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Opinião

Kizomba, a festa “agora” internacional do povo angolano

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O ano era 2015. Através do trabalho, conheci o professor “Sílvio do Semba”, que havia sagrado-se vencedor do Campeonato Nacional de Semba e Kizomba. Ele tinha uma Escola de Dança ali nas imediações da FTU, ao lado do bairro Palanca. Eu, como já admirava os ritmos angolanos, fiz a minha inscrição e comecei a aprender os primeiros passos de semba e kizomba.

À época, vivia na Urbanização Nova Vida. Sem carro, era uma verdadeira viagem ter que deslocar-me à escola do professor Sílvio. Pegava Portaria, depois Shoprite e, com sorte, quando o “azul e branco” chamava Congolenses ou 1º de Maio (Largo da Independência), ia directo, e ali era só esperar aquele bom grupo para atravessar a rua. 

Confesso que os meus primeiros ensaios foram um verdadeiro desastre. Acostumada com o gingado do samba, o tal retrocesso, característico dos dois ritmos, não saía nem com toda paciência do professor Sílvio, até que decifrei as danças e, finalmente, consegui avançar com os primeiros passos. 

Semba e kizomba têm a mesma particularidade. Para a dama, é necessário estabelecer uma relação de confiança com o parceiro, como condutor, e acreditar que ele vai bem conduzir a dança. É um fechar os olhos e deixar-se levar. Se encontra um bom condutor, não necessariamente a dama precisa ser exímia dançarina. Vai conseguir dançar. 

Ou seja, para mim foi necessário muito mais que aprender passos, mas introjectar o que era o semba e a kizomba, e assim evoluímos. Entretanto, a distância pesou um pouco e procurei uma escola mais próxima, foi aí que, para minha alegria, descobri que o professor Sakaneno dava aulas exactamente na rua onde eu morava. Perfeito.

Achei necessário essa introdução para conseguir explicar exactamente como me senti quando no dia 21 de Abril, ao sintonizar na TV Globo, vejo um programa totalmente dedicado à kizomba. Fiquei entusiamada, entretanto, não demorou muito para perceber que dançavam tudo, menos kizomba. Fiquei à espera de um retrocesso que não chegou, mas os dançarinos foram amplamente elogiados pelos excelentes jurados, grandes nomes da dança brasileira.

A emissora do país sul-americano errou? Os produtores erraram? A meu ver, não. Várias vezes o apresentador Luciano Huck repetia, “kizomba, dança de Angola”, e sim, é, sobretudo agora com o reconhecimento como Património Imaterial Cultural angolano.

Muito mais que falar de erros e acertos, gosto de avaliar oportunidades. Não foi a única vez que vi o nome “Angola” ser citado positivamente na emissora. O programa do Luciano Huck, só para citar, frequentemente lidera a audiência na televisão brasileira. Considerando que o Brasil possui 215,3 milhões de habitantes, estamos a falar de uma publicidade para Angola com impacto altamente significante.

Aqui, temos uma porta relevante aberta, sobretudo em tempos em que falamos sobre a necessidade de alavancar o Turismo nacional. Recordo que no acto de tomada de posse do Ministro do Turismo, Márcio Daniel, no início do passado mês de Março, após divisão do Ministério, o agora Ministro da Cultura, Filipe Zau, falou sobre o facto de que ambos ministérios inevitavelmente continuariam a trabalhar juntos.

E este é  um desses momentos. A Cultura, fortalecendo o já existente Festival Nacional de Semba e Kizomba, e o Turismo promovendo internacionalmente, como um bom excelente motivo para visitar o país. 

A oportunidade temos, agora é aproveitarmos todos os canais disponíveis para massificarmos a divulgação da kizomba, com uma estratégia muito bem planeada. Não é só fazer, é ter muito bem definido o que se almeja com um Plano de Comunicação para Promoção Internacional dos Ritmos Nacionais e um Plano de Acções de Comunicação para executar a estratégia.

Para citar algumas acções e aqui não estamos a falar de custos enormes, pois podemos aproveitar o que já temos. Tudo já existe. Temos equipamentos para filmagem, excelentes profissionais, e temos a linda Baía de Luanda, e não só. Temos pontos turísticos em todo país que podem ser utilizados como pano de fundo para as danças. Aqui é estratégia e acção.

Outra possibilidade, seria criar uma rede de Embaixadores do Semba e Kizomba, angolanos que já se encontram na diáspora e, por sinal, dançam muito bem, que podem alimentar esses canais com conteúdo, mostrando o avanço e divulgação desses ritmos pelo mundo. Em redes como Tik Tok, Instagram, YouTube, por exemplo, tais conteúdos viralizariam facilmente. 

Ao longo dos anos aprendi algo: há portas que se abrem uma única vez em nossas vidas. Espero que possamos aproveitar ao máximo esta, para mostrarmos efectivamente ao mundo a riqueza das culturas angolanas, que venho vivenciando nesses últimos treze anos que muito bem tenho sido acolhida nesse rico país. 

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