro Secretário do MPLA a levarem as preocupações ao Presidente da República, a fim de serem resolvidas.

Em resposta às inquietações a Ministra da Juventude e Desportos, Ana Paula do Sacramento Neto, disse que tomou nota das preocupações apresentadas, e prometeu que aquele departamento ministerial, em conjunto com o da Cultura e com o Secretariado da JMPLA irão trabalhar num documento a ser apresentado ao chefe de Estado.

Em relação à formação, a governante encorajou os jovens a procurar pela Escola Arte do ensino médio e também pelo Instituto de Artes do Kilamba a fim de aumentar nas suas valências, apesar de reconhecer existência de dificuldades em relação ao corpo docente para determinadas disciplinas naquela instituição.

Já o primeiro Secretário Nacional da Juventude do MPLA, Crispiniano dos Santos, disse que a sua organização vai continuar a trabalhar para junto das instituições afins encontrar solução para os problemas da juventude, tendo prometido agendar um novo encontro do género, nos próximos tempos, para apresentar o relatório de balanço das actividades que vão realizar para em prol da resolução das preocupações dos kuduristas.

JMPLA reconhece contributo do kuduro na sociedade angolana




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